08/02/10

Ana Moura no Cae da Figueira da Foz, por Marceneiro

No sábado passado fui ver a Ana Moura ao Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz. Pois, da Figueira da Foz... Não tenho nada contra - pelo contrário - a oferta de espectáculos de qualidade no CAE da Figueira. Quantos mais melhor!

Mas não consigo perceber porque é que a Ana Moura, a excelente Ana Moura, dá um concerto na Figueira e Coimbra fica de fora. Não é só de agora: há muitos anos que Coimbra, a «cidade da cultura e do conhecimento» (deve ser ironia), fica fora dos roteiros de espectáculos deste país. Tá bem, falam-me dos U2 ou dos Stones, mas isso é a excepção. E acho que seria mais positivo para a cidade se se apostasse numa certa regularidade em espectáculos de qualidade, do que trazer uma vez de 5 em 5 anos uma grande banda. Preferia que o hábito da fruição cultural fosse uma possibilidade real na minha cidade e não é. Pena...

Bom, como estava a dizer, lá fui à Figueira ver a Ana Moura. O concerto foi bom, descontando o escasso tempo da sua duração. A Ana começou a cantar já o Benfica jogava em Setúbal e acabou ainda o Cardoso não tinha falhado aquele maldito penalti. É pouco tempo.

De resto a fadista confirmou tudo o que eu já aqui escrevi acerca dela (uns posts mais abaixo, s.f.f.). É uma super star de uma beleza estrondosa, tem uma voz invulgar e uma presença arrasadora. O espectáculo está muito bem pensado, também do ponto de vista cénico. A entrada da Moura, de vestido preto e xaile sobre os ombros é majestosa, os gestos e as poses são cuidados e, acima de tudo, ela tem a qualidade vocal e a alma das grandes intérpretes. Mais uma vez, o espírito de Amália esteve presente, embora Ana Moura faça lembrar mais uma outra fadista, Teresa de Noronha, pela sua pose aristocrática. De facto, ao ouvir Ana Moura quase me esqueço de um certo lado folclórico e popularucho do fado: aquilo é ascético, nobre, espiritual. No fim ela temperou esse cunho mais aristocrático com a interpretação de um malhão que fez as delícias do povo ancião presente. E que bem que ficou à Ana a frase: «gosto de malhões!»...

Uma nota final: embora ela seja, efectivamente, uma grande artista, parece-me que o reportório que apresenta, não sendo mau, não está à sua altura. É ela que transcende aquelas canções, não as canções que a levam mais longe, de um modo geral. Falta-lhe, parece-me, descobrir o seu Alain Oulman (o homem que redimensionou a música da Amália). Acho que uma cantora com a dimensão da Ana não pode andar a catar canções do Tó Zé Brito e do Jorge Fernando. Acredito que no dia em que ela encontrar o «seu» compositor a música dela vai atingir um nível ainda mais estratosférico. Mas até lá o que podemos ouvir/ver já é de outra galáxia!

2 comentários:

Anónimo disse...

E eu até acho que em todo aquele espaço do estádio e arredores tinha dado para fazer uma boa sala de espectáculos. E no meio da dinheirama toda que por lá se gastou nem se ia notar nada.

Anónimo disse...

esta Ana Moura parece-me muito bem, até porque a Amália está um bocadito para o mortiça...

Molelos