11/01/11

Who Killed Bambi?, por Kalar

Este fim de semana percebi finalmente o encanto de ser caçador. Um caçador é um ser que sempre me intrigou. Acho esquisita a motivação que leva milhares de adultos supostamente normais a percorrerem os campos e montes deste país, à chuva, ao vento e ao frio, acompanhados de cães nervosos e barulhentos e armados de espingardas , a dispararem sobre tudo o que mexe, inclusivamente, sobre outros caçadores. Dizem-me que é por instinto ecológico, mas eu continuo sem perceber porque é que o prazer do contacto com a natureza exige que se vazem cartucheiras inteiras em cima dos pobres animais. E também nunca percebi o misterioso encanto que é levantarem-se às quatro da manhã para partirem ao encontro da natureza pura. Mas enfim, cada maluco com a sua mania e eu também tenho as minhas.

Mas este fim de semana compreendi, finalmente, a alegria que há na nobre arte de ser caçador. Encontrava-me num hotel do interior do país. Estava no hall, quando me chamam a atenção para um típico caçador, acabado de chegar, equipado com as suas típicas calças verde-militar, chapéu e galochas e espingarda devidamente embrulhada no estojo. O caçador dirigiu-se à recepção do hotel e pediu um quarto duplo com uma cama extra. Entretanto, do jipe do caçador, saíram duas lebres, duas perdizes, dois estorninhos, dois javalis? Não! Nada mais nada menos que duas brasileiras monumentais a cantarem e a dançarem o Mila do Netinho ou coisa que as valha. Ena, pensei eu...
Mais à noite o mesmo caçador, desta vez trajado à civil, todo muito bem posto com uma imponente gravata, fatinho e sobretudo, desceu do seu quarto duplo com cama extra, logo seguido das duas brasileiras postas num saltos muito altos e de decotes a arfar e lá foram todos à sua vida.

E depois dizem que não há caça... Assim sim, que isto é caça e da grossa. Não é como aqueles tristes que passam o sábado e o domingo aos tiros nos bichos e depois chegam a casa com um mísero estorninho no bornal. Parece que estou a ver este caçador como deve ser a explicar à patroa que ia à caça este fim de semana com os amigos. E foi: apanhou duas brasileiras de bom porte, engaiolou-as no quarto duplo com cama extra e tudo isto sem disparar um único tiro. É obra! Imagino-o o chegar a casa no domingo à noite a explicar à patroa que a caça anda mal, que há graves problemas ecológicos e que já não se mata nada, ainda por cima isto é um sofrimento com a chuva, o frio e a lama, nem sei porque é que continuo a caçar, é um vício do caraças, prontos... E a mulher a acenar com a cabeça que, tal como eu, também não percebe os caçadores.

Ao fim da noite, depois do jantar, vi chegar mais um caçador ao hotel com a sua espingarda devidamente embrulhada. Este vinha derreado do esforço da jornada e estava acompanhado pela patroa, uma senhora de aspecto indomável, com os seus, vá lá, 100 kilos de presença e bigode. Parece que, para este, a caça não tá mesmo a dar. Azar! O colega de à bocado teve mais sorte, apanhou duas lebres, a caça é assim, depende da sorte e do talento de cada caçador.

1 comentário:

Anónimo disse...

muito boa posta. quando se pensa que vai sair ode à caça, eis que saltam duas lebres. bem esgalhado.


experimentador