Que pena que eu tenho de não ser o Pedro Almodovar para poder filmar, como só ele sabe, a história que me contaram hoje e que reza assim, dois pontos:
passou-se na mítica povoação de Balhulhos de Baixo, freguesia de Cedofeita, com os seis irmãos Bacalhauzadas. Os Bacaulhauzadas são conhecidos em toda a aldeia por serem exímios matadores de porcos. Mas não andavam satisfeitos com a sua arte porque os desgraçados dos porcos esperneavam, grunhiam e resistiam, levando muito tempo a morrer, num cenário atroz. Até que o Manel Bacalhauzada, rapaz sempre atento a estas coisas do progresso, soube que nos matadouros modernos os bácoros são mortos através do disparo de uma agulha mortal e infalível a qual, uma vez disparada de uma pistola que lhes é encostada à cabeça, atinge o animal no sítio preciso. Parece que o bicho nem chega a saber o que lhe acontece e cai morto instantaneamente sem soltar um ai, sem esbracejar, sem sangrar e sem grunhir que nem um desalmado. E o Manel Bacalhauzada pôs-se a cismar...
Pensou o bom do Manel que, não tendo tal pistola star treck, podia, talvez, uma cavilha e uma marreta fazerem o mesmo efeito. E, como quem não tem cão caça com gato, à boa maneira portuguesa, assim resolveu improvisar. Num certo Domingo, pela manhã os seis irmão Bacalhauzadas foram-se a um porco e, enquanto cinco deles agarravam o infeliz, o Manel encostou a cavilha à cabeça do animal e zás, deu-lhe uma marretada na nuca. A expectativa era que o animal caísse de imediato, redondo e limpinho que nem uma pinha madura, como acontece aos do matadouro. Mas a coisa correu pró torto. O desgraçado bácoro não só não morreu, como grunhiu, esperneou e foi preciso mandar-lhe mais umas marretadas nuca abaixo. Foi então que o infeliz do porco se conseguiu soltar e largou a correr, Balhulhos fora, com uma cavilha espetada na nuca com a extremidade da mesma a sair-lhe pelo queixo. Uma espécie de rinoceronte, mas com o corno ao contrário, a sair-lhe por baixo e não por cima.
O animal terá feito um estrago desgraçado na vila: terá entrado missa adentro e dado umas cornadas nalguns incautos, até ser finalmente apanhado na Ribeira Milagrosa que com mais razão ficou para assim ser chamada pois que lá se achavam animais extraordinários como este infeliz porco-rinoceronte que o Pedro Almodovar, tenho a certeza, gostaria tanto de ter filmado. Se soubesse...
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