30/06/08

Os Espanhóis, por Manolo

Em homenagem à vitória da melhor equipa do Euro 2008, aqui se repesca o post antigo dwdicado à alma de nuestros hermanos. Arriba España, Campeones!
Quando passo a fronteira de Vilar Formoso sinto-me sempre como aqueles mexicanos que vão esquecer as tristezas na eufórica América. Talvez as eternas obras do IP5 contribuam para esse sentimento. É incrível: os anos passam e as obras estão na mesma. Raio de país especializado em estádios de futebol…

Os espanhóis não são como os portugueses. São excessivos onde nós somos moderados. São artísticos e criativos onde nós somos burocratas. São assertivos onde somos indecisos. Sã excêntricos onde somos concêntricos, divertidos onde somos convertidos.
Nós somos o povo que tem medo de parecer mal, somos a tribo que tem vergonha até da vergonha, que tem medo do medo, que não abre o coração. Um português nunca está bem, nem numa festa: estamos sempre a pensar na nossa preciosa figura, no que os outros possam pensar de nós, como se isso importasse muito, como se nós ou os que nos julgam fôssemos o centro do mundo. Nas festas portuguesas só se bebe até um certo ponto. Os portugueses não têm imaginação e não tiram as mãos dos bolsos… Os portugueses não falam, vigiam-se uns aos outros.

Os espanhóis falam alto nos cafés e aquilo não me parece um arraial, parece-me bem, parece-me vida. Comem tarde e muito e bebem ainda mais. Dormem siestas e fecham o comércio e reúnem-se em copas e tapas antes de jantarem à meia-noite. E, acima de tudo, abrem o coração e não têm vergonha disso. Se eu fosse espanhol era outro Mangas que é o gajo mais lamechas do Porco. E o Mangas, no fundo, é um espanhol, mas tímido porque é português porque senão fosse seria o D. Quixote de La Mancha. Ou o Sancho Pança…

Os espanhóis não nos saúdam com um aperto de mão, à maneira inglesa: pegam-nos na mão com as duas deles e apertam-na, à nossa, com muita força. Não se despedem com um calmo «adeus, até à próxima», mas abraçam-nos como se não quisessem despedir-se. Aliás eles nunca se despedem, até os desconhecidos dizem sempre «hasta luego».
E quando eles nos dizem que somos mais educados que eles, que ninguém se iluda: estão a mentir. Seguro! Eu acho que eles gozam com o nosso ar macilento, cadavérico, comprometido, de mal com a vida… Em Espanha não deve haver depressões, mas se as há devem ser as mais fortes do mundo, não podem ser como as nossas, depressõezinhas de merda, porque o gato está constipado ou porque o cão tem gazes ou porque nos dá prá angústia existencial... A Espanha é grande, enorme e Portugal é pequeno, minúsculo, é uma paróquia forrada de IPês merdosos e rotundas autárquicas que já deveriam ter atirado para a choça uns quantos autarcas sem gosto nem decência.

A primeira vez que levei o meu filho a Espanha, ele tinha 6 anos. Um dia, viajávamos algures por Castilla-la- Mancha, o puto exclamou, admirado com a imensidão da paisagem:
- De Espanha vê-se o mundo todo!
É o melhor slogan que alguma vez ouvi sobre Espanha! Sobre a imensidão dos seus horizontes, mas também pode ser sobre o seu cosmopolitismo, sobre a abertura de espírito dos seus habitantes, sobre o seu enorme coração e a sua excentricidade… Como isto foi dito por um pequeno português, talvez seja um sinal de que ainda temos esperança: não nesta geração bafienta ainda marcada pelas fronteiras que nos separaram, mas noutras que aí hão-de vir, como a do meu filho de 6 anos que, felizmente, têm a oportunidade de se admirarem tão cedo com o mundo todo que se vê de Espanha.

26/06/08

A Minha selecção do euro, por Gabriel Alves Zandinga

E prontos! Com a vitória de hoje da Espanha está encontrado o segundo finalista do Euro. Indiscutível a vitória espanhola sobre a equipa mais esquizofrénica que eu já vi - a Rússia que tanto é protagonista do melhor jogo de todo o Euro, o sensacional Rússia - 3/Holanda - 1, como do miserável Rússia - 1/Espanha - 4 da fase de grupos. Nesta altura dou por mim a fazer infindáveis exercícios sobre o melhor onze do euro e, apesar de ainda faltar a final que pode decidir algumas alterações, aí vai o meu onze. Tenho como critério a representatividade das várias selecções, pelo que em caso de dúvida, opto por um jogador de uma selecção menos representada de modo a ser mais abrangente.
Note-se que este é o onze dos jogadores que melhor estiveram no Euro e não a equipa dos melhores onze jogadores. É diferente. Só um exemplo: o Cronaldo é um dos melhres jogadores do mundo, mas não está na minha selecção do Euro. Nem o Fabregas que, jogando às pinguinhas, também foi batido, embora, quanto a mim, seja um dos melhores médios do mundo. O mesmo para o Torres, outro grande avançado prejudicado pelas opções bizarras do seleccionador espanhol, etc, etc, etc. Aí vai, pois, o meu onze do euro:

Guarda redes: Casilhas (Esp)
. Há dúvidas? Ainda hesitei entre ele e o Buffon, mas o jogo que opôs a Espanha à Itália foi decicivo.Bufon teve uma fífia que só por acaso não deu golo; Casilhas defendeu o remate á queima roupa do Camoranesi e ainda foi buscar, monomentalmente, dois penalties. Considero-o memso o melhor jogador do Euro, vamos lá ver se a final o confirma, e se o Real Madrid tivesse ido mais longe na Champions, ninguém, nem memso o Cronaldo, lhe tirava o títulode Best player of the World 2008.
Além do Buffon, o velho Van der Sar também esteve bem. O Ricardo foi, quanto a mim, o pior de todos os guarda redes, seguido de perto pelo Rustu da Turquia.


Defesa direito - Sérgio Ramos (Esp).
Tal como na baliza, no posto de defesa direito há coincidência entre o melhor do mundo na posição e o melhor do Euro. O jogo decisivo foi este de hoje com a Rússia. Ramos masssacrou o flanco esquerdo russo e nunca foi batido por Zhirkov. Ora era justamente por aqui que os russos podiam desiquilibrar. Ms lá está, quem tem um defesa direito como este...


Centrais - Pepe (Potugal) e Chiellini (Itália).
Acho que deviam fazer uma dupla do outro mundo. O italiano foi o melhor stopper do euro. Rápido, elástico, alto e com bons pés. Pepe, já se sabia, é um defesa faz-tudo e se fosse preciso jogava a ponta de lança. Não estou a ver avançado capaz de os bater fisicamente.
De qualquer modo não foi um grande Euro no que toca a centrais. O russo Kidolin que não jogou com a espanha por estar castigado foi a revelação. E também gostei dos dois centrais da Roménia, um deles a caminho do Manchester.

Lateral esquerdo - Zhirkov (Russsia). Já o conhecia do CSKA de quando os gajos deram uma malha no Sportem. É muito mais que um defesa esquerdo, no CSKA a té é médio e tudo. Pode jogar atrás do ponta de lança e é visto a fazer cortes dignos de um central no meio da área. Tecnicamente é do outro mundo. Mas atenção, muita atenção ao alemão Lahm. Também é um grande jogador, foi decisivo contra a Turquia (que golo!!!) onde passou de besta a bestial num ápice e vai jogar a final. Pode ainda destronar Zirkhov e modificar esta lista. Ainda ha dúvidas.
Grosso (It)também esteve muito bem, tal como o Romeno Rat. Paulo ferreira foi o pior lateral esquerdo do Euro, um equívoco de primeira hora de Scolari perfeitamente óbvio para qualquer observador. O ferreria nem sequer é o melhor lateral esquerdo português: por mim adaptava o Miguel Veloso e ainda preferia o Caneira.

Trinco - Altintop (Turquia). A par com o Romeno Chivu que só não leva o lugar porque a Turquia foi mais longe e Altintop foi o seu melhor jogador. Tem uma visão de jogo fora de série, um futebol de regra e esquadro e alia a isso a garra turca que foi a maior qualidade da sua equipa. Se não fosse já do Bayern saía para um grande...
O espanhol Marcos Senna (carioca de gema) ainda tem, contudo, uma palvra a dizer. É uma peça fulcral no tabuleiro tático da esapnha porque dá consistência e físico a um meio campo muito tecnicista.

Medio direito - Modric (Croácia).
Apesar da sua equipa ter ficado pelo caminho, aquele a quem chamam o novo Cruijjf não engana. Ainda é um pouc intermitente nas suas intervenções, mas quando toca na bola faz coisas fantásticas. Em pouco espaço desencanta passes de morte que mais ninguém vê e com uma precisão cirúrgica. Mas tem que aparecer mais em jogo.
Schwinsteiger (Al) também esteve bem embora seja mais ala que interior direito e ainda tem uma palavra a dizer, tal como o catalão Iniesta que até aqui esteve num plano médio, mas que ainda pode arrancar uma grande jogatana na final. Qualidade ele tem-na.

Médio centro - Arshavin (Russia). Apesar do zero do jgo de hoje, ninguém lhe pode tirar o mérito de ter sido o melhor jogador do melhor jogo do Euro, com a Holanda. Nesse jogo fez a melhor exibição de todo o Euro e chegou a ser humilhante para os centrai Holandeses. Mas é um bom exemplo da esquizofrenia da sua selecção. Hoje foi completamente secado pelo tridente defensivo espanhol Sena - Marchena - Puyol. Resultado: a Rússia não jogou.
Também gostei muito de Fabregas, para mim, o melhor nesta posição, mas o homem, vá-se lá saber porquê, não joga de princípio de modos que opto pelo Russo... Ballack (Al) num estilo completamente diferente mas tremendamente eficaz também esteve muito bem e ainda tem uma palavra a dizer na final. Deco, o melhor português, também esteve muito bem, mas ficámos pelo caminho... E, claro, Pirlo (It), continua a ser deslumbrante. Com ele em campo contra a Espanha, talvez a história deste Euro não fosse a mesma.


Médio esquerdo - Sjneider (Hol).
A Holanda foi uma das melhores selecções e Sjneider o seu melhor jogador. Uma selecção sem um Holandês era branquear o melhor futebol de todo o campeonato. E Sjneider foi o motor da equipa. Tem que figurar neste meio campo, senão a médio esquerdo noutra posição qualquer, até porque é um médio que faz todos os lugares do centro do campo. Grande capacidade de remate e um ritmo de jogo altíssimo.

Avançados - Ibraimovic (Sue) e Villa (Esp).
Ok, eu sei que a Suécia ficou logo pelo caminho e que é uma equipa perfeitamente mediana. Mas que culpa tem o Ibraimovic disso? É o melhor ponta de lança do euro, marcou o melhor golo da competição, uma obra prima, e andou com a equipa às costas, apesar de lesionado. Foi número 9 e número 10, às vezes chegou a ser extremo esquerdo e ainda aparecia a concluir. Não é justo que seja penalizado pela qualidade da sua fraca equipa. Tecnicamente é o melhor ponta de lança do mundo. É um sobredotado, na Holanda chegaria ao nível do grande Van Basten.
Quanto ao Villa está muito longe do Ibraim, até do van Nistelroy (Hol) mas é o melhor marcador até ao momento e fez um bom euro. Não estou muito seguro que mantenha o lugar até porque na final estão alguns candidatos que ainda o podem destronar: Klose,um ponta de lança que joga na área como se estivesse no meio campo, como se não estivesse na zona mais super povoada do terreno. Klose ainda tem ua palavra a dizer, é um jogadro fino. E aida há Podolski que surpreendeu tudo e todos, embora não actue bem nesta posição, parte mais da esquerda.
Também gostei do romeno Mutu (foi pena o penálti defendido por Buffon), do Francês Benzema, sem dúvida o ponta de lança do futuro (se eu fosse o Abramovic ele já estava no Chelsea), do Van Nistelroy (Hol), do Russo Pavliuchenco (que, atenção, é suplente de Progbniac, lesionado!!!) e de Luca Toni (It) que teve lutar sozinho, isolado na área adversária devido ao ultramontanismo tático de Donadoni, o típico treinador italiano.


Quanto ao melhor treinador da competição, quanto a mim foi o turco Fatih Terim. Pelo futebol corajoso que apresentou e pela motivação exibida pelos seus jogadores. A Turquia jogou bem. apear de ser uma equipa inferior à Croácia e à República Checa não se limitou a defender e foi de uma coragem extrema. mesmo quando apresentou as reservas contra a Alemanha, terim apresentou uma equipa bem organizada. Além disso fi um senhor nas suas declarações, um exemplo de desportivismo e fair play. Como éque o Rui Costa não o trouxe para o Glorioso?
Gus Hiddink foi uma confirmação, depois das excelentes Australia e Coreia dos mundiais anteriores.Dos dois treinadores finalistas prefiro o metódico J. Low. O Aragonês é um marreta com sorte. Tem excelentes jogadores e é o que lhe vale, mas não se entende como é que Guti e Raul não têm lugar nos seus convcados, nem como é que Fabregas não é titular, nem o sacrifício perpétuo de Fernando Torres. Para o modelo de jogo técnico e de posse de bola que implementou, qualquer um destes entrava muito bem.
O pior técnico foi, sem dúvida, o batatoon do Euro, o francês-místico-Domenech - um fiasco completo que nem sequer soube assumir a derrota, mandando para canto na hora do regresso a casa. Quando até zidane vem reclamar a sua saída, tá tudo dito.

E pronto, depos da final, volto aqui. é provável que alguma coisa mude. Até lá temos na selecção do Porco: 3 espanhóis, 2 russos, 1 português, 1 italiano, 1 turco, 1 holandês, 1 croata e 1 sueco. Mas a Alemanha tem alguns jogadres a calha e ainda lhe falta a final, pelo que a coisa pode mudar. A ver vamos, como diz o outro...

23/06/08

O Gordo, por Roque Lobster

N´O Gordo, nome não oficial do restaurante onde costumo almoçar em semanal exercício de masoquismo gastronómico, as surpresas estão sempre a acontecer. A última foi estonteante. Normalmente pago 6.50$ por uma refeição composta de sopa, água, prato de carne ou peixe, «uma saladinha» e «um cafezinho» que é o preço que o Gordo faz aos clientes habituais como eu. Mas um dia destes em que eu esperava que o robalo acabasse de grelhar, chega a empregada ao pé de mim e mata-me com esta:
- O sr desculpe mas o patrão manda dizer que hoje é um euro mais caro. É que o peixe é fresco...
E eu fiquei sem fala sem saber o que mais admirar na distinta lata do Gordo: se o facto de não ter dado a cara para anunciar a má nova mas mandar a desgraçada da rapariga por ele (deve ser este o significado da expressão «criada para todo o serviço»); se a confissão implícita de que o peixe que ele anda a servir nos outros dias não é fresco; se a coragem de aumentar assim um euro por uma coisa que devia estar suposta, isto é, a frescura do peixe.
Seja como for não chorei o euro que gastei a mais pelo peixe fresco. Pelo menos livrei-me dele durante uns tempos. Durante cerca de um mês, o Gordo não voltou à minha mesa para perguntar, como é hábito, «se o almocinho tá mais ou menos». Acho que ele ficou com medo de que eu exigisse que ele me tirasse um euro aos «6.50$ pra cliene habitual» de cada vez que me apresenta um produto menos fresco.

22/06/08

“Maria, Apetece-me Algo” ou “O Génio”, por Trê Jóli

“Maria Kodama riu-se com as perguntas de Saramago sobre a vida dela com Borges”. Era assim que o suplemento P2 do jornal Público de hoje anunciava uma reportagem de duas páginas sobre um qualquer evento em que participaram a viúva de Jorge Luís Borges e o escritor português, que estaria ali na qualidade especial de entrevistador. O título da reportagem era: “Kodama entre o génio de Borges e as perguntas geniais de Saramago”.

A ex-senhora Borges ficou, desta forma, esmagada entre dois monstros sagrados, um aparentemente morto e outro aparentemente vivo.

E de que forma sobrou o grandioso génio de Saramago para a extasiada plateia e a deslumbrada jornalista do Público? Sobretudo com perguntas como: “Como é que Borges dizia que te queria? Explica-nos, explica-nos!”... A convidada, aparentemente, divertiu-se muito com o interesse de Saramago acerca da vida íntima do casal. E a jornalista achou que as perguntas de Saramago eram o supra-sumo da genialidade.

É óbvio que a senhora ex-Borges, além da cortesia do riso, replicou com um labirinto, à moda do defunto marido. Mas é de reter a curiosidade lúbrica do velho escritor. De facto, não deixa de ser uma dúvida inquietante: Como é que um Borges daquela envergadura pedia à esposa para lhe fazer um broche, por exemplo? Escrevia uma quadra? Improvisava uma frase enigmática a rimar com chupa-chupa? Não dizia nada e abria a braguilha, como os bebés que abrem a boca a pedir papa? Labirinto…

Ficamos, elás, sem saber como se comporta um génio literário nestas circunstâncias domésticas, porque a ex-esposa deve achar (com razão) que mais ninguém tem nada a ver com esse assunto. Mas Portugal ganhou um comunicador. Daqueles que chegam ao receptor com simplicidade e que fazem as perguntas que os simples querem ver respondidas.

21/06/08

Inxames, por E o burro sou eu?!

Estamos na época dos exames. Numa época em que os exames são encarados de uma forma administrativa e burocrática.
Primeiro aumentou-se o tempo para cada exame (não, senhora ministra, não é um problema de tempo, mas de saber — ou da sua ausência).
Depois o menino inscreve-se (ainda sem saber se vai efectivamente fazer o dito). E, por vezes, vai lá para ver como é (não há problema porque tem mais possibilidades para o fazer). Contudo, de cada vez que o menino manifesta vontade de fazer um exame, temos: três professores a fazer o exame, dois vigilantes, dois suplentes e, claro, o secretariado de exames (mais ou menos sete professores). Portanto, é só fazer as contas…
Mas, enfim, o aluno decide fazer o exame!
Depois de toda a parafernália em movimento, temos o momento sublime do aluno na sala de aula, a fazer o seu merecido exame.
Chamada, revista para ver se o aluno não leva telemóveis, ipood, máquinas de calcular marginais, apetrechos que constam do índex… e, claro, se o aluno quiser levar uma garrafita de água, tem de ser sem rótulo, pois pode lá escrever a fórmula do etanol ou os números do euro milhões!
Eis-nos, mesmo, na sala: os vigilantes fazem todo o trabalho burocrático, ensinando o aluno a preencher toda a papelada e confirmando, e reconfirmando (não vá o aluno ser disléxico, incompetente, distraído, com alguma necessidade educativa enfim…)
Nesse tempo interminável que dura o exame, os vigilantes não podem ler, falar, fazer barulho ao andar, estar no mesmo sítio, usar minissaia (que perturbador), saltos altos (ai o barulho). Devem rodopiar silenciosamente pela sala, olhar permanente e atentamente os estudantes e, ao mesmo tempo, passar despercebidos, como se não existissem.
Ah, de vez em quando podem respirar. Mas baixinho.
E, assim, temos mais um contributo valioso e inestimável para o sucesso escolar que, sem estas avisadas medidas, estaria, evidentemente, em sério risco.

Especial Euro - O Astrólogo, por Gabriel Alves Zandinga

Ainda em maré de Euro 2008, não sei se repararam na faceta mística/ocultista do cómico treinador da França monsieur Raymond Domenech, de seu nome. Pois é verdade, parece que a personagem tem uma faceta professor Bambo que desconhecíamos. Quando interrogado pela imprensa do seu país acerca das razões que o levaram a excluir um avançado como o Trezeguet da Juventus, o bom do Domenech explicou:
- Não vou levar um nativo de escorpião para o Euro numa altura destas.
Voilá! É sabido que a astrologia, uma«ciência» pagã que os Romanos tanto cultivaram resistiu muito e sobreviveu às cinzas de muitas superstições medievais. Até os príncipes renascentistas, os Sforzas, os Orsinis e os mafiosos Bórgias, aguardavam pelo parecer positivo dos seus astrólogos antes de iniciarem as suas campanhas. E os grandes navegadores, portugueses e espanhóis, também consultavam as estrelas antes de aventurarem pelos mares desconhecidos e tenebrosos. Depois, e apesar de Newton, a astrologia ficou «demodée» e tornou-se crendice do passado. Até Domenech...
Parece, pois, que o tempo não está para escorpiões, mas ainda bem para o bom do Raymond que o Van Basten e o Maradona, dois signos escorpião, segundo li, não só já não jogam como não são franceses. Se não era difícil explicar ao povo como é que os deixaria de fora...

E agora que os gauleses foram eliminados e já voltaram para casa declarou Domenech:
- Razões para termos sido eliminados? A localização do hotel. O facto de se localizar num sítio muito fechado e de ter uma arquitectura a fazer lembrar uma fortaleza contribuiram para a nossa atitude fechada em campo.
Feng Shui ou lá perto... Estamos perante um Professor Bambo, sem dúvida, mas pós-moderno, globalizado, que concilia a astrologia antiga com os ancestrais saberes orientais, renovados pela via da Globalização.

E pergunto eu: mas nós não andamos à procura de um mister? E estamos à espera de quê? Pode não saber falar português, pode nem sequer perceber muito de futebol, mas lá que ficávamos com as forças cósmicas todas do nosso lado, isso é que ninguém pode duvidar. E vendo bem, depois do Oliveirinha que semeava alho pelo balneário da selecção pra dar sorte e do Scolari e das suas rezas à nossa senhora do caravaggio, até era um progresso.

20/06/08

Porque Perdemos, Senhor? Por Mãos de Tesoura

E a resposta é simples: porque tínhamos o Paulo Ferreiro a defesa esquerdo e o Ricardo Mãos de Manteiga a guarda redes, precisamente, onde eles têm o Lehman e o Lahm. No resto até somos melhores. Mas imaginem os alemães com o ricardo e o ferreiro e nós com o lehman e o lahm... Nem pergunto quem ganharia, só digo nós e por quantos quantos?

18/06/08

Todos ao Chiado!, por Adepto do Daniel

Atenção, muita atenção!

Lançamento de novo romance de Daniel Abrunheiro e Relançamento da Portugália Editora

24 de Junho de 2008 às 18h30 na Livraria Sá da Costa em Lisboa

– Rua Garrett 100 102| Chiado –


Confesso que não tenho lido nos últimos anos muita nova literatura portuguesa. Vou lendo sobretudo uns excertos, na net, em jornais ou revistas ou em visitas mais prolongadas às livrarias e não muito mais. Tive também uma recente experiência de cerca de ano e meio na gestão de uma livraria e muitas vezes, nas horas mais mortas, que eram bastantes, tentava entrar nos novos autores que lá arribavam. Raramente passava das primeiras páginas - esta experiência serviu, entre outras virtudes, para perceber a gigantesca avalanche de mediocridade que se publica todos os dias neste país...

Seja como for, também sou uma tentativa de escritor e tento andar atento às novidades, às entrevistas e às críticas.

Tenho andado entretido com outras leituras ("so many books, so little time"...), mas só para situar um pouco estilisticamente, também, não apreciei por aí além algumas incursões a novos valores como o José Luís Peixoto, e muito menos dos best-sellers Rodrigues dos Santos ou Sousa Tavares (este último, no entanto, melhor que o penúltimo. Mas pior que o primeiro). Gosto mais de Pedro Paixão, ou de Pedro Rosa Mendes, por exemplo, e nos menos novos prefiro o universo pessoal e criativo (e a escrita) do Lobo Antunes ao Saramago.

Dos que eu vou conhecendo, no entanto, há um novo escritor português que me cativa. É o Daniel Abrunheiro e também é por sermos amigos. Distantes, mas de longa data. A amizade, neste caso, conta apenas por ter sido a porta de entrada para a sua obra e para a sua escrita. Confesso que se não fosse um amigo provavelmente não me teria dado ao trabalho de conhecer mais e melhor. Teria perdido uma pérola. Mas o facto é que nunca fomos amigos chegados, daqueles com quem se troca confidências ou meras conversas de café. Geografias, afectos, obrigações e outras determinantes da vida afastaram-nos de um contacto mais chegado. Conheço-lhe a intimidade sobretudo pela escrita, dos livros, da poesia, dos blogues, dos jornais.

A circunstância de ser um amigo, como tal, não me torna mais parcial o julgamento em relação à criação. E o que eu acho é que é uma leitura cativante, enriquecedora e, principalmente, um universo literário, uma poética, original, que é das coisas mais raras e preciosas de se encontrar num escritor.

É uso e costume nestas coisas traçar paralelos e esmiuçar referências. Na criação literária do Daniel, por exemplo - além de nomes entretanto esquecidos como Altino do Tojal ou algum do "realismo mágico" português encarnado em certa escrita de Gomes Ferreira, por exemplo - leio Lobo Antunes nas entrelinhas. Sobretudo o fabuloso Lobo Antunes das crónicas. Pelo domínio das palavras, uma escrita rica, livre e criativa que ganha uma vida muito original nas páginas dos dois autores, mas acima de tudo pela paixão das pequenas coisas e gestos, pelo olhar compassivo sobre as pessoas reais e quotidianas, pela atenção dedicada à espuma dos dias, à vanguarda da vida onde tudo se esgota em turbilhão num momento.

Os budistas creio que acreditam que esse momento em que coisas acontecem, essa espuma fugaz dos dias, o pequeno gesto, é na verdade a essência da vida e da realidade, e que tudo o resto, passado e presente, é construção da nossa mente. E escritores de quotidianos como Daniel Abrunheiro ou Lobo Antunes navegam em águas profundas mas estão lá, na crista, atentos e respeitosos ao gesto e ao momento, atentos ao que passa e é mais importante, atentos e sensíveis às emoções e aos dias dos outros. É essa, em meu entender, a essencialidade e a importância da sua obra.

O Daniel Abrunheiro vem agora ao caso porque vai lançar um novo livro. E ainda por cima um romance, obra de fôlego que o autor vai parir em Lisboa depois dos livros de curtas e da poesia digital (talvez a faceta literária mais exaltante do amigo autor, digo-o eu que infelizmente nem sou muito dedicado à poesia). É e vai ser assim, segundo Abrunheiro no seu blog:

«Sob a égide do Grupo Editorial e Livreiro da Fundação Agostinho Fernandes, renasce publicamente em Lisboa, no próximo dia 24 de Junho (às 18h30, na Livraria Sá da Costa em Lisboa, na Rua Garrett 100-102, ao Chiado), a Portugália Editora. À Portugália, surgem associados dois outros nomes de importância maior no panorama da edição em língua portuguesa: Livraria Sá da Costa Editora e Buchholz. Deram-me estes senhores a honra de integrar o catálogo por eles chancelado. Entre 24 de Novembro de 2006 e 8 de Abril de 2008, escrevi uma coisa chamada Terminação do Anjo. É um romance, talvez.»

Sem ter a ver com amizades, mas apenas com a expectativa de um aficionado perante o nascituro e com as qualidades artísticas do pai, é com prazer e honra que aconselho vivamente a presença no renascimento da Portugália e no parto da “Terminação do Anjo”, que já ganha como um dos melhores títulos do ano. Um acontecimento literário a não perder!

Ps.: Entretanto descobri um excerto do novo livro noutro blog da vizinhança e roubei-o porque fazia aqui falta:

"Um estremeção mudo tirou o homem de entre os vivos.
Camilo Ardenas, no assento da coxia, soube de imediato que à janela tinha passado a viajar um morto.
O expresso da noite continuou a rolar com suavidade. Dentro, as luzes de presença aureolavam a galeria de cabeças adormecidas. Fora, a fronteira de chapa da auto-estrada exilava do País as matas e os casais. Os postes intermitentes alinhados ao longo das margens da via permitiram a Camilo confirmar o estupor congelado na cara do defunto: acima do protesto inutilizado na boca, os olhos muito abertos e o cabelo já quebradiço e desumano.
Agiu com rapidez. Cerrou as pálpebras ao cadáver. Fê-lo com uma espécie de carinho frio. Esperou um pouco. Verificou o alheamento dos outros passageiros. Então, inclinado para o morto como um pássaro carnívoro, soergueu-lhe a lapela e retirou a carteira do bolso interior. Havia muito dinheiro na carteira. Guardou as notas, separando duas de vinte e uma de cinquenta. Devolveu as noventa coroas ao morto para que ele não amanhecesse sem recursos. Antes de repor a carteira no bolso do defunto, consultou-lhe a identidade terminada".

17/06/08

Antigos e Modernos - o Resistente Fernando Campos, por Sothebys

Muito se fala dos novos escritores da lusofonia como Agualusa, Ubaldo, Lobo Antunes ou Mia Couto. Acho bem. É merecido. São apontados como criadores da língua, porque, aproveitando a imensa criatividade da oralidade e a multipilicidade linguística dos palops, estes autores recriam um novo português. Mia Couto chega ao ponto de inventar novos vocábulos e a sua escrita é um exercício de recriação surpreendente. Os puristas não gostam, eu acho interessante. As palavras que ele cria são de uma grande riqueza metafórica. Mia é um inventor de um português novo e futurista assente na misceginação e no encontro das suas múltiplas expressões. A sua originalidade baseia-se nas novas formas de dizer e escrever português.

Em contrapartida pouco se fala dos escritores antigos de Portugal, como Fernando Campos. Acho mal. Devia-se falar muito. Campos faz o contrário de Mia Couto e dos novos escritores lusófanos – pega no português arcaico e, re-inventando-o, luta para que ele não morra. É impressionante como ele recupera vocábulos perdidos, palavras que deixámos de usar e como lhes dá novos sentidos ou recupera os velhos.

Campos é um escritor contemporâneo, mas é o mais antigo de todos eles. Note-se que eu digo «antigo» e não velho. Um homem antigo tem uma ressonância semântica que escapa à palavra velhice. A antiguidade vale, a velhice é indesejável. Por isso não há contradição nenhuma em ser-se inovador e antigo, simultaneamente. É o caso de Fernando Campos. No fundo ele porta-se com a nossa língua como um guarda de um santuário ecológico que tenta preservar a diversidade biológica da terra e dos seres que lhe foram confiados. Campos sabe, como o guarda ecológico, que de cada vez que deixamos morrer uma palavra a nossa língua fica mais pobre. Ele mostra o caminho oposto – mas complementar – ao de Mia: o da renovação assente na tradição e não só na modernidade. Esse é um ds muitos aspectos interessantes da escrita de Campos. No fundo ele é, neste sentido, um Mia Couto ao contrário. E o que ambos procuram fazer da nossa língua é igualmente vital. Não é justo que só reparemos no mérito dos que se viram para o futuro. Os que preservam e actualizam o passado não são, longe disso, menos importantes. São tão ou mais vitais para o futuro como os outros.

Nota final - Fernando Campos nasceu em 1924 em Águas Santas, Porto, e licenciou-se em Filologia Clássica em Coimbra. É autor de alguns dos melhores romances baseados na impressionante e cada vez mais ignorada história deste Portugal governado por ingenheiros medíocres. Como, por exemplo: A Casa do Pó (um drama tecido no século XVI durante o reinado de D. Manuel e de D. João III), A Esmeralda Partida (de D. Pedro, a D. João II, passando por Afonso, o Africano, joga-se um dos períodos mais importantes da nossa história), A Sala das Perguntas (sobre o grande Damião de Góis, renascentista e cosmopolita em sarilhos com o Portugal da Inquisição) , O Prisioneiro da Torre Velha (sobre a saga de D. Francisco Manuel de Almeida que é visto pelos espanhóis como português e como espanhol pelos portugueses no período Filipino e da Restauração), O Cavaleiro da Águia (A reconquista e a saga de Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador), A Ponte dos Suspiros ( e se D. Sebastião não morreu em Alcácer Quibir?) e o último, de 2007, O Lago Azul (sobre a descendência dos herdeiros ao trono português, filhos de D. António Prior do Crato, no período da ocupação filipina). Estes foram os que eu li, até agora e den entre eles aconselho vivamente, A Casa do pó, A Sala das perguntas e, principalmente, A Esmeralda Partida.
Mas ele ainda escreveu mais estes que ainda me falta ler: Psyché, O Homem da Máquina de Escrever, O Pesadelo de dEus, Viagem ao Ponto de Fuga, e …que o meu pé prende… Um dia destes volto a Campos.

15/06/08

A Festa Laranja, por Vitor Mina C

Em maré de Euro e depois de nos pronunciarmos sobre a importância do Grande Armando na nossa Selecção, queria deixar aqui uma palavra de apreço para outra grande selecção, além da nossa: a da Holanda.

Os holandeses já fizeram história neste Euro e não, não me refiro ao facto de terem enfiado três ameixas nos legionários Italianos e uma goleada de 4-1 na selecção do treinador mais arrogante do euro, a França do francês Domenech. Nem sequer me refiro à qualidade do futebol apresentado pela Laranja Mecânica, até ao momento, o melhor de todo o campeonato, principalmente pela sua alucinante dinâmica de jogo.

Refiro-me a outra coisa: à maneira como os jogadores Holandeses festejam no fim as suas vitórias. Quem fica um bocadinho depois do fim colado à TV, repara que eles não saem a correr para o balneário, nem se limitam a umas saudações pífias com ares de grandes estrelas à bimbalhada adepta. Não, os jogadores holandeses dirigem-se, simplesmente, a uma zona do estádio onde estão reunidas as suas mulheres, namoradas, filharada e familiares e festejam. Van der Sar pega no puto ao colo e dá um beijo à filha do Kuyt, Van der Vaart beija a esplendorosa Silvye do pic, Robben abraça um irmão ou um amigo e por aí adiante...

Acho que isto dá um rosto humano aos jogadores. Mesmo que o Boularousz, o carrasco do Crespiano no último mundial, faça parte desta equipa, é por estas e por outras que eu não consigo deixar de gostar dos holandeses. Digam lá o que disseram eles sempre foram e continuam a ser diferentes, é o que é.

13/06/08

O Armando, por Caniche

Agora que o único assunto é, e só podia ser, o Euro 2008 e a brilhante carreira d`A Selecção eu também venho aqui prestar a minha homenagem áquele que é para mim e para todos nós aqui do Porco o verdadeiro herói tuga. Parece que os preferidos do sector feminino são o Nuno Gomes, o Miguel Veloso, o Quaresma e o Crestiano. Por razões não propriamente futebolísticas ou o Nuno Gomes jamais figuraria nesta lista... E os favoritos dos homens são o Crespinao, o Deco, o Pepe e o R. Carvalho, estes sim, por mérito futebolístico.

No entanto aqui no Porco o nosso herói d`A Selecção, por unanimidade e aclamação pelo menos de mim próprio, é outro, é o Armando. O Armando é tudo o que os outros não são: não é bonito como o Nuno Gomes, é feio comá desgraça. Não tem o virtuosismo do Deco, mas é chato como uma carraça. Está longe do poder atlético do Ronaldo, mas se calhar corre mais quilómetros em campo que ele. E não é alto como o Pepe, mas salta como um gafanhoto e estorva s adversários. E depois tem aquele ar demencial que empolga um adepto português e assusta os adversários... Parece um fugitivo directamente seleccionado pelo Scolari da equipa de futebol de Vale dos Judeus. Nós aqui no Porco adoramos o Armando, torcemos por ele e pelas espectaculares caneladas que eles lhes afinfa - aos checos e aos turcos e aos que vierem. E sobretudo adoramos ouvi-lo falar porque ele não tem o dom da palavra, dá pontapês na gramática, tem uma pronúnica levada do caraças e um tom de vozestridente e escanifabético. O Armando é o nosso Man of the Match, viva o Armando! Viva Portugal!

11/06/08

Portugal, por Um Português


Há uns tempos vim para aqui falar de religião e obtive algumas reacções adversas da parte de alguns confrades, no sentido de que não devia vir para aqui falar dessas coisas. Não porque sejam crentes, os estimados confrades, o que seria mais compreensível para mim, mas simplesmente porque é uma perda de tempo. Não se chega a lado nenhum e é como discutir o sexo dos anjos, é inútil, dizem. O argumento é, de resto, habitual. E continua a ser habitualmente incompreensível para mim, que até gosto de discutir o sexo dos anjos, o feitio dos deuses, o mistério da criação e outras trivialidades inconsequentes. Mas não é por isso que acho essa posição incompreensível.

Quem reflecte e discute com alguma seriedade (isto é, com frequência e liberdade) os deuses, as religiões e as fés, fá-lo porque é um exercício intelectual tão essencial e importante como a filosofia ou a ética; fá-lo porque quer perceber melhor a essência e a natureza das coisas, mas fá-lo, sobretudo, porque as religiões, os deuses e as fés não são assuntos irrelevantes para a nossa existência física, concreta, social, económica e cultural. Afectam profundamente a forma como vivemos, enquanto indivíduos e enquanto comunidade. E nessa medida é tão importante como discutir política, finanças, ciência ou história.

E se compreendo perfeitamente que para um crente essas sejam matérias indiscutíveis - são muito poucos os crentes que façam reflexões críticas acerca da sua religião (entendida aqui como a organização/instituição a que aderem), e muito menos os que o fazem em relação à sua fé obviamente, porque um dogma não se discute - e nessa medida efectivamente de debate inútil, uma evidente “perda de tempo”, já não consigo perceber, nem admitir, que num espaço de liberdade como tem sido o Tapor, essas não sejam matérias de controvérsia. São-no, obviamente, quanto mais não seja porque, havendo ou não liberdade de pensamento, tudo é controverso. E são mais discutíveis, digo eu, do que o torneio europeu de futebol em curso ou a carreira do John Holmes. Para não dizer importantes, pronto já disse. Mas o facto é que, apesar de muito pouco, a religião já foi tema de algum intenso debate aqui no porco, a última de que me lembro foi há cerca de dois anos, em torno do secularismo e da (discutível) contribuição judaico-cristã para o mesmo. Mas por norma é tema alheio ao Tapor.

A prova da sua importância, no entanto, saiu na edição de hoje, Dia de Portugal, do Público.

Portugal é o país mais pobre da Europa Ocidental e só não o é da União Europeia porque os novos países-membros do Leste ajudaram na estatística. Vinte anos depois da nossa entrada na UE, com biliões em subsídios injectados no país para efeitos de “coesão”, a realidade é que não saímos da cepa torta e hoje somos talvez a sociedade europeia menos preparada para os desafios da chamada “globalização” e para a sociedade do conhecimento, a “terceira vaga” que os Toffler anteciparam há umas décadas. Sem falar na impreparação para crises e desafios mais concretos e presentes, nomeadamente os económicos, os relacionados com recursos ou com competitividade global.

Muito do problema nacional, por outro lado, prende-se com questões de mentalidade e derivados, como comportamentos, atitudes e padrões culturais. As mentalidades são moldadas sobretudo por tradições e convicções, factores que por seu turno condicionam (e perpetuam) os tais comportamentos, atitudes e padrões. Acresce que o domínio das convicções com impacto social se divide fundamentalmente nas de cariz religioso e nas de natureza ideológica (i.e., políticas). E isto para concluir que sim, são questões importantes e discutíveis e que, em meu entender, os portugueses são como são e Portugal é como é, em primeira instância, devido à religião e à política, dois mundos simbióticos quando não estão devidamente separados um do outro.

De resto, todos os países são fruto e reflexo das mais diversas crenças e tradições. E nós, portugueses, somos fruto e reflexo do catolicismo romano e das políticas que este credo foi avalizando ao longo dos séculos.

O Público chamava, enfim, a atenção para um estudo internacional promovido pelo projecto Social Survey Program. O estudo versa o tema “identidade nacional” e há-de estar por aí melhor explicado pela net (aqui, por exemplo). O que interessa, para o caso, é que as gordas da primeira página do jornal gritavam: “Ser português é ser católico, pensa a maioria”. Lá dentro mais gordas assustadoras: “Em Portugal, nação e Igreja são equivalentes”. Os dados do estudo, acrescentava o jornal, «revelam que mais de dois terços dos portugueses consideram a religião um factor de identidade nacional, muito mais que em outras nações da União Europeia. O estudo mostra ainda que o orgulho nacional está muito ligado à História». Isto reflecte um pouco a ideia genérica que fazemos de nós próprios, enquanto povo, e é como tal talvez pouco fiável em relação às dinâmicas sociais efectivas e presentes, mas é extremamente revelador no que respeita a convicções (no caso, a ideia que fazemos de nós próprios) e tradições. Logo, a mentalidades e atitudes. «Ser português equivale a ser religioso, e mais concretamente católico: é assim que pensam 68,5 por cento dos cidadãos» portugueses, segundo o estudo, que abrangeu 34 países (nenhum dos quais muçulmano e vinte dos quais europeus). Portugal está em sétimo da geral, na importância dada «à religião como elemento definidor da identidade nacional. Na União Europeia, só é ultrapassado pela Polónia e Bulgária».

O estudo é muito interessante e aborda outras questões, como o facto da nossa fonte primordial de orgulho (para uma esmagadora maioria de quase 99 por cento) seja o passado (quantas vezes mitificado...), ou seja, não o que somos, mas o que supostamente fomos. «Nesta postura, Portugal está muito mais próximo de alguns países do Leste, como a Bulgária, a Eslováquia ou a Rússia, do que dos seus pares ocidentais. “Um enorme fosso”, constata Sobral (José Sobral, historiador e um dos coordenadores do estudo em Portugal). Para os portugueses, a grandeza continua então a ser pertença do passado», acrescenta o artigo.

O factor religioso, no entanto, foi o que mais surpreendeu (apesar de toda a evidência!...) os estudiosos, que concluíram que «o sentimento religioso faz parte de um bolo que nos afasta da maioria dos nossos parceiros europeus». Mas vale a pena perceber melhor o “fenómeno”, que estas coisas das identidades nacionais são efectivamente muito interessantes. Para José Sobral, esta mentalidade tem raízes tanto longínquas como recentes. «Recuando à época medieval, os portugueses viam-se e eram apontados, nas narrativas nacionalistas, “como tendo uma relação especial com Deus”: eram uma espécie de povo escolhido”, a quem fora dada a missão de espalhar a fé pelo mundo. “Este sentimento foi reforçado de modo a legitimar a expansão imperial”, frisa Sobral. Apesar do abanão da I República, o catolicismo voltou a florescer no Estado Novo, tendo-se reconstituído como um pilar do “nacionalismo oficial”, promovido por Salazar».

O paralelo com a vizinha Espanha (cujo desenvolvimento disparou desde que saiu da ditadura franquista e abriu a sua economia e, sobretudo, desde que aderiu à União), país que também encarnou nos mesmos católicos moldes essa missão evangelizadora e imperial, é fantástico e é sublinhado pelo historiador. «É revelador que, apesar dos reis católicos e da conquista, da guerra civil, do longo reinado de Franco e da relação especial que este manteve com a Igreja Católica, “apenas” 44,2 por cento dos espanhóis acreditam hoje que ser religioso é um atributo significativo da sua identidade. Em França e nos países nórdicos, esta percentagem está abaixo dos 20 por cento.».

É esta, enfim, a relevância de discutir religião. Por que se somos assim, pobres, tristes e iletrados, em muito grande medida o devemos à religião. Aliás, em grande medida o devemos a não se discutirem temas como a religião. Somos como somos porque estivemos durante séculos mergulhados em tradições e convicções religiosas de determinada natureza. Tradições essas extremamente convenientes à classe dirigente, a governantes como Salazar, homem mais pragmático do que propriamente crente, para quem a preponderância da religião, sobretudo de uma que prega a submissão e o conformismo (porque a recompensa está no céu e etc.), era uma questão essencialmente instrumental, no sentido da pacificação social - cumpre lembrar que os “católicos progressistas” eram não só uma pequeníssima minoria entre a população nacional, circunscreviam-se praticamente a Lisboa, como eram segregados e criticados pela instituição e pela generalidade dos paroquianos menos dados às rebeldias. Para os poderosos, com efeito, esta associação com a igreja sempre foi ouro sobre azul.

Os efeitos nefastos da preponderância política e social das religiões é mais gritante nos países islâmicos, obviamente, mas o caso português é exemplar no lado ocidental, pela negativa, dos respectivos malefícios sobre uma sociedade. Refiro-me criticamente e especificamente à Igreja Católica Apostólica Romana, tradição e convicção que tem imperado em Portugal desde há quase mil anos e que moldou decisivamente (desgraçadamente, digo eu, mesmo que nem tudo seja mau...) a atitude e o modo de ser português.

Nem todas as religiões, por outro lado, terão os mesmos efeitos que a religiões católica ou muçulmana, estruturalmente conservadoras e tradicionalistas, mais avessas à inovação e à diferença. O caso dos Estados Unidos, por exemplo é muitas vezes invocado pelos crentes como uma prova de que uma sociedade pode ser religiosa e ao mesmo tempo progressista e próspera. É certo. Os norte-americanos são esmagadoramente religiosos. O que falta referir é que professam, desde que são nação, uma religião bem diferente da nossa. Quer os norte-americanos quer os europeus do Norte (essa outra parte do mundo atrasada e analfabeta) são sobretudo povos de tradição protestante. E isso faz, como fez, uma enorme diferença na forma como os países evoluíram, mesmo que o Deus seja o mesmo...

Neste caso já não me estou a referir ao sexo dos anjos, estou a falar de ética, moral e comportamentos, usos e costumes, questões concretas que dizem respeito ao discutível universo religioso. O que a realidade nos mostra (por muito que alguns militantes religiosos apregoem a falácia da “falência dos valores” nas sociedades seculares) é que as sociedades mais religiosas, ou pelo menos, as mais adeptas de determinadas religiões, são invariavelmente as mais atrasadas – o drama do continente africano é um assunto diferente e muito particular.

O que este estudo confirma, quanto a mim, é a Igreja católica enquanto causa profunda e persistente do nosso atavismo, da nossa forma de ser conservadora, ignorante e fatalista, dos políticos medíocres a que nos conformamos e do estado em que estamos, mesmo atendendo aos sinais positivos para o futuro, que também os há nas novas gerações, cada vez com mais “mundo” e consciência dos novos desafios (globais) que têm de enfrentar. São também, sintomaticamente, gerações cada vez mais secularizadas, urbanas e menos dadas às crenças, às tradições e aos rituais religiosos institucionalizados, sendo significativo o crescimento, exponenciado pela net, do ateismo, do agnosticismo ou de correntes espirituais alternativas, nomeadamente as conotadas com a “new age”. Ou da simples indiferença. Mas a realidade que este estudo aflora é que a maioria ainda sente que é religiosa e que é isso que ainda a identifica enquanto nação, enquanto principal elemento agregador. Uma nação católica apostólica romana, fiel ao Papa, como no tempo dos afonsinhos.

Só um exemplo: A tendência católica, tal como o maometismo, privilegia conceitos morais como a caridade e a aceitação. E isso gera uma mentalidade assistencialista, de ajuda piedosa ao doente e ao desafortunado. Não é de resto por acaso que uma das chaves do sucesso de facções muçulmanas como os xiitas de Moqtada Al Sadr no Iraque, do Hezbollah no Líbano ou do Hamas em Gaza, são as redes de assistência social às populações, que monopolizam a ajuda em certas zonas. É óbvio que se trata de uma questão de conquistar simpatias, mas trata-se também da mesma lógica assistencialista profunda que anima a tradição católica, que cada vez menos monopoliza, de resto, a assistência aos pobres e aos desvalidos.

O protestantismo, pelo contrário, assumiu uma tradição ética e moral muito diferente, estimulando sobretudo a iniciativa individual, o empreendedorismo e a insubmissão. Desde logo em relação à doutrina papal; à autoridade centralista do Vaticano, que se exercia com um peso brutal nos governos terrenos das nações e à teologia romana oficial. O protestantismo chegou e traduziu a Bíblia para vernáculo, para a língua do povo, deixou de ser exclusivo em latim para meia-dúzia e passou a ser vox-populi, permitiu que cada um fizesse a sua pequena exegese, fragmentou-se em milhares de sub-cultos evangélicos (além das principais sub-divisões originais, a luterana, a calvinista e a anglicana) e, sobretudo, permitiu um espírito (uma mentalidade) mais livre, crítico e dinâmico, mais facilitador de educação, ciência e cultura, mais adepto de ensinar a pescar e menos de oferecer o peixe. E também menos intolerante.

Ora, tudo isto fez toda a diferença, na forma como as diferentes sociedades evoluíram, já que quer o catolicismo romano quer o islamismo, se deixados à “rédea solta”, como aconteceu em Portugal até 1974, se assumiram como forças paralisantes e castradoras. O catolicismo, quanto a mim, tem a vantagem de, apesar de tudo, se adaptar melhor às mudanças e às novidades do mundo e de ser mais aberto à dialéctica. Mas isso não o torna imune à crítica e acho que já vai sendo tempo destes assuntos e destas responsabilidades históricas serem discutidas, deixarem de ser tabu ou, pior, mito.

Pronto, para já era só isto.

08/06/08

Portugal 2 -Turquia 0, por Richard A.

Ontem Portugal ganhou 2-0 à Turquia e isso não interessa absolutamente nada. Daqui a uns tempos já nem me lembro. Agora do que nunca mais me vou esquecer é do espectáculo dado por dois fenómenos naturais que passaram antes do jogo pela minha cozinha. Foi mais ou menos como estar a nadar mesmo em cima das cataratas do Niagara. Esclareço.

Combinámos, a malta daqui do Tapor, ver o jogo em minha casa e informei logo que tinha cá uma cabeça de leitão pronta para ser preparada pelo Grunfo que é, como se sabe, o maior especialista mundial vivo na preparação de cabeças de leitão. O Mangas prontificou-se imediatamente a levar cebolas e a dar uma ajuda ao Grunfo. Foi um espectáculo digno de ser visto. Senti-me na pele do Richard Attenborough, foi como assistir a um acasalamento de lontras ou a uma luta de ursos polares.

O Grunfo e o Mangas juntos e ao vivo numa cozinha são dois verdadeiros senhores da selva. È um espectáculo impressionante vê-los em plena azáfama com o Grunfo a pedir «mais uma cebola descascada, rápido!» e o Mangas a fazer picadinho da mesma com aquelas mãozinhas de super-herói que Deus lhe deu. Impressiona vê-los a discutir «o melhor modo de fazer ovos mexidos», percorrendo em poucos minutos as várias escolas filosóficas que se pronunciaram acerca do assunto. Mesmo quando a comida já está ao lume e parecem estar quietos discutem «a forma como ela deve ser mexida na panela». Para já não falar da discussão «se a cebola já alourou ou não o suficiente». Na cozinha o Grunfo parece outro, a cozinha é mesmo o único sítio onde aquele homem é dinâmico. Cansa só de vê-lo a tirar pratos, tachos, panelas, garfos e colheres de pau dos armários.

Quando a comida foi finalmente servida, um homem observa pelo canto do olho o estado em que a cozinha foi deixada e parece que estamos a contemplar o Bangladesh depois da Monção. Há pratos sujos por todo o lado, talheres espalhados pelos armários, restos de cebola e miolo da cabeça do leitão em cima do fogão. Dir-se-ia que um estampido de bisontes, daqueles em que a terra treme uns quilómetros antes, passou por ali ou então um tufão ou um tremor de terra de grau 7 na escala de richter.

Quando tudo acabou, já depois de mandarmos duas ameixas no Turcos, desci à cozinha, que parecia ter-se transformado num cemitério de elefantes e enchi-me de coragem. Lancei mãos à obra e consegui arrumar tudo numa hora. Parece mau, mas não é. Fico com sensação de ser um previligiado, um Richard Attenbough burguês porque nem preciso de sair de casa para admirar a força da natureza à solta. Uma hora e depois? Pra assistir a um tal espectáculo, nem me importava que fossem duas.

04/06/08

Crime e Castigo, Porto e o Pinto da Costa, por Dostoiévski

No Crime e Castigo de Dostoiévski, o protagonista Raskolnikov pouco após o início da narrativa, mata à machadada. No final do livro, confessa e vai preso. Há quem defenda que o Crime é a grande redenção de Raskolnikov, que é pela matança gratuita que ele atinge a salvação. Pra mim não. Raskolnikov mata para saber que está vivo e que ainda conta, mas a sua redenção dá-se pelo castigo. Podia-lhe ter escapado e não o quis. Quis entregar-se e redimir-se. Acabou na Sibéria em trabalhos forçados. Crime e Castigo.

A SAD do Futebol Clube do Porto fez o mesmo. Ao não recorrer do castigo que lhe foi imposto pelo crime imputado, aceitou a punição e aceitou que praticou o crime. Quis o castigo. Falharam na avaliação da extensão do castigo, mas isso é uma coisa com que o pecador assumido poucas vezes conta. Crime e Castigo.

Estranhamente, o homem que por confissão própria jantava com alguns árbitros na véspera dos jogos que iam apitar ao FCP, o Sr Pinto da Costa permanece impávido e sereno, perante a maior vergonha que jamais aconteceu a um dos maiores clubes portugueses e não se demite. Nem que seja por pudor. Crime sem Castigo.

Já Cá Canta!, por Osborne


Ontem, terça-feira, 03 de Junho de 2008, fez mês e meio sobre a data de 19 de Abril. E até essa data não foi postada aqui no Porco qualquer peça sobre o músculo polipneu, o costureiro ou a versão académica e a explicação científica pela qual se pode observar a menor ou maior intensidade sexual das mulheres a partir dos músculos das pernas. Logo, ganhei a aposta e sou credor de um garrafinha de tinto que no mínimo deverá ser Chryseia. Confusos? Eu explico…

No passado dia 18 de Abril, a malta satânica e porcina invadiu o cruel planalto de Castela e foi assentar arraiais às tierras de campos ao cuidado da delegação basca local. Revenga de Campos, mais precisamente, logo ali ao pé da românica Fromista e em pleno Camino de Santiago.

A 19 de Abril, metade do corpo expedicionário recusou-se a dormir a siesta e abalou para Palência e para a sua Catedral, a Bella Desconocida. A certa altura, quando o pessoal espraiava os olhos sobre os jardins e açudes do rio Carrión em pleno centro de Palência, o rapaz Chryseia sai-se com esta:
- aquela gaja que ali vai no passeio é uma mulher de intensa actividade sexual, ninfomaníaca mesmo, já lhe tirei a pinta.

A maltosa deslargou de imediato o Carrión – que sa foda o Carrión -, e aferrou as lentes na dita cuja. Tratava-se claro de um soberbo exemplar do bom e do melhor que há para lá de Fuentes de Onoro, em fato executivo e saia subida. A beldade descia a rua na direcção da Bella Desconocida, em passo forte e ritmado. A portugalidade aprovou. A boçalidade também. Dobrada a esquina pela bella e passado o enlevo, a trupe virou-se pró Chryseia e disparou:

- É pá, como é que é?
- É o que vos digo aquela mulher é uma máquina sexual. Eu tiro-lhes logo a pinta. A mim não me enganam!
- Atão, mas como é que tu vês isso? É a olho? Broxedo?
- Qual olho, qual carapuça, isto tem uma técnica, uma ciência, a gente olha para os músculos da traseira das pernas, que têm que estar descobertos – com calças ou saia comprida não dá -, e a partir daí recolhemos toda a informação necessária para se tirarem as conclusões certas. Não há que enganar. É científico!

O Luzi de cara à banda comenta pró Grão ao lado: - Extraordinário, um gajo encontra académicos nos campos mais remotos. Fico sempre rendido aos académicos. Estes gajos estudam isto, pá. É malta de ciência. De sabedoria. Queimam muita pestana de volta destas coisas. Eu gosto de Académicos.

- O caralho, qual ciência qual carapuça!, berra o Mister. – O gajo vê é o popipleu, o gajo controla o desenvolvimento do popipleu!
- Do quê, do polipneu?, questiona o Grão.
- Popipleu, carago, é o músculo da barriga das pernas, quanto mais desenvolvido, mais actividade, é isso num é ó Chryseia?
- Qual popipleu qual carapuça, esse musculo nem sequer se vê. Diz o Mangas e adianta-se ainda: - Já o costureiro mais acima é um músculo que se vê bem, mas fica tapado pela saia.
- Ganda Mangas, mais um Académico, ó Luzi. Grão dixit.

- Não confirmo, nem desminto, isso é matéria de ciência e vocês já estão a jabardar!, responde o Chryseia.
- Deixem o Académico em paz, corja de incultos, não reneguem à partida uma ciência que desconhecem!, afinfa o Luzi em defesa do seu protegido.
- Ó pá, tábem, mas se o Chryseia não diz onde assenta o seu métier, como é que a gente avalia se a coisa é cientifica e mete polipneu ou se é bruxedo sem sentido e sem rigor!, diz e bem o Grão que adianta logo um desafio:

- Ó Chryseia pá, agora fora de merdas, tá certo que tu lá tens a tua ciência e não estás para revelar a coisa aqui aos soluços e no meio da rebaldaria de meia dúzia de macacos aos saltos. Tudo bem. Mas então fazes uma posta de fundo para o Porco e explicas e publicas a coisa. E lanço-te uma aposta. Fazes a posta no prazo de mês e meio e publicas no Porco e eu pago-te um almoço acima de Tromba Rija. Caso não cumpras lerpas com uma botelha de tinto pra mim, que no mínimo começa em Chryseia. Sem posta explicativa, tas é a meter galga e não há ciência nenhuma nisso. Apenas ordinarice. Aceitas a aposta ou confirmas a pocilguice dessa cabecinha demente?
- Ok, aceito a aposta carago e vou papar um almocinho, vou explicar a coisa em condições e publico no Porco. Se não pago o tinto.

Ontem terça-feira completou-se o mês e meio e o mistério permanece. Como raio é que o Académico lhes tira a pinta pela barriga das pernas e lhes mete logo o rótulo de sonsa ou máquina sexual. Mistério. E sério. E no entanto a botelha já cá canta. Ó Chryseia, olha que agora até está a sair um novo Barca Velha. Bota pra cá que eu tiro-lhe a pinta pelo polipneu!

03/06/08

John Curtis Estes, O Rei, por Minetauro

At Last, God Almighty, The King Is In The Pig!

Agora que no passado mês de Março ocorreu o vigésimo aniversário da ausência prematura e desditosa do Rei, o Porco com a reverência e o respeito devido aos Imortais, vem finalmente postar sobre John Holmes. The King Is In The Building!

E falar do Rei, é falar antes de mais do tamanho, porque no mundo em que se movia a sua corte o tamanho importa e de que maneira. A medida da ferramenta de trabalho do Imortal é matéria de profunda controvérsia hoje em dia. Os fãs mais fanáticos garantem os 38 cm da coisa, há puristas que andam pelos 34 cm e há até, alguns, poucos, que a medo e pela calada da net falam em 24 cm. A discussão prolonga-se e eterniza-se pela Internet a fora, mas garantem alguns sites que me parecem mais rigorosos que coisa andava pelos 25,4 cm. Parece-me pouco. Para 24 ou 25 cms outras ferramentas se agigantam, como sejam as do Nacho e do Siffredi, e não desfazendo há ali uma diferençazita. Certo, certo é que a medida certa se perdeu nos caminhos da lenda não deixando de ser ainda mais certo, que o que transparece dos ecrãs é uma coisa descomunal que assusta a mais afoita. A não ser a Little Oral Annie, mas essa desde que tivesse um boião de vaselina à mão não se assustava com nada.

Assustada, assustada ficou a actriz Melissa Melendez, já aqui referenciada no Porco como a única mulher que conseguiu dormir com O Rei. De facto, no filme Marina Vice, a nossa latina alarmou-se com as histórias das colegas acerca do tamanho do bicho e vai de encharcar a vela de relaxantes musculares. Tão grande dose tomou, que quando o Descomunal ali estava a esforçar-se e a dar ao pedal, a mártir que devia gemer de prazer ou de sofrimento, roncava a sono solto. Não se faz, muito menos ao Rei.

O Avantajado teve desde logo uma infância problemática em Ashville, Ohio, onde nasceu a 8 de Agosto de 1944, com o nome de John Curtis Estes. O padrasto era um ferroviário bebedola e violento que lhe enxertava o pêlo sempre que podia e lhe apetecia. E como lhe apetecia. Aos 16 anos, farto dos apetites do padrasto, o futuro Rei afinfa-lhe umas valentes bojardas e consegue mandá-lo pelas escadas abaixo onde o velhote parou inerte e inane. O Rei pensando que tinha limpo o sebo ao velho resolve fugir de casa e alistar-se no Exército. Foi colocado nas tropas americanas estacionadas na Alemanha onde prestou serviço durante três anos.

Mas um canhão daqueles, apesar das necessidades da guerra fria, não era para andar à mão de sarjolas militarizados e logo que pôde o Rei saltou fora e caiu numa série de trabalhos menores como motorista de ambulâncias, operário industrial, vendedor de sucatas variadas e até talhante num matadouro.

Tudo isto, até que por fim a epifania sobre a forma de uma mijaneira desceu sobre o Abençoado. A revelação ocorreu nos mictórios nojentos de um bar da cidade de Gardena, a sul de Los Angeles, onde o Rei foi aliviar a bexiga das cervejolas que o incomodavam. Ao lado, um daqueles velhos curiosos, nojentos e idiotas, espreitava e enchia o olho com o material exposto. Quando estava para levar um sopapo à maneira, o velhadas lá revelou que era um produtor de filmes de acção horizontal e que pagava bem por um tamanho daqueles. Holmes escondeu a coisa da esposa, largou o matadouro e entrou em acção.

E que acção. Falamos obviamente de uma carreira de mais de 3000 filmes, 14.000 performances e de mais de 15.000 mulheres. Nesta estatística das 15.000 parcerias não sei se estão incluídos ou não, os homens das cenas gay, onde o nosso Rei também se passeou, uma vez que para a investigação deste Post os fãs do Rei e no Fórum onde levantei a questão, bloquearam de imediato o meu IP e não responderam. O assunto é melindroso e assaz controverso. Mas que o Rei desceu ao Gay, lá isso é indubitável. Os puristas que me perdoem, mas também há por aí muito rabinho masculino que aguenta coisas descomunais. O Mister Hands que o diga, mas isso é matéria para outro post. Adiante.

Na Golden Age do Porno já vamos encontrar o Rei plenamente estabelecido e a cobrar mais de três mil dólares por dia de trabalho, o que para a época era coisa de estrela pop. Mas com a fortuna e a abundância veio também a queda do anjo. O Rei entrou forte e feio no consumo de cocaína em pó, viciou-se, caiu nas malhas da policia que o obrigou ao primeiro episódio feio da vida do desgraçado, passando ao papel de bufo policial das estrelas do porno que andavam na white lady.

Apesar do bufice pegada - que o meio nunca lhe perdoou -, a polícia moveu-lhe dezenas de processos por uso e posse de drogas e acabou por o engaiolar sucessivamente por vários dias. Por esta altura já Holmes se tinha casado e descasado por duas ou três vezes, até porque poucas mulheres aguentavam a vida desregrada que levava. É desta altura a orgia referida no filme Boogie Nights em que o Rei foi preso por mais de 100 dias devido a uma acusação de assassinato. O Rei meteu-se num orgia de cocaína e meninas em barda. De manhã havia quatro cadáveres esfriados no chão da sala, incluindo uma senhora que morreu de hemorragia anal. Não era fácil aguentar com o Rei.

A partir deste processo desgastante e financeiramente ruinoso, o Rei entrou num espiral de decadência sem fim. O vício em cocaína levava-o a interromper as cenas de cavalgada para ir meter drunfos na casa de banho. Como é evidente a performance ressentiu-se. Se já não é fácil levantar 25 ou 38 cm – como quiserem – imaginem levantar uma febra destas com os cornos cheios de ganza. Não dá e os produtores começaram a deixar de o chamar. Holmes sem dinheiro, caiu nas categorias mais baixas do porno, vendo-se obrigado a aceitar filmar o que quer que fosse que lhe pedissem. São deste período os infames filmes gay que tanto dói aos puristas da lenda.

Logo depois, Holmes desceu aos infernos da marginalidade mais radical. Começou por roubar bagagens no aeroporto de Los Angeles, roubou carros e envolveu-se em fraudes com cartões de crédito. Em Junho de 1981, John Holmes envolveu-se com um gang nos crimes da Wonderland Avenue, em que o gang irrompeu na casa de um passador de droga e obrigaram-no a entregar-lhes mais de 100.000 dólares em dinheiro, mais de 150.000 dólares em jóias, 8 kg de cocaína, 1 kg de heroína e mais de 5000 qualudes. O passador de droga que reconheceu Holmes, deu-lhe depois a volta e este levou-o ao esconderijo onde estavam os outros membros do gang que foram todos metralhados. Holmes foi julgado em 1982 e como que por artes mágicas safou-se com a alegação de que a sua participação em ambos os crimes era lateral e acabou por apanhar apenas 111 dias de prisão.

Pelo meio deste calvário insano o Rei veio a contrair Sida que lhe foi diagnosticada em 1986 e escondeu esse facto de toda a industria, continuando a contracenar com quem quer que lhe tentasse levantar o pau moribundo. Morreu de Sida aos 43 anos, a 13 de Março de 1988. Fez no passado mês de Março 20 anos. O seu corpo foi cremado e as cinzas lançadas ao oceano Pacifico.

Esquecidos os negros episódios de uma vida atribulada, os fãs do Colosso promovem o respeito do Rei e há um forte movimento de recuperação dos velhos e perdidos filmes de super 8. Pelas medições do ecrã dois laboratórios de duas Universidades americanas tentaram chegar a algum consenso sobre as medidas do Rei, mas daí resultaram medições diferentes que alimentam a lenda. A Lenda fala em 38 cm, respeite-se a Lenda. Porque nalguns casos um homem mede-se aos palmos.

Jacarandás, Ananás e Kunami Fresquinho, por SarçArdente

Sexta-Feira, 29 de Maio, Hipermercado em Coimbra. Passo pela fruta e faço pesar um ananás. Dos Açores, claro. Passo ainda pelas prateleiras e saco de uma lata de ananás tailandês, marca “Jacarandá”.


A Srª da caixa passa a lata pelos riscos luminosos da registadora, olha pra trás pró açoriano e empanca. – É só um bocadinho quisto deu erro…, diz-me em jeito de desculpa. Carrega no botão-maravilha e suspira pela espera da chefe da chave do castelo.


Mau Maria. Isto começa mal. Irra.

– Ó minha Senhora se o problema é o ananás meta-me já isso de lado, que eu gosto de ananás, mas nem tanto como isso.

- Não, não, o ananás ainda nem o passei, o problema é esta lata de jacarandá.

- Como? Qual é o problema?

- É que isto no visor aparece como lata de jacarandá ananás. E eu o ananás – e aponta para o Açoriano – ainda nem o passei. Está-me a dar erro é com o jacarandá.

- Ó minha Senhora, Jacarandá é a marca...,

- Pois dá erro, se é jacarandá não pode ser ananás…,

- Oiça, eu vou-lhe explicar, o Jacarandá é a marca da lata. Não é a fruta. Estão agora em flor e tem alguns bem bonitos aqui em frente no jardim. Jacarandá é uma árvore. O visor está bem.

- Não não, isto está mal jacarandá não é ananás.

- Ah, isso não é de certeza, quando muito é kunami fresquinho…

- Kunami? Nunca ouvi falar? Também é fruta?

- Olhe, esqueça o Kunami, oiça-me com atenção, ou então mete já de lado os ananases e a tralha toda que eu viro-lhe as costas e deixo-a aqui com o monte!

- Ah, não, isso não pode ser, temos que esperar pela chefe.

- Ó mulher, oiça, ali atrás está um ananás açoriano. Tá a ver. Prontos. Isso que tem na mão é uma lata. Essa lata azul e com as letras garrafais a dizer Jacarandá é uma lata de ananás enlatado da Tailândia. Percebeu. Jacarandá, é uma árvore, não é uma fruta. O visor está bem! Percebeu?

- Peço desculpa, mas o senhor a mim não me ensina o que é jacarandá, eu já comi jacarandá e num é ananás.

- Ó valha-me deus, olhe quando muito comeu Kunami, disseram-lhe que era jacarandá, mas num era, era Kunami. Se calhar fresquinho. E como eu não gosto de comer jacarandás, nem Kunamis e muito menos esperas absurdas vou indo que se faz tarde…