09/02/09

Com a Devida Vénia, por Citador

Com a devida vénia, aí vai o excelente artigo de Mário Crespo, saído hoje no DN. É um bom diagnóstico da situação em que vivemos. Condidero-o incompleto, mesmo assim, já que Crespo nem sequer menciona as deploráveis políticas deste governo para a saúde (fecho de centros de saúde e hospitais, maternidades-ambulâncias, etc, etc), nem para a educação (das trapalhadas dos exames de física repetidos, das ilegalidades e abusos cometidos contra os professores, da política de falseamento de resultados escolares, do trabalho para as estatísticas, da morte de disciplinas capitais, etc, etc), da Justiça ou do Ambiente (o pins, a co-incineração, o fripor)... Mas nem é preciso. O que aí vai, dito lapidarmente pelo Mário Crespo, chega e sobra para termos a noção preciso do estado deprimente a que chegou a democracia em Portugal. Parece que é um artigo sobre governo. Mas não é. É sobre os Portugueses e a sua deplorável imaturidade cívica e democrática. Pois um povo que consente nisto tudo e que, ainda por cima, apoia, não é um povo, mas um capacho submisso.
Está bem... façamos de conta

Por Mário Crespo
(in "Jornal de Notícias" de hoje)

Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.

Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ai Crespo, Crespo, estás aqui estás despedido como o atrasado do Socolari.

Anónimo disse...

Estive a ler o blog do Eduardo Pitta e eis que, súbito, numa pittada literata, sibila-se o plágio plangente do poeta Reinaldo Ferreira no final da prosa do Mário Crespo. Atão e a "véniazinha" parentético-citacional do genuflexório crítico, ó Mário!. Olha que o Eduardo é acólito, acolita e é homem de duros acometimentos críticos nas páginas do "Público" (e não só!)!
Já estás fodido, ó Mário! Sis estás!


«[...]
Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
[...]»

Reinaldo Ferreira

Fernando Antolin disse...

O que os meus amigos se calhar ainda não viram foi o rosnar alucinado da cãzoada,em blogs como o jugular e outros,se o teclar matasse,o MCrespo servia de passador,a F.Câncio então perdeu as estribeiras...enfim parece que lhes dói!!

Anónimo disse...

é pá, porreiro, pá, este novo país descoberto pelo encrespado mário é porreiro, pá. bamos todos pra lá. o último apaga a luz deste aqui que a conta da edp é a doer.

ass: CidadãoNº1daRepúblicaDoFazDeConta

Anónimo disse...

por acaso, caro Fernando A., tive curisosidade e fui ver ao tal blog o que a dona câncio disse do crespo. Fala em imparcialidade e jornalismo e não sei quê? Mas ela enxerca-se? Como pode uma namorado do pinócrates vir falar em imparcialidade a propósito do mais que tudo assumido? Ela pode ter a imparcialidade que exige ao crespo?
Isto merece post. é aguardar...
Boneco

Anónimo disse...

fernanda cancio?! quem és criatura? quem presta os seus serviços da forma que o fazes assemelha-se a alguns serviços mais prosaicos, com mais trabalho, e menos bem pagos...pelos mapas deste país

Iletrado