A trapalhada monumental que este (des)governo armou contra os professores e os alunos (e, portanto, contra o futuro) consubstancia a degradação da democracia à portuguesa. Apenas três décadas depois do 25 de Abril, o País vê-se devolvido, e aparentemente sem remédio, aos cabeças-de-abóbora, aos botas-de-elástico, e aos lambe-botas-de-elástico. Campeiam a ignorância voluntária, a cegueira ilustre, a desonestidade alegre e a peluda corrupção. As pessoas sérias, por nojo, afastam-se (ou são afastadas) dos lugares de decisão, deixando-(n)os entregues à viscosa lesma da irresponsabilidade.
O senhor Presidente da República não existe.
O senhor ex-Primeiro Ministro foi jogar para o Chelsea.
Quem agora manda é, de Caras, um artigo de Lux que trabalha quanto pode no sentido de fazer desta choldra uma espécie de Disneylândia com campinos e peixeiras. Tenho pena, mas isto é verdade.
Lembro-me vagamente de ter sido professor do ensino secundário. Na altura, havia aulas. Já então, os sucessivos ministros da Educação eram fraquinhos, mas nada permitia supor o pior. E o pior é isto: hoje.
Milhares de professores por colocar, gente casada e com filhos que desconhece a próxima porta, o próximo pão, o próximo dia. Em Lisboa, porém, tudo corre alegremente. Milhares de funcionários jogam às copas no computador. Um senhor a quem, decerto por piada, chamam secretário de Estado vem ao Louriçal desconhecer publicamente a Carta Educativa do concelho. Uma alegria. Entretanto, nada.
Tudo isto tornou o pessimismo coisa sinónima de realismo. Desprezar a Saúde é mau, porque intoxica o País. Desprezar a Justiça é mau, porque injustifica o País. Desprezar a Educação é mau, porque invalida o País. Mas quê, não tivemos a Euroforia? Não arrancámos três medalhas nos Jogos Olímpicos? Não vamos arrancar muitas mais nos Paralímpicos? Não começou já a Superliga para ver quem fica em primeiro a seguir ao Porto? Tivemos. Arrancámos. Começou.
O que não temos, nem arrancamos, nem começamos, é o ano lectivo, esse luxo a que habituámos (mal) crianças, jovens e docentes. Estudar para quê, realmente? Para ser caixa de hipermercado? Para adjunto de ucraniano? Para angariador de rifas de sorteio de cegos? Para arrumador? Para Tó Chico Dependente?
Se o tema me corrói de má bílis, é porque sim. Acredito que o povo mais bem educado e mais bem formado é o povo mais apto a viver em democracia. Por contraste, sei que o povo mais analfabeto é o mais fácil de governar pelos patos-bravos que só acreditam no dinheiro, no roubo, no estupro, na clientela, na prima e no espelho. Se vos pareço danado com o assunto (e com o Governo), é porque estou danado mesmo. Sinto-me mal governado, mal entregue, mal responsabilizado.
Mas se calhar nem é nada por causa da tragicomédia do arranque do ano lectivo. Se calhar, é porque ainda me não devolveram o IRS e eu tinha de dizer mal de alguém ou de alguma coisa. Pronto, já disse. Aula acabada.
O senhor Presidente da República não existe.
O senhor ex-Primeiro Ministro foi jogar para o Chelsea.
Quem agora manda é, de Caras, um artigo de Lux que trabalha quanto pode no sentido de fazer desta choldra uma espécie de Disneylândia com campinos e peixeiras. Tenho pena, mas isto é verdade.
Lembro-me vagamente de ter sido professor do ensino secundário. Na altura, havia aulas. Já então, os sucessivos ministros da Educação eram fraquinhos, mas nada permitia supor o pior. E o pior é isto: hoje.
Milhares de professores por colocar, gente casada e com filhos que desconhece a próxima porta, o próximo pão, o próximo dia. Em Lisboa, porém, tudo corre alegremente. Milhares de funcionários jogam às copas no computador. Um senhor a quem, decerto por piada, chamam secretário de Estado vem ao Louriçal desconhecer publicamente a Carta Educativa do concelho. Uma alegria. Entretanto, nada.
Tudo isto tornou o pessimismo coisa sinónima de realismo. Desprezar a Saúde é mau, porque intoxica o País. Desprezar a Justiça é mau, porque injustifica o País. Desprezar a Educação é mau, porque invalida o País. Mas quê, não tivemos a Euroforia? Não arrancámos três medalhas nos Jogos Olímpicos? Não vamos arrancar muitas mais nos Paralímpicos? Não começou já a Superliga para ver quem fica em primeiro a seguir ao Porto? Tivemos. Arrancámos. Começou.
O que não temos, nem arrancamos, nem começamos, é o ano lectivo, esse luxo a que habituámos (mal) crianças, jovens e docentes. Estudar para quê, realmente? Para ser caixa de hipermercado? Para adjunto de ucraniano? Para angariador de rifas de sorteio de cegos? Para arrumador? Para Tó Chico Dependente?
Se o tema me corrói de má bílis, é porque sim. Acredito que o povo mais bem educado e mais bem formado é o povo mais apto a viver em democracia. Por contraste, sei que o povo mais analfabeto é o mais fácil de governar pelos patos-bravos que só acreditam no dinheiro, no roubo, no estupro, na clientela, na prima e no espelho. Se vos pareço danado com o assunto (e com o Governo), é porque estou danado mesmo. Sinto-me mal governado, mal entregue, mal responsabilizado.
Mas se calhar nem é nada por causa da tragicomédia do arranque do ano lectivo. Se calhar, é porque ainda me não devolveram o IRS e eu tinha de dizer mal de alguém ou de alguma coisa. Pronto, já disse. Aula acabada.
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