Coimbra é uma pequena cidade de província onde, às vezes, muito raramente, acontecem coisas extraordinárias. Infelizmente praticamente ninguém dá por nada. O que de bom acontece nunca é devidamente publicitado e assim se vai instalando a habitual sensação da modorra conimbricense.
Uma das coisas espantosas que aconteceram a Coimbra foi a dádiva à cidade da imponente colecção de arte Telo Morais. Está instalada no edifício Chiado, na baixa, como colecção permanente desde 2001 e merece uma visita. Aliás merece bem mais que uma. Esta exposição contém uma importante colecção de pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, exemplares significativos de cerâmica, escultura chinesa, escultura e arte sacra, pratas e mobiliário.
Salienta-se, entre o espólio, a magnífica colecção de pintura, pela sua qualidade intrínseca e pela coerência cronológica e temática. Sabendo nós que o português médio culto pouco sabe de pintura portuguesa compreende-se a importância deste espólio. Estão ali pedaços de história da arte portuguesa e algumas peças soberbas que para mim - que sou um desses leigos - foram uma extraordinária surpresa. Malhoa, Keil, Carlos Reis, Guimarães e muitos outros que ignoro de memória, está lá tudo. Colecções como esta evitam o risco de extinção da memória pública que paira sobre muitos destes grandes pintores portugueses injustamente desconhecidos do público médio.
Mas perante a qualidade desta exposição impõem-se algumas questões: será o Chiado o melhor espaço para uma colecção deste nível? Não só esta, mas outras colecções dispersas por vários espaços na cidade já justificavam que se pensasse num centro cultural que as albergasse todas.
E, já agora, será que custava muito arranjar uns bons guias explicativos/descritivos da exposição? Existe o catálogo, é verdade, que parece até ter boa qualidade, mas 30 euros? Não há possibilidade de colocá-lo a preço mais acessível? Fazer uma edição mais modesta, sei lá... O que é certo é que a muita e rica informação/sensação com que dali saímos perde-se algures nas brumas da memória algum tempo depois. Telo Morais merecia, de facto, um pouco mais da parte de Coimbra...
Pic - “Praia do Tamariz – Estoril”, aguarela de Alfredo de Morais, pintada em 1943
3 comentários:
Eu já visitei o museu há anos, mas não me parece um bom exemplo de museu. É uma colecção particular de objectos valiosos, sem grande coerência, tipo museu de provincia. Quadros do Carlos Reis e do Malhoa e outros grandes vultos da pintura caseirinha, e uma data de chinesices avulsas, que valem um dinheirão. Não está em causa o valor de cada um dos objectos, ou do conjunto, mas não é exactamente um museu. É uma daquelas coisas mais própria de uma casa-museu, para mostrar as coisas que o propreitário foi acumulando e como ele era muito culto, com muito bom gosto, e muito rico.
O belissimo Edifício Chiado merecia outra sorte e ocupação. Aquilo dava um excelente centro cultural, com actividades culturais, debates, exposições periódicas, música, etc. Revitalizavasse aquela zona da cidade, que tanto precisa. Mas pronto, é aquilo que ali está.
Eu já visitei o museu há anos, mas não me parece um bom exemplo de museu. É uma colecção particular de objectos valiosos, sem grande coerência, tipo museu de provincia. Quadros do Carlos Reis e do Malhoa e outros grandes vultos da pintura caseirinha, e uma data de chinesices avulsas, que valem um dinheirão. Não está em causa o valor de cada um dos objectos, ou do conjunto, mas não é exactamente um museu. É uma daquelas coisas mais própria de uma casa-museu, para mostrar as coisas que o propreitário foi acumulando e como ele era muito culto, com muito bom gosto, e muito rico.
O belissimo Edifício Chiado merecia outra sorte e ocupação. Aquilo dava um excelente centro cultural, com actividades culturais, debates, exposições periódicas, música, etc. Revitalizavasse aquela zona da cidade, que tanto precisa. Mas pronto, é aquilo que ali está.
Ganda Tinoni! Bem vindo.
Não concordo contigo. Acho que é uma colecção criteriosa e coerente. O coleccionador seleccionou um período definido (séculos XIX e XX) e meia dúzia de estilos mais relevantes nesta fase. Depois dedicou-se aos portugueses e está lá, praticamente, tudo naquele âmbito (não há vanguardas mas, lá está, é o tal critério). O que se passa é que nós promovemos muito mal a nossa arte e aqueles autores, sendo As Referências são praticamente desconhecidos. Nota, também que a colecção tem um critério em «extensão» chamesmo-lhe assim. Ou seja, não há aprofundamento, não vês muitas obras de um só pintor, pelo contrário, mas em espectro largo tens lá os mais representativos. Este é, como sabes, um dos critérios possíveis para fazer uma boa colecção.
Finalmente, no que toca ao lado pessoal, aquilo bateu-me, efectivamente e vou lá voltar porque há ali quadros muito bons (outros nem por isso, mas é fatal, certo?). Acrescento ainda que tive o prazer e a sorte de ter visto aquilo com um gajo como o L. do cachecol de liceu à arafat e o mene percebe mesmo daquilo e foi capaz de me orientar o olhar. Estivemos l´´a mais de uma hora imagina.
Quanto ao resto da colecção - escultura, chineses, etc - eu gostei muito. Tens ali peças do século II a.c. absolutamente fantásticas... E viste a colecção de aves da Vista Alegre?
Van Gago
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