“Ora então, vossa excelência, senhor Lusitano, sentiu vontade de dizer ao meritíssimo que gostaria de agarrar em mim e dar-me uma palmadinha no rabo, entre outras coisas, que não entendi bem, relacionadas com o mercado da ardósia e as economias dos meus pais. Calculo que estes considerandos avulsos servissem para disfarçar o embaraço do pedido. De qualquer maneira, o meu caro amigo não tem que sobre isso pedir opinião ao juiz. As relações entre homens adultos, ainda para mais dessa natureza, não necessitam de autorização judicial. Tudo o que tinha a fazer era escrever-me e perguntar se aceito. Ou colocar um anúncio no jornal, como normalmente se faz. O que me espanta, para ser sincero, é você, que não me conhece pessoalmente, que nunca viu o meu traseiro, presumir que sou o seu género. Andará a seguir-me? Sobre isso, adianto já, correndo o risco de o decepcionar, que levar palmadinhas de homens não me excita particularmente. Mas, enfim, o meu amigo lá sabe com o que se vem, e a mim já nada me espanta. Tenho até defendido gente acusada de estuprar galinhas, veja bem! Mas vamos lá então ver se lhe consigo ser útil em alguma coisa, que o meu amigo, perturbado com anda, é capaz de cometer alguma loucura com o gado da vizinhança. Olhe lá, o senhor é casado? Digo regularmente casado, como manda a Santa Madre Igreja, com alguém do sexo oposto. Arriscaria que não. Mas se tiver mulher, traga-a cá a casa e peça-lhe a ela para me dar palmadinhas no rabo. Não será bem a mesma coisa, eu sei, mas sempre terá alguém que lhe conte como é. Eu depois me entenderei com ela para outras tarefas. E é claro que o meu amigo vai ter de esperar na sala ao lado, que eu nessas coisas sou um bocado preconceituoso. Mas não me oponho a que lá fora vá dizendo, como também já vi que lhe dá prazer, coisas como “o menino é malcriado”, ou “o menino não tem futuro”, ou outras coisas eventualmente do seu agrado, como “o menino é o tarzan”, ou “o menino é o brad pitt”. Tanto se me dá, desde que gema baixinho e não me suje as carpetes. Sobretudo, não se humilhe mais a expor assim os seus desejos, homem. Não vale a pena. Um dia, quem sabe, encontra alguém da sua estatura, a quem possa agarrar e que goste de levar palmadinhas no rabo, e então será feliz.
Com os meus cumprimentos”
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