23/04/07

Afinal o Povo Cheira Mesmo a Ambiente?, por Luís XIV


Pieter BRUEGEL, o Velho
Casamento aldeão (Boda de camponeses) c. 1568 óleo sobre madeira, 114 x 164cm Kunsthistorisches Museum, Viena, Austria.

Neste quadro, Bruegel retrata uma festa de camponeses que celebram um casamento. O olhar de Bruegel sobre os aldeões é particularmente cruel. Ele trata-os como brutos e desmiolados. Repare-se no ar bovino da noiva de bochechas rosadas, ao centro. O noivo, por sua vez, tem o nariz vermelho e a sua grande preocupação é levar uma colherada à boca. São ambos assim pó gorducho e estão afastados um do outro, a boda é festa da aldeia isso é que importa.
À entrada do celeiro (?) onde decorre a boda as pessoas parecem amontoar-se para poderem entrar. Atropelam-se, mesmo, umas às outras! Dá a impressão que a fome é muita. E, no primeiro plano, há um rapazito patusco com um chapéu enorme enfiado na cabeça a lamber os dedos. Há uma cabra a espreitar por debaixo da mesa, enfim, tudo aqui é burlesco.

O olhar de Bruegel não é ternurento, é distante, irónico e gozão. Mas, apesar de tudo sente-se aqui uma alegria pura, uma naturalidade que cativa. Eu não gostaria de estar numa festa daquelas, mas acho piada áquela alegria, vista de fora. Olha-se para este quadro com uma vaga nostalgia da pureza perdida. Talvez seja por isso que eu gosto de Bruegel. Mas há outras visões do bom povo, quase opostas a esta. Como é o caso do Angelus de Millet…

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