Abóboras-Meninas, por Britannicus, in Groinks do Tapornumporco:
>Deixai-me agora falar do fruto que me fascina. Nada menos nada mais do que da abóbora-menina.
Quem, na estiagem, nunca comeu uma abóbora-menina perlada de orvalho, varada ainda pelo frescor do madrugar, não sabe o que é subtrair toda a sensualidade que ao peso da fruta se pode subtrair!
Ia o rapazio para o campo esbandeirar o milho e, entrementes, quando o estio fazia rechinar a bandeira, escafediamo-nos à sorrelfa pelo milheiral adentro. Encontrávamos uma abóbora-menina incauta, abríamos o canivete capa-grilos,fazíamos um incisura circular na carnação laranja e zás… varávamos a tumidez da fruta.Era um ver se te avias a aboborar a laustríbia! Tirado o cabaço à abóbora-menina e gozado a fresquidão da curcubitácia, repunhamo-lo por fim com desvelo digital de cirurgião estético a reconstituir hímens e íamos à nossa vida
Nunca nenhum ecologista, poeta bucolista, neo-rural ou místico franciscano sentiu tanto amor unitivo, estético e extático pela natureza. Ainda hoje tenho visões com abóboras-meninas mas, descobri no domingo a ler um cartapácio de botânica, é só porque elas têm licopeno que é um elemento essencial à visão, e eu, rapaziada, comi muita, muita…
Melancias, por Cormac McCarthy, em Suttree:
>“Ajoelhou-se na terra fértil e fumegante, o cheiro avinhado das melancias rebentadas a invadir-lhes as narinas. Aproximou-se sorrateiramente dos frutos ali esparramados, a mão a afagar as formas quentes e maduras, o canivete aberto. Ergueu um do chão, fazendo surgir um ventre em tons pálidos de jade. Puxou-o para si entalando-o entre os joelhos, e enterrou a lâmina da navalha no extremo inferior. Soltou as alças das jardineiras. As pernas alvacentas a ajoelharem- se numa poça de ganga.”
(…)
“Dois pares de chancas percorreram as fiadas de melancias.
Não vais acreditar nisto.
Sabendo o mentiroso nato que tu és, é bem provável que não.
Alguém anda-me a foder as melancias.
O quê?
Eu disse que alguém anda a ….
Não. Não. Não, raios partam. Diabos te levem se não tens uma mente retorcida.
‘Tou – te a dizer…
Não quero ouvir mais nada.
Olha aqui.
E aqui.
Percorreram a fiada exterior do melancial. Ele parou para tocar numa das melancias com a biqueira do sapato. Vespas zumbiram, iradas, em volta dos sucos que embebiam a terra. Alguns frutos já estavam destruídos há bastante tempo e jaziam amolecidos pela podridão, engelhados pelo colapso que não tardaria.
Tem mesmo ar disso, não tem?
‘Tou-te a dizer que vi o fulano. Nem percebi que raio de história era esta quando ele baixou as ceroulas. Depois, quando viu o que ele ‘tava a fazer, continuei a não acreditar nos meus olhos. Mas cá ‘tão elas, e não mentem.
O qué que tencionas fazer?
Raios, não sei. È demasiado tarde para fazer seja o que for, a bem dizer.
O tipo fornicou-me as melancias todas, ou quase. Não percebo porqué que não se agarrou só a uma. Ou a umas poucochinhas.
Bom, se calhar o tipo acha-se um pinga-amor. Assim a modos que um marujo numa casa de passe.”
(…)
“A roubar melancias, hem? Disse Suttree.
Harrogate sorriu, embaraçado. Tentaram-me acusar de besta, besta…
Bestialidade?
Pois, só que o meu advogado disse a eles que uma melancia não era bicho nenhum. O filho da mãe era bem esperto.”
8 comentários:
e a abóbora, menina ou não, é de facto um fruto.
Correktor da Horta
Mas então o Britt andou pela américa profunda do McCarthy?
Atão estas alminhas não sabem que a abóbora cabaça, a abóbora carneira, a abóbora chila, a abóbora menina e a abóbora porqueira são frutos?! Lá que vocês não os comam, ainda vá que não vá ( experimentem a porqueira!), mas foda-se!, não viam o TV Rural do Sousa Veloso. O programa andou um ror de anos no prime time, caralho! A minha apetência frugívora vem daí.
Ainda um dia destes estava a malhar uma ratatouille com o meu velhote e veio à colação uma soberana ameixoeira colhão-de-galo que existe num cômoro lá na quinta. Apostei a garrafa seguinte em como ninguèm na freguesia sabia reconhecer uma colhão-de-galo! E não há, caralho! Quantos é que já viram um colhão de galo? Quantos é que já comeram dois, acolitados com ervilhas e batatinha nova? Ai o TV Rural faz tanta falta!
A ameixa colhão-de-galo é uma fruta deliciosa. Roxo escuro, alongada e muito sumarenta. Raramente se encontra à venda. Deve estar em vias de extinção. Como o Tapor... Requiesce in pace.
Ameixoeira
E não me venham dizer que nunca comeram rabo de ovelha - uma beleza de gavinhas frágeis, entrenó mediano, boa de poda e fertilidade.
aqui na parvónia a colhão de galo é colhão de burro. bem boas. vermelho acastanhado, grandes e sobre o comprido, deliciosas.
mitra
melhores que as rabo de ovelha são as cagadinho das moscas. autêntico mel.
mitra
isto com Pepinos e Chuchus também dá. O Chuchu mais carnudo e quietinho, o Pepino mais irrequieto e acídulado. Depende das alturas. Há alturas de Chuchu e alturas de Pepino.
Já a Beringela não se presta tanto ao estrago. Esfarela-se muito e um gajo fica aguado.
Varrasco Demoníaco
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