14/05/12

Atira-te ao Mar!, por Xávego

Ontem fui à praia. Aproveitei para ver a tão «genuína» arte xávega, agora na sua versão industrial com tractores em vez de carros de bois e com barcos decorados com emblemas do fcp e imagens de gajas boas na proa em vez de santinhas (suponho que em caso de mar bravo os pescadores agora chamem rezem ao Hulk e não às santas da devoção dos avós).

Confesso que me sinto um pouco dividido com aquele espectáculo porque se por um lado gosto da fauna animada dos pescadores, por outro, fico um bocado impressionado com a chacina de tanto peixe. Mas ontem este segundo sentimento venceu largamente o primeiro.

Acontece que nas redes dos pescadores vem sempre uma percentagem brutal de cavala nomeadamente da espécie «parda». São cardumes e cardumes de cavalas que os pescadores depois separam pacientemente dos biqueirões, das sardinhas e dos escassos chocos, robalos ou douradas que por lá caem. No fim enchem-se dezenas e dezenas de caixas de cavala que os homens do mar tentam vender aos curiosos a 5 euros a unidade. Há quem compre. Mas a maior parte da cavala fica por ali. Fiquei pasmado com o que se passou a seguir.

Após a debandada geral dos curiosos, os pescadores pegaram nas caixas de cavala e zás, toca a atirá-las ao mar. Cardumes e cardumes de cavalas que servem de pasto às milhares de gaivotas que fazem um verdadeiro festim com os restos das cavalas. Como é que é possível um tal desperdício? É que aquilo mete dó, quer pela chacina inútil dos peixes quer pelo esbanjamento. Houve um pescador que me explicou porque razão atiravam as cavalas às gaivotas e mais valia eu não saber...

Segundo o homem a UE define a quota de pescado a que portugal tem direito. Como a cavala - principalmente a parda - é uma espécie ameaçada de extinção as quotas de pesca são logo atingidas. E, como tal, nesta altura a cavala já não pode ser comercializada. Mas as redes não sabem nada sobre imposições da UE e continuam a apanhar cavala e  mais cavala. Daí que chegadas à praia, das duas uma: ou  são vendidas à caixa sem passar pela lota ou voltam para o mar. É o que acontece à maior parte. Isto é uma verdadeira dor de alma, segundo qualquer ponto de vista.

Resta ainda uma terceira opção para o peixe que a UE não deixa vender mas que deixa desperdiçar: às vezes os pescadores levam o peixe para casa e usam-no para estrumar a terra. Assim nem as gaivotas se ficam a rir... Portugal não existe!

3 comentários:

Anónimo disse...

qual cavala parda ? sarda, caralho, cavala e sarda.

fónix

Anónimo disse...

seu burro, a cavala parda existia mas foi extinta naquele dia em que o xávego foi à praia de mira. era rival da sarda. a última estava num daqueles cabazes. Comi eu muita parda de caldeirada, méne, bem boa. não há mais, pronto. cabrões, acabaram com a parda.

cuco & milheirão

Anónimo disse...

Segundo o Grande Diccionário das Cavalas (Sardo e Pardo, 1877) a cavala parda é uma mutação genética da cavala-sarda. Tal mutação será devida, ainda segundo a mesma obra, à utilização cada vez mais frequente de intensificadores de sinal nas palhotas de mira. São coisas da tecnologi.... heheheheh