30/11/07

O Experimentador, por Babalu

Série: Novas Profissões – Parte 3

O Experimentador é uma profissão nova e com muita procura. E bem paga também. As milhentas casas de alterne que invadem a noite deste país, precisam destes profissionais como do pão prá boca, não vá a Asae questionar que o produto está fora de validade ou não obedece às directivas de higiene e segurança da UE. Daí, o Experimentador.

Diga-se em abono da verdade que o Experimentador é um profissional perseguido. Clandestino. Tem a sua liberdade cerceada por um sistema judicial que impede a experimentação. A incompreensão dos nossos tribunais, revelou-se em toda a sua perfídia quando há uns anos condenaram a prisão maior um honesto e incompreendido profissional, que na barra do julgamento explicou pacientemente a ouvidos judiciosos e que o não mereciam, que ele nada a tinha a ver com o crime. O tráfico de carne branca do leste e as bandalheiras dos quartos do primeiro andar da Madame Filipa, nada tinha a ver com ele, pois que ele era apenas o Experimentador. O encarregado de experimentar as meninas novas que apareciam na casa, com vista ao seu controle e bom desempenho profissional. Mais candura que isto não há. Mas os brutos da barra que não estão habituados à verdade, assustam-se quando a ouvem e puseram o homem à experiência na Regional de Coimbra. Um insulto ao verdadeiro sentido do dever.

Contudo, internacionalmente o Experimentador é um profissional conceituado e celebrizado. Tem até o seu líder carismático na pessoa da estrela francesa Pierre Woodman, um mestre e um senhor. Quando a poderosa multinacional do porno sueco, a Private Media Group, resolveu abrir a leste em 1992, precisava de um porco desinibido cujo porte contrastasse com a beleza e a inocência escondida a leste. Da escolha resultou o Pierre Woodman, basicamente um Ron Jeremy europeu.

Feio, gordo, peludo do pescoço aos pés, careca e mal jeitoso com umas manápulas que assustam o medo. Este seboso, ao contrário do Ron Jeremy nem sequer grunhe. Não fala, não diz, e não faz qualquer expressão. Estar ali ou comer tremoços é o mesmo para o gorduroso. Aponta, agarra, atraca e entranha-se. Nas suas mãos peludas a inocência entra temerosa e sai desinibida com a arte de cavalgar toda a sela.

Pelo meio há um famoso e iniciático Dedo e um célebre ponto G anal que desinibe e enlouquece. Woodman esconde o segredo, e nas sucessivas entrevistas nada revela. Mas elas, Anita Dark, Monica Roccaforte, Nikki Anderson, Rita Faltoyano, Tania Russof e muitas outras descobertas suas, confirmam o dedo poderoso e o ponto fantástico que as fez maravilhar. Em 15 anos de trabalho duro no leste, o Experimentador fez mais de 7000 castings. Este homem fez mais pela abertura a leste que milhentos reagans ou gorbatchovs. Os intelectuais chamam-lhe “técnica anal woodman”, os puristas apelidam-no de “abre-cus”, mas o segredo permanece. Certa vez perguntaram-lhe se esse ponto G anal também existe nos homens. O Experimentador fez cara de caso e limitou-se a afirmar que a Private nunca lhe pediu para ir por aí. Um perigo. Por ele e se lhe pedissem, o varrasco, até aí ia. Porco sujo. Perigoso. E se a malta passasse a gostar? Apre. Vade retro criatura demoníaca!

28/11/07

A Quarta Mulher, por Bonanza

Os westerns ensinaram-me que há dois tipos de mulheres: as que ficam em pânico a chorar num canto da cena enquanto o cowboy luta com o índio; e as que pegam na espingarda e dão um tiro no índio.

Mas a vida ensinou-me que afinal há ainda mais um terceiro tipo: as que ficam num canto do cenário a rir às gargalhadas enquanto o cowboy luta com o índio. E recentemente descobri ainda mais um quarto: as que pegam na espingarda e dão um tiro no cowboy.

O APONTADOR, por Medalhinha

Série: Novas Profissões – Parte Dois
Imagine-se um funcionário público. Típico. Imaginamos uma repartição pública minúscula, forrada com estantes cheias de Diários da República e amontoados de papel uns ao lado dos outros. Entre os pilares de folhas encontramos um espécime humano, escanzelado, com uns jeans Lee e um camisolão de lã até ao queixo. Ah!! Não podemos esquecer os óculos, o ar totó e os maguitos pretos nos braços. E pronto, a nossa imaginação levou-nos ao funcionário público por excelência.

Um funcionário público é, normalmente, aquela pessoa de quem todo o pessoal se queixa, mas que todo o pessoal sonha ser! Sim…, quem não gostaria de não contribuir para o PIB, ou de permanecer no local de trabalho de forma limitada (com prolongadas ausências físicas e/ou intelectuais); de tratar mal o pessoal que faz perguntinhas do lado de lá do balcão; ou de fazer tricô nas horas de expediente. Quem não gosta do dinheirinho garantido aos 21 de cada mês, e dos privilegiozinhos da ADSE, e de todos esses miminhos?

Ora bem, um Apontador é um funcionário público e tem todas as regalias da função pública. Daí a nossa aposta como segunda profissão a ser apontada. E a função pública precisa de muitos apontadores. Não falamos obviamente dos escrivães apontadores, mas sim dos homens do terreno. Que enchem a mão e apontam, corajosamente e sem medos. Sim porque isto é uma profissão de risco. Um Apontador é como se fosse a mão de Deus a auxiliar a Mãe Natureza.

Esta espécie rara e altamente seleccionada, serve o Estado Português e exerce as funções inerentes à sua categoria profissional na antiga Coudelaria Real, hoje conhecida como Coudelaria de Alter. Com o objectivo de assegurar a continuidade do Cavalo Alter, o Estado Português providenciou pela pontaria do equídeo! Um Apontador é a garantia de qualquer potro marca Lusitano.

A profissão não é de acesso fácil, mas a respectiva categoria é bem paga. Embora não seja dos serviços mais limpos e seguros é inegável a sua acutilância e honradez. É um trabalho de mão cheia. Quantas vezes não vimos nós já no YouTube ou na National Geographic, o desespero do equídeo que martela, martela e não há meio de acertar no ponto G. Daí a importância do apontador. E o estado português atento às necessidades da bestialidade, arranjou o Apontador. E pergunta-se: Quantas vezes não falhamos nós por falta de pontaria? Será que não podia incluir o serviço de Apontador nos benefícios da ADSE? Certamente que haveria menos surpresas e berraria por essas camas e noites afora!

27/11/07

Quadro de Mobilidade, por Hiper Camarada

- Olá Tó Pê, tás bom, não te via à uns tempos...
- Mais ou menos, mais ou menos...
Fiquei um pouco baralhado por ele ter respondido a sério ao meu cumprimento de circustância. Mas o Tó Pê estava mesmo mais ou menos, menos que mais. Contou-me: é funcionário público, um desses decretados milhares de parasitas pelo governo da república. Sempre o conheci como funcionário de um Ministério cujo nome não vem ao caso por razões óbvias. O Tó Pê vai agora na dolorosa casa dos 50 e, subitamente, viu o seu nome na tenebrosa «lista de mobilidade» do governo. Vai ser despedido e não sabe o que fazer à vida e o homem tem mulher e duas filhas a estudarem, uma delas na ex-Universidade Pública Tendencialmente Gratuita que agora é paga e bem paga.

- Pois é, as pessoas votaram nestes socialistas e agora olha... A mim, o aldrabão nunca me enganou.
- A mim enganou. Nunca pensei que fosse acontecer uma coisa destas, já viste, famílias inteiras destroçadas, não sou só eu...
Despediu-se de mim sem sequer me falar no jogo do Sporting, logo à noite em Manchester. Tá mesmo mal, pensei eu.

Quando, como se pode ler uns posts abaixo, cascamos aqui no Porco, forte e feio, no péssimo governo de burocratas e contabilistas acéfalos que nos governam, não estamos simplesmente a discutir ideias. Acontece que este governo decide primeiro e só depois repara nas consequências sociais desastrosas das suas políticas. É assim na saúde, na educação, na justiça, na segurança social, em tudo... Actualmente dou por mim irritado a discutir política. E é por isto, por casos como este. É que estas políticas selvagens ultra-liberais e anti-sociais passam-se com gente de carne e osso. Quando os rídiculos ministros do pinto de sousa enchem a boca com o «emagrecimento da função pública» e com a «flexisegurança» é disto que estamos a falar, muitas vezes - de gente de carne e osso, que não pode ser assim descartada como se fosse a peça de um aparelhómetro que já não funciona. Eu sei que tem que haver contenção e isso, mas que diabo, não vejo os políticos a cortarem nas suas mordomias nem os Belmiros, nem a Banca e afins a darem o seu contributo para vencermos a crise. Pelo contrário. O que vejo é um ataque imoral à classe média. O que vejo é o Tó Pê no olho da rua aos 50 anos, sem saber o que fazer à vida nem como é que vai pagar as próximas prestações do apartamento nem os estudos das filhas.

É por isso que, quando criaturas como o X-Jota, que até é um gajo fixe e tudo, me aparecem aqui a defender o mentiroso que nos governa, eu passo-me dos carretos. Sei que não devia e peço desde já desculpa ao X-Jota e aos gajos como ele que ainda continuam a apoiar o governo merceeiro de portugal, mas é mais forte que eu. Dá a impressão que há gente que vive em redomas de vidro e que já não contacta com os Tó Pês deste país. Por isso X-Jota não venhas ali nos comments com o habitual paleio do «lá está este gajo a jeremiar»... Eu lanço-te daqui um desafio, mene: vai lá abençoar o pinto sousa nas barbas do Tó Pê. Vais ver que ele é mais bruto, muito mais bruto, que eu...

23/11/07

O Merdalheiro, por Babalu

Série: Novas Profissões – Parte Um

O Merdalheiro. Ora aqui está uma nova profissão tão desaproveitada pela nossa juventude. Eu próprio, postador atento às novas realidades, desconhecia até há pouco as vicissitudes e esplendores de tal profissão.

Estava eu em Braga e perante Juiz Conselheiro, para em Tribunal Arbitral julgar um processo de acidente de viação, quando se me deparou um profissional do ramo. Um acidente de merda, diga-se. A minha cliente e Seguradora, era atacada porque o seu segurado conduzindo um tractor de merda, havia salpicado e provocado riscos em jeep de yuppie. Despachado o depoimento do engravatado, o Conselheiro procedeu à identificação do nosso segurado, perguntando-lhe depois pela profissão:

“ – Merdalheiro, Xôtor Juiz.
- Como, Medalheiro?
- Não Xôtor, mesmo Merdalheiro, de merda mesmo, com licença da palavra e da casa.
- À vontade, homem, aqui é a casa da verdade e não é o cheiro que nos afasta, atão diga lá…”

Concluído o julgamento, chamei o nosso segurado a parte. “ – Ó homem, Merdalheiro? – Assim é Xôtor, e não me queixo. – Mas isso rende? – Dá muito dinheirinho Xôtor, é que num há concorrência sabe, e merda para acartar é o que num falta por aí, pena é que os mes filhos doutores num queiram seguir isto.”

E por ali fiquei a saber que o Merdalheiro pega no tractor e auto-tanque e anda por aí a esvaziar as fossas de merda deste país. Ora como por essas aldeias a fora, continua a não haver redes de esgotos e as fossas enchem com frequência, é a própria GNR, Câmaras e Delegações de Saúde e do Ambiente, que obrigam quem não quer e chamam o Merdalheiro. E sem concorrência, o Merdalheiro factura o que quer. Pega na merda, mas paga-se bem.

O homem até me explicou que o gosta é de esvaziar as merdas das indústrias lá da zona e que aí factura a doer. São merdas que rendem mais. Por outro lado não gostava das merdas mais finas das casas tipo maison dos patos e novos ricos, que enfernizavam o homem com o mau cheiro e os salpicos. O homem vinga-se na factura e não limpa os salpicos. Segundo ele a merda é deles.

Certo, certo é que o homem factura bem e queixa-se da falta de ajudantes e de concorrência. Acaba por ser merda a mais para um homem só. Mas rendosa. O homem apertou-me a mão, despediu-se e enfiou-se num reluzente jeep BMW novinho em folha. Eu, apertei o comando do meu hondazito e vociferei um sonoro: “ – Profissão de Merda!”. A minha, claro!

O Porco Na Vanguarda E Pronto A Ajudar o Sócretino, por Babalu

Série: Novas Profissões

A partir de hoje o Porco vai procurar abrir novos caminhos à nossa juventude desempregada. O Sócretino não se descose com os seus 250.000 novos empregos e os poucos que abre, exigem altos estudos e rendem cada vez menos. Faltam boas e rendosas profissões, que não dependam de canudo ou cartão do partido rosa.

A malta anda perdida e abala para Badajoz a marrar nos calhamaços de medicina de nuestros hermanos e quando voltar vai ver que os SAPs fecharam todos e as urgências estão cheias de uruguayos que já navegam rio da plata acima e aqui direitinhos. Outros sobem para Vila Nova de Famalicão a doutorar-se em direito e no regresso tropeçam num calhau em Santo Tirso, de onde saltam 40 advogados e 400 candidatos a juízes. Não dá. Esqueçam os doutores. Isso é mentalidade dos vossos pais. Vão-se esfalfar a marrar, apenas para marrarem com os cornos na conta do canalizador que vos vai arrancar os olhos da cara.

O Porco preocupado, vai assim apontar novos rumos e modestamente tentar contribuir para a abertura de novos horizontes profissionais aos nossos jovenzarros. E atenção, não vamos falar de canalizadores, electricistas e talhantes. Isso são profissões velhas, relhas e concorridas. Não senhora. Aqui há inovação. E a verdade, a mais cristalina das verdades. Vamos apontar novas profissões, altamente rendosas e para as quais faltam candidatos. E profissões que não precisam de grandes estudos ou sequer de grandes treinos. Basta vontade e a quarta classe. O que se quer. Vamos a elas.

Da minha parte começarei pelo Merdalheiro, seguindo-se depois o Experimentador, o Leitoeiro, o Sarrafeiro, o Cobridor, o Fungueiro, o Boleiro e terminarei com o Ranhoso, se outras e catitas profissões não me saltarem à alembradura. Os outros Porcos de serviço podem e devem pegar nas mesmas profissões e dizerem de sua justiça. E se souberem de outras, venham elas. Vamos ajudar quem precisa.

19/11/07

Arcadas da Capela Live, por Estrela Miquelina

Na semana passada fui jantar a um restaurante fantástico e disse logo que tinha de fazer um post aqui pró Porco. O Porco já se transformou numa espécie de Forte Knox das experiências dos que nele escrevem e eu não podia deixar passar esta em claro. Fui jantar ao Arcadas da Capela, o fabuloso restaurante da Quinta das Lágrimas em Coimbra. Foi soberbo!

O Arcadas é o único restaurante a sul do Tejo que possui, actualmente, uma estrela Michelin. Não há mais nenhum de Lisboa para norte que a mereça, segundo os eminentes críticos da mais prestigiada instituição crítica de gastronomia do mundo. Para quem não faz a mais pequena ideia do que representa uma estrela Michelin ou pensa que a Michelin é, simplesmente, uma marca de pneus digo-vos só que, aqui há uns anos atrás, houve um chef de cuisine parisiense que se suicidou porque o seu restaurante perdeu uma estrelita! Matou-se, pum, pum! Este esclarecimento sobre o significado das estrelas Michelin é muito importante porque ainda há pouco li na imprensa portuguesa uma referência às suas famosas estrelas «miquelinas». Adiante.

Demorei uma semana para fazer este post por uma razão muito simples: é que não consegui decorar o nome das muitas iguarias que experimentei. Lembro-me dos sabores, guardei muitos deles num canto qualquer da minha memória. Como fui ao menu degustação, não veio lista e os pratos eram simplesmente anunciados pelos garções. Os nomes dos pratos, compreensivelmente, não há cabeça que os decore, aquilo é mais complicado que um livro de Martin Heidegger… Até que neste fim de semana tive a oportunidade de encontrar o responsável pelo Arcadas a quem pedi a lista do menu degustação que tive o privilégio de experimentar. Assim de memória ele deu-me a lista que eu escrevi num bilhete de comboio. Tenho aqui e, com algumas falhas (porque nem ele se lembra de tudo nem eu percebo bem a minha letra escrita no maldito bilhete), aqui vai a lista. Roam-se de inveja, carago!

Começámos com uma flute de Champagne Pommery ao que se seguiu um amuse bouche. O amuse bouche é a expressão francesa que designa a preparação das pupilas gustativas para o que se segue. Como o amuse bouche é muito variado, dependendo da criatividade de momento do chefe de cozinha, o meu informador não me soube dizer o que é que provámos ao certo à uma semana atrás. Lembro-me que na altura fiquei a olhar para aquilo porque não me havia talheres, mas a Joaninha que me acompanhou e sabe destas coisas explicou que a terrina em que a coisa estava servida era uma espécie de colher. Aquilo bebia-se. Foi o que fiz e era bem bom.

Veio a seguir um vinho que serviu como aperitivo, uma colheita tardia, Casal Figueira, devidamente adocicado mas sem excessos. A coisa prometia, o escanção era comunicativo e puxava por nós. Veio primeiro prato.

Primeiro prato - terrina de foie gras com pistachios e alperces e vinagreta de maracujá. Tudo acompanhado por um vinho branco de cujo nome nem eu nem o meu informador nos lembramos.

Segundo prato – Creme de cebola gratinada com tostas de queijo. Trata-se de um sabor muito forte e o vinho que se lhe seguiu foi uma verdadeira obra-prima: um Quinta dos Roques de uma secura extrema que combinou, por contraste, com o sabor personalizado do creme de cebola. Foi um dos momentos altos da noite e por aqui se vê como é de todo impossível que um jantar destes seja acompanhado só de água ou de arrghh!, coca cola e quejandos. Um miserável abstémio que aqui se fique pela sua fanta de laranja, pura e simplesmente, não pode perceber a combinação, a subtileza ou o contraste puro e duro de sabores. Eu acho que deviam proibir os abstémios de entrarem em sítios destes. Por mais dinheiro que tenham, não dá, é ridículo, é como ir ver um concerto do Caetano Veloso com um ouvido tapado, prontos. Os abstémios são os para-olímpicos da gastronomia!

Terceiro prato- não me lembro o que era, mas sei que era com tinta de chocos, vieiras e já não me lembro do resto… Aqui veio outro vinho excelente, um belíssimo branco. O escanção lançou-nos o desafio de o servir sem nos dizer o que era. Claro que ninguém foi capaz de o identificar, mas era excelente: um Luís Pato Vinha Formal. Entretanto aquilo que me parecia ser uma multidão de empregados de trato impecável, mas eram apenas dois ou três bons e atentos profissionais, mudava de copos de cada vez que era servido um novo vinho. E de pratos e de talheres também, claro.

Quarto prato – seguiu-se camarão, lavagante e pregado com molho de vinho moscatel, gengibre e pimenta nova. Um mimo!

A seguir veio um sorvete de limão com a função de preparar a transição para o prato de carne que foi:

Quinto prato – Lombo de porco preto, foie gras e molho de trufa preta. Tive, enfim, a oportunidade de provar a mítica trufa, essa espécie de cogumelo subterrâneo ou lá o que é que os franceses pagam como se fosse caviar e que, reza a lenda, encontram usando porcos para darem com elas pelo cheiro (actualmente parece que são cães devidamente treinados a fazerem de suínos). E perguntam vocês, que tal a trufa? Pois, aqui devo dizer que não fiquei com memória nenhuma da especialidade. Como a trufa é estupidamente cara só tivemos direito a uma lasca (literalmente). Entretanto foi servido o único tinto da noite, um Jota do enólogo Jorge Moreira de taninos apurados, as tradicionais notas de frutos vermelhos e uma intensidade memorável. Um vinho que só por si já fazia a noite e nos fez reflectir de novo acerca da deficiência que é ser-se abstémio e não se poder apreciar devidamente obras primas como estas.

6º prato- chegámos aos queijos o que, para mim, é sempre um momento altíssimo de qualquer refeição. A tábua dos respectivos era simplesmente divinal. Foram trazidos por uma menina muito apresentável que os anunciou como quem anuncia a entrada de diplomatas. Dos mais fracos para os mais fortes, estava lá do melhor: Niza, serra da estrela, da ilha de s. Jorge (mas não tinha nada a ver com os que eu compro no Belmiro), de Castelo Branco, os camembert, bries, roqueforts (Societé e tudo!), Gorgonzola e Shilton, entre outros. Os meus companheiros de luta escolheram três ou quatro e eu fui a quase todos e só não fui a todos porque a jornada já tinha puxado muito por mim. Moderação? Não. Tudo em excesso, a moderação é prós monges!

7º prato – Sobremesas: leite creme queimado e aromatizado mais gelado de café e telha de sementes de sésamo e papoila para os cavalheiros (quem nós?) e soufflé de chocolate com pêssego gratinado e gelado de amêndoa amarga para as senhoras. E no fim ainda vieram uns brigadeiros sensacionais. Confesso que não sou grande adepto de sobremesas mas gostei mais do soufflé de chocolate das ladies. A acompanhar um Porto Vintage de 98, mas já não me lembro de onde. E no fim de tudo isto, rejeitámos os digestivos e optámos por um excelente chá verde com aroma de menta de cuja marca não me recordo, mas que era bom, era.

O jantar começou a ser servido por volta das 20 30. Era 23 40 quando nos levantámos da mesa. Estivemos num ambiente de excepção e fomos tratados principescamente por profissionais irrepreensíveis. Não registei uma única falha no serviço, nem uma única. Acho que nem o nosso Grão conseguiria embirrar com aquela malta. No fim pensei que naquela noite não teve lugar um simples jantar: foi como ir ver um concerto, um bailado, uma exposição. Foi mais uma experiência estética dirigida ao palato, criada e organizada por verdadeiros artistas. Fiquei a pensar que os artistas deviam ter vindo ao palco fazer as vénias do costume no fim das suas actuações. Se o tivessem feito, garanto-vos que me levantava do meu cantinho perfeito e aplaudia-os como aplaudiria o Ryuchi Sakamoto, o Lou Reed ou os Samshing Pumpkins. E quando me lembro que já paguei mais de 100 euros para ver os Stones em Alvalade, fico a pensar que o «concerto gastronómico» do Arcadas da Capela até foi barato…

14/11/07

Selen, Wham Bam, Thank You Mam!, por Lili


A pedido de várias famílias e depois de longas divagações pela Golden Age, é tempo de regressar à actualidade e sair das Américas, metendo a mão na massa das estrelas europeias. E aí, é incontornável o nome da super estrela italiana: Selen.

A miúda, filha de famílias abastadas entrou no mundo do porno italiano e fez sucesso imediato com o seu ar desamparado e ausente, a par de um corpo de matrona bem fornecida. De seu nome Luce Caponegro, Selen de nome artístico, nasceu em Roma em 1966, filha de um rico industrial italiano do petróleo.

Aos 18 anos saiu de casa e meteu-se numa comuna de hippies onde acampou sem água corrente durante dois anos. Aos 20 largou o “make love not war” e entrou no porno power abraçando o “make love and get paid for it” com o apoio do primeiro marido. Os pais que estavam arrepiados com o hippismo, enxofraram-se de vez com as cavalgadas em pelo e renegaram a filha. E trataram de mudar de cidade e de amigos. Hoje sabe-se que poisaram em Ravenna. Mas a Selen não desanimou. Perdeu a família, mas ganhou uma legião de fans em todo o mundo.

Aos 27 anos, com o filme “Signori Scandalose Di Provincia”, um filme de alto orçamento, Selen, alcançou o estrelato e o título de “Italy's favourite pornstar”. De 1993 a 1998, Selen arrebatou todos os prémios da indústria e arrecadou 17 troféus nos festivais de Turim e Cannes. Em 1998, fez o incomparável Millenium e retirou-se da cena, porque segundo as suas palavras: “não estava a gostar assim tanto da profissão para continuar”. Sim porque esta pôrra, também cansa!

Selen, nunca desceu à falta de nível dos filmes de encher e optou por fazer poucos filmes – cerca de 40 -, e exigir sempre contracenar em filmes com argumento e história. E quando atingiu os píncaros da glória, passou a exigir também as grandes produções. Mais ainda, além se preocupar por uma história bem contada, os filmes de Selen revelam uma clara preocupação de representar a coisa para além do mero acto sexual. Filmes há, em que claramente o que conta, é o argumento e o acto sexual é apenas a continuação do mesmo. Obviamente que não estamos ao nível sequer de qualquer de série B de Hollywood, mas que há essa preocupação e que ela resulta, isso há. Dirão alguns que isto não se deve tanto à Selen, mas antes de mais aos seus realizadores fetiche como Mário Salieri ou Luca Damiano. Contudo, pelas mãos destes monstros sagrados também passou a Moana Pozzi que encheu o chouriço em centenas de filmes e o Rocco Siffredi, que pulverizou os 40 filmes da Selen com uns valentes 1600 filmes sem qualquer fio condutor que não fosse a enxofradela. Selen foi selectiva como ninguém e quis marcar a diferença.

E essa diferença passa por filmes temáticos e exóticos realizados com meios quase hollywoodescos, que passavam até pelas filmagens massivas “in location”. Falamos do “Selvaghia”, do “Sahara” e do “Selen Regina Degli Elefanti”, este último filmado filmado nas selvas e savanas do Kenya, sendo o “Sahara” filmado nas areias escaldantes já escolhidas por George Lucas. Nestas produções de luxo e meios formidáveis, Selen evoluiu nas areias e oásis, com camelos e tamareiras em pano de fundo, dando satisfação aos beduínos barbudos que lhe apareciam pela frente. E subjugou a savana e a selva africana com o estertor de cenas porno, mailos elefantes, leões e búfalos a jiboiar ao lado. E como deixar de dar aqui uma palavra de apreço pelo soberbo “Sceneggiata Napoletana” com a máfia italiana ao naturel e uma Selen mamã de bebé e biberon, chantageada por um soprano que vai até ao fim. A máfia como nunca viram e deviam ver! Qual Sopranos, qual Padrinhos qual carapuça! Coppola, vê e chora! Aprende homem!

E como deixar ainda de falar da excelente reconstituição do “Drácula” ou das divagações filosóficas de “Eros e Tanatos”. Selen foi uma autêntica intelectual do porno.

Com 40 filmes escolhidos a dedo, dois filhos para criar e dois maridos que sempre a apoiaram, Selen impôs-se no porno e a partir de um controle cerrado do “com quem” e do “como” é que se deitava, construiu um mito iconográfico que lhe rende rios de dinheiro.

Rica e no auge da fama largou tudo e retirou-se da cena em 1998. Apesar de todos os apelos dos clubes de fan da net e do mundo porno, Selen resiste ainda ao regresso. Não precisa. Selen em Itália é uma indústria só por si. Faz programas de rádio, apresenta um programa de televisão e os jornais e revistas atropelam-se para as entrevistas e fotos de reportagem como modelo. Selen não actua já, mas vende como nunca. Patrocinou o vídeo jogo Sex Files. Faz publicidade, teatro e participa em filmes de cinema de primeira linha. Ultimamente dedica-se também a uma intensiva campanha pública de luta contra a Anorexia. Uma Senhora. Distinta. Wham Bam, Thank You Mam!

12/11/07

E-Tê, por Tó-Zé

- Desculpe mas não pode entrar - repetiu o porteiro do alto do seu uniforme impecável. Não vale a pena argumentar. As instruções são claras.

Dei-me por vencido. Irritado, apertei os botões do meu sobretudo roxo e ajeitei a gravata de pele de crocodilo. Voltei a enfiar o sombrero na cabeça rapada, calcei a luva branca na respectiva mão direita e enrosquei a garra de aço na esquerda. Apaguei o cachimbo de água e pus-me a andar dali pra fora a toda a velocidade permitida pelo meu skate. Bati a porta do guichet da 5ª Reparticção com toda a força e olhei, uma última vez, para o letreiro que lá continuava pendurado, secamente:
«Proibida a entrada a pessoas estranhas».
Detesto funcionários picuinhas!

10/11/07

Escola, pelo Abaixo-Assinado

Tropecei há uns dias na net nesta carta aberta admirável de um professor ao Presidente de República. Pela sua pertinência e desassombro, tomei a liberdade de pedir autorização ao autor para a publicar aqui, ao que o próprio simpaticamente acedeu. Porque vale a pena multiplicar este debate:

Ílhavo, 22 de Outubro de 2007

Senhor Presidente da República Portuguesa
Excelência:


Disse V. Excia, no discurso do passado dia 5 de Outubro, que os professores precisavam de ser dignificados e eu ouso acrescentar: “Talvez V. Excia não saiba bem quanto!”


1. Sou professor há mais de trinta e seis anos e no ano passado tive o primeiro contacto com a maior mentira e o maior engano (não lhe chamo fraude porque talvez lhe falte a “má-fé”) do ensino em Portugal que dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação (CEF).
A mentira começa logo no facto de dois anos nestes cursos darem equivalência ao 9º ano, isto é, aldrabando a Matemática, dois é igual a três!
Um aluno pode faltar dez, vinte, trinta vezes a uma ou a várias disciplinas (mesmo estando na escola) mas, com aulas de remediação, de recuperação ou de compensação (chamem-lhe o que quiserem mas serão sempre sucedâneos de aulas e nunca aulas verdadeiras como as outras) fica sem faltas. Pode ter cinco, dez ou quinze faltas disciplinares, pode inclusive ter sido suspenso que no fim do ano fica sem faltas, fica puro e imaculado como se nascesse nesse momento.
Qual é a mensagem que o aluno retira deste procedimento? Que pode fazer tudo o que lhe apetecer que no final da ano desce sobre ele uma luz divina que o purifica ao contrário do que na vida acontece. Como se vê claramente não pode haver melhor incentivo à irresponsabilidade do que este.


2. Actualmente sinto vergonha de ser professor porque muitos alunos podem este ano encontrar-me na rua e dizerem: ”Lá vai o palerma que se fartou de me dizer para me portar bem, que me dizia que podia reprovar por faltas e, afinal, não me aconteceu nada disso. Grande estúpido!”


3. É muito fácil falar de alunos problemáticos a partir dos gabinetes mas a distância que vai deles até às salas de aula é abissal. E é-o porque quando os responsáveis aparecem numa escola levam atrás de si (ou à sua frente, tanto faz) um magote de televisões e de jornais que se atropelam uns aos outros. Deviam era aparecer nas escolas sem avisar, sem jornalistas, trazer o seu carro particular e não terem lugar para estacionar como acontece na minha escola.
Quando aparecem fazem-no com crianças escolhidas e pagas por uma empresa de casting para ficarem bonitos (as crianças e os governantes) na televisão.
Os nossos alunos não são recrutados dessa maneira, não são louros, não têm caracóis no cabelo nem vestem roupa de marca.
Os nossos alunos entram na sala de aula aos berros e aos encontrões, trazem vestidas camisolas interiores cavadas, cheiram a suor e a outras coisas e têm os dentes em mísero estado.
Os nossos alunos estão em estado bruto, estão tal e qual a Natureza os fez, cresceram como silvas que nunca viram uma tesoura de poda. Apesar de terem 15/16 anos parece que nunca conviveram com gente civilizada.
Não fazem distinção entre o recreio e o interior da sala de aula onde entram de boné na cabeça, headphones nos ouvidos continuando as conversas que traziam do recreio.
Os nossos alunos entram na sala, sentam-se na cadeira, abrem as pernas, deixam-se escorregar pela cadeira abaixo e não trazem nem esferográfica nem uma folha de papel onde possam escrever seja o que for.
Quando lhes digo para se sentarem direitos, para se desencostarem da parede, para não se virarem para trás olham-me de soslaio como que a dizer “Olha-me este!” e passados alguns segundos estão com as mesmas atitudes.


4. Eu não quero alunos perfeitos. Eu quero apenas alunos normais!!!
Alunos que ao serem repreendidos não contradigam o que eu disse e que ao serem novamente chamados à razão não voltem a responder querendo ter a última palavra desafiando a minha autoridade, não me respeitando nem como pessoa mais velha nem como professor. Se nunca tive de aturar faltas de educação aos meus filhos por que é que hei-de aturar faltas de educação aos filhos dos outros? O Estado paga-me para ensinar os alunos, para os educar e ajudar a crescer; não me paga para os aturar! Quem vai conseguir dar aulas a alunos destes até aos 65 anos de idade?
Actualmente só vai para professor quem não está no seu juízo perfeito mas se o estiver, em cinco anos (ou cinco meses bastarão?…) os alunos se encarregarão de lhe arruinar completamente a sanidade mental.
Eu quero alunos que não falem todos ao mesmo tempo sobre coisas que não têm nada a ver com as aulas e quando peço a um que se cale ele não me responda: “Por que é que me mandou calar a mim? Não vê os outros também a falar?”
Eu quero alunos que não façam comentários despropositados de modo a que os outros se riam e respondam ao que eles disseram ateando o rastilho da balbúrdia em que ninguém se entende.
Eu quero alunos que não me obriguem a repetir em todas as aulas “Entram, sentam-se e calam-se!”
Eu quero alunos que não usem artes de ventríloquo para assobiar, cantar, grunhir, mugir, roncar e emitir outros sons. É claro que se eu não quisesse dar mais aula bastaria perguntar quem tinha sido e não sairia mais dali pois ninguém assumiria a responsabilidade.
Eu quero alunos que não desconheçam a existência de expressões como “obrigado”, “por favor” e “desculpe” e que as usem sempre que o seu emprego se justifique.
Eu quero alunos que ao serem chamados a participar na aula não me olhem com enfado dizendo interiormente “Mas o que é que este quer agora?” e demorem uma eternidade a disponibilizar-se para a tarefa como se me estivessem a fazer um grande favor. Que fique bem claro que os alunos não me fazem favor nenhum em estarem na aula e a portarem-se bem.
Eu quero alunos que não estejam constantemente a receber e a enviar mensagens por telemóvel e a recusarem-se a entregar-mo quando lho peço para terminar esse contacto com o exterior pois esse aluno “não está na sala”, está com a cabeça em outros mundos.
Eu sou um trabalhador como outro qualquer e como tal exijo condições de trabalho! Ora, como é que eu posso construir uma frase coerente, como é que eu posso escolher as palavras certas para ser claro e convincente se vejo um aluno a balouçar-se na cadeira, outro virado para trás a rir-se, outro a mexer no telemóvel e outro com a cabeça pousada na mesa a querer dormir?
Quando as aulas são apoiadas por fichas de trabalho gostaria que os alunos, ao sair da sala, não as amarrotassem e deitassem no cesto do lixo mesmo à minha frente ou não as deixassem “esquecidas” em cima da mesa.
Nos últimos cinco minutos de uma aula disse aos alunos que se aproximassem da secretária pois iria fazer uma experiência ilustrando o que tinha sido explicado e eles puseram os bonés na cabeça, as mochilas às costas e encaminharam-se todos em grande conversa para a porta da sala à espera que tocasse. Disse-lhes: “Meus meninos, a aula ainda não acabou! Cheguem-se aqui para verem a experiência!” mas nenhum deles se moveu um milímetro!!!
Como é possível, com alunos destes, criar a empatia necessária para uma aula bem sucedida?
É por estas e por outras que eu NÃO ADMITO A NINGUÉM, RIGOROSAMENTE A NINGUÉM, que ouse pensar, insinuar ou dizer que se os meus alunos não aprendem a culpa é minha!!!


5. No ano passado tive uma turma do 10º ano dum curso profissional em que um aluno, para resolver um problema no quadro, tinha de multiplicar 0,5 por 2 e este virou-se para os colegas a perguntar quem tinha uma máquina de calcular!!! No mesmo dia e na mesma turma outro aluno também pediu uma máquina de calcular para dividir 25,6 por 1.
Estes alunos podem não saber efectuar estas operações sem máquina e talvez tenham esse direito. O que não se pode é dizer que são alunos de uma turma do 10º ano!!!
Com este tipo de qualificação dada aos alunos não me admira que, daqui a dois ou três anos, estejamos à frente de todos os países europeus e do resto do mundo. Talvez estejamos só que os alunos continuarão a ser brutos, burros, ignorantes e desqualificados mas com um diploma!!!


6. São estes os alunos que, ao regressarem à escola, tanto orgulho dão ao Governo. Só que ninguém diz que os Cursos de Educação e Formação são enormes ecopontos (não sejamos hipócritas nem tenhamos medo das palavras) onde desaguam os alunos das mais diversas proveniências e com histórias de vida escolar e familiar de arrepiar desde várias repetências e inúmeras faltas disciplinares até famílias irresponsáveis.
Para os que têm traumas, doenças, carências, limitações e dificuldades várias há médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos, em quantidade suficiente, para os ajudar e complementar o trabalho dos professores?
Há alunos que têm o sublime descaramento de dizer que não andam na escola para estudar mas para “tirar o 9º ano”.
Outros há que, simplesmente, não sabem o que andam a fazer na escola…
E, por último, existem os que se passeiam na escola só para boicotar as aulas e para infernizar a vida aos professores. Quem é que consegue ensinar seja o que for a alunos destes? E por que é que eu tenho de os aturar numa sala de aula durante períodos de noventa e de quarenta e cinco minutos por semana durante um ano lectivo? A troco de quê? Da gratidão da sociedade e do reconhecimento e do apreço do Ministério não é, de certeza absoluta!


7. Eu desafio seja quem for do Ministério da Educação (ou de outra área da sociedade) a enfrentar ( o verbo é mesmo esse, “enfrentar”, já que de uma luta se trata…), durante uma semana apenas, uma turma destas sozinho, sem jornalistas nem guarda-costas, e cumprir um horário de professor tentando ensinar um assunto qualquer de uma unidade didáctica do programa escolar.
Eu quero saber se ao fim dessa semana esse ilustre voluntário ainda estará com vontade de continuar. E não me digam que isto é demagogia porque demagogia é falar das coisas sem as conhecer e a realidade escolar está numa sala de aula com alunos de carne, osso e odores e não num gabinete onde esses alunos são números num mapa de estatística e eu sei perfeitamente que o que o Governo quer são números para esse mapa, quer os alunos saibam estar sentados numa cadeira ou não (saber ler e explicar o que leram seria pedir demasiado pois esse conhecimento justificaria equivalência, não ao 9º ano, mas a um bacharelato…).
É preciso que o Ministério diga aos alunos que a aprendizagem exige esforço, que aprender custa, que aprender “dói”! É preciso dizer aos alunos que não basta andar na escola de telemóvel na mão para memorizar conhecimentos, aprender técnicas e adoptar posturas e comportamentos socialmente correctos.


Se V.Excia achar que eu sou pessimista e que estou a perder a sensibilidade por estar em contacto diário com este tipo de jovens pergunte a opinião de outros professores, indague junto das escolas, mande alguém saber. Mas tenha cuidado porque estes cursos são uma mentira…


Permita-me discordar de V. Excia mas dizer que os professores têm de ser dignificados é pouco, muito pouco mesmo…


Atenciosamente

Domingos Freire Cardoso
Professor de Ciências Físico-Químicas
Rua José António Vidal, nº ***
3830 - 203 ÍLHAVO
Tel. 234 *** *** / 93 *** 11 **
E-mail: dfcardos@gmail.com

08/11/07

Desamparem-me, por X Gajo

Não tenho partido, não tenho ideologia, não tenho religião, não tenho clube. Pensando bem nem tenho pátria. Tenho afectos, tenho ideias e outras coisas, mas daquelas coisas não tenho. Também tenho poucas ilusões, sobretudo em relação aos partidos e aos políticos que temos e às elites que temos em geral. São o nosso espelho e mesmo que isso não console, são nosso merecimento, porque eles somos nós.
Sobre este Sócrates não penso muito nem dele espero muito, é só mais um igual a tantos outros dos que nos têm governado há quase mil anos. Sobretudo igual a tantos outros do bloco central que se apropriou do estado e que nos desgoverna há trinta anos. E que nos últimos quinze tem feito empenhada questão de nos devolver ao nosso justo lugar e à nossa missão histórica de cauda da Europa. Com a ajuda esforçada do nobre povo e das lideranças empresariais e outras áis que tais e o abençoado beneplácito da Virgem Padroeira.
Com efeito, a nossa condição nacional de carro-vassoura europeu só foi interrompida no século XVI por breves instantes, mas rapidamente regressámos ao nosso amado atraso fadista. Esta coisa da CEE, a acabar o século XX, trouxe de volta o fantasma do progresso e um arremedo de evolução. Vade retro! Naturalmente, também foi sol de pouca dura e já reconquistámos à Grécia e à Irlanda a gloriosa vassoura. E o facto é que temos tido sempre líderes à altura dessa gloriosa tarefa de proteger a retaguarda da Europa.
O contacto muito próximo que por razões de profissão tive com a classe política e partidária portuguesa serviu essencialmente para cimentar esta noção, da mediocridade geral consonante com a mediocridade mais geral dos portugueses em geral. A mediocridade suficiente para cumprirmos, enfim, aquela missão patriótica.
E é assim com revolta, mas rendido à evidência histórica, que sinto na pele e ao meu redor a degradação social e económica do país onde me calhou em sortes nascer e viver. Não acredito neste Governo como nunca acreditei em nenhum desde que me lembre. Também não é de admirar porque não acredito por norma em quase nada sendo que isso não interessa para nada.
Serve este discurso basicamente para deixarem de me aborrecer aqui no tapor com os pêésses e os sócrates. Não sei, não tenho nada a ver com esse assunto, não faço ideia e nem quero saber. Gosto tão pouco dos pêésses e dos Sócrates e dos coelhónes como gosto pouco dos Menezes e dos Jardins e dos outros pêéssedês. Vai tudo dar ao mesmo: “Ó Portugal, Portugal, o que é que tu estás à espera?!...” lálálá. Gostar gosto, por exemplo, do Barreto, gosto do Valente, gosto do Pacheco, gosto do Benard e gosto de alguns outros indígenas de topo, poucos. Depois gosto da minha mulher, do meu filho e de empadões e pastéis de nata. E nas eleições voto sempre caso a caso, a mor das vezes em branco. Por isso desamparem-me a loja. Xô. Foda-se.

Igreja da Geografia

Eu também conheço quem faça esta gracinha. É um bocadito mais velho, um bocadito maior e está um bocadito mais adiantado. Mas começou assim:

07/11/07

Cinema, por Frederico Felino

10 negros foram ao cinema, compraram 10 rebuçados de menta e mandaram-nos uns aos outros. Pergunta-se: como é que se chama o filme que eles foram ver?
Resposta no comments.

04/11/07

Provavelmente, o Pior Jogador do Mundo!, por Camacho Vidal

Já faz quase uma semana que o Benfica defrontou o Setúbal numa competição chamada Taça da Liga que não interessa ao menino Jesus. A derrota do Glorioso é irrelevante. Mas o jogo foi chocante para qualquer Benfiquista por uma razão: ele deu-nos a conhecer, provavelmente, o pior jogador que alguma vez envergou aquela camisola, Miguelito, de seu nome!

O Miguelito é tão mau, tão mau que o responsável pela sua contratação lhe devia pagar o salário que aufere todos os meses. A mesma alimária que o foi buscar devia ainda ser processado por gestão ruinosa. Miguelito é magro, franzinito, cai mal o vento sopra mais forte, não tem técncica... Não se alimenta? Não lhe dão almoço no Benfica? O Miguelito não faz a mais pequena ideia de uma coisa tão simples como passar uma bola jogável a um colega - durante o jogo com o Setúbal contei dois passes a três metros que ele conseguiu acertar. Em 90 minutos!!! Os outros foram todos pra fora ou pró inimigo. Um horror! E durante todo o jogo obrigou o Bynia (bom jogador!) e o pobre do Zoro a dobrá-lo constantemente. Não é fácil jogar na mesma equipa do Miguelito. Ele é como aquele miúdo dos nossos tempos de infância que ninguém queria ter na própria equipa mas sempre na dos adversários. Pudesse o Camacho gritar lá pa dentro «Ó Miguelito, és deles» como nós fazíamos em miúdos e outro galo cantaria.

Eu já tinha visto jogadores no Benfica que eram verdadeiras abencerragens. Como os ingleses do Souness, o Thomas, o Harkness e o Pembridge. Vi as equipas inenarráveis do Artur Jorge com os seus Kings, Nelos e Tavares. Até já vi no Glorioso defesas centrais como o Paulo Madeira... Mas como este Miguelito é que nunca se vira. Eu sei como isto tudo começou: foi quando alguém no Benfica se lembrou de comprar jogadores com nomes acabados em ito(s). Primeiro foram buscar um carlitos ao Gil Vicente que nunca deu nada. E, não contentes, mandaram vir outro carlitos do Estoril que depressa emigrou para a Suiça para descanso de todos nós. Pensei que a lição estava aprendida: nome de jogador de futebol que se preze ou acaba em inho (como Robinho, Ronaldinho e Cicinho) ou acaba em ão (como Luisão, Fernandão ou Carlão). Ou era Miguelão ou era Miguelinho. Agora Miguelito...

03/11/07

O Tó tem 308 Pais – por Cão

Vivi anos a fio numa cidade tão fraquinha, que os vereadores locais eram apanhados a lamber placas de trânsito para compensar com ferro a anemia das mentalidades. Era em Portugal, algures. Tirei entretanto a terriola da cabeça, como se faz a um desamor ou a uma lêndea. Hoje, recordei-a porque sim. Devo estar com saudades do ridículo.
O presidente da Câmara era um energúmeno que sujeitava a língua portuguesa a sevícias homólogas às dos curdos no norte do Iraque. Cheguei a sonhar com ele, desejando-o curdo-mudo. Sorte nenhuma, claro: o fulano ainda lá está e manda e pode. Multiplica rotundas por vingança da rotunda asneira que foi elegê-lo. Baptiza bairros da lata com o nome do neto, que é igual ao do avô. Mastiga em voz alta nas tasquinhas, demonstrando à saciedade e à sociedade que quem vê cáries, vê corações. Nas assembleias municipais, é dado a flatulências a que todos, por bondade, chamam discursos. Nos jantares rotários, passa a sopa a dizer mal dos Lyons e depois vice-verseja muito corado e muito contente e muito nutrido e muito redondo – como um bácoro.
A mulher dele, com desgosto dele, passa a vida a arrefecer nas igrejas – em desagravo, não do Coração de Maria, mas do nosso. É uma esposa entristecida: tantos sucessivos mandatos de pública vergonha enxugaram-lhe os fiambres feminis e escureceram-lhe as retinas, arabizando-a para sempre.
O filho é sempre António Francisco: chamam-lhe Tó Chico Dependente, porque, como toda a gente, depende do pai. Fuma tabletes de chocolate marroquino em estações de serviço néonizadas pela dormência pós-moderna do insucesso escolar.
Como as minhas ex-mulheres trabalham todas na autarquia, vejo-me obrigado a cronicar mal dele longe, lá para o Ribatejo, onde, ao menos, me deixam exercer a esperteza saloia de, dizendo mal dum autarca, me arriscar a acertar em cheio nos outros 307 deste País sem vergonha nem remédio.

02/11/07

Aconteceu um aconteceu, por Este Já Não Volta A Acontecer

Só gostaria de pedir o tapor emprestado por alguns instantes, para servir de câmara ardente. Gostaria de fazer aqui o funeral e o enterro do meu blog palavrar, que acaba de finar. O tapor fica assim como que o cemitério do meu primeiro blog.

Podem ver este post assim como se fosse um memorial ao blog desaparecido. Literalmente, já que daquela escrita toda momentosa pouco mais restará do que esta referência neste post, que daqui a uns meses já ninguém lê. Saionara.

Se os blogs fossem livros, este livro já não tinha mais nada para dizer. E pronto, acabou. E assim aconteceu um happening digital intitulado palavrar que começou há 571 posts atrás em 29 de Maio de 2003 e acabou a 2 de Novembro de 2007. A poeira mortal, perdão, digital, fica lá guardada num jarro dentro do meu computador.