30/05/08

Mas Será Que Ninguém Consegue Parar Estes Filhos Da Puta?

por Vá-seEmboraSrPolícia

É de se ficar estarrecido. Li hoje no Público que a ASAE em mais uma das suas patrulhas de guerra, quiçá armada de pistolas-metralhadoras e embuçada de passa-montanhas, invadiu várias cantinas de instituições de solidariedade social e obrigou-os a deitar toneladas de comida fora. Estava estragada? Cheirava mal? Podre? Fora de Prazo? Nope! Era comida doada!


Pura e simplesmente era comida dada! Doada por particulares e generosos das vizinhanças que da sua lavra ofereciam as compotas, as frutas, os frangos, umas broas, umas couves e uns nabos. Para a ASAE isto é um crime de lesa-majestade que pode pôr de rastos o pouco que resta desta amostra de país. Os pobres utentes dessas cantinas podem morrer à fome, mas morrem satisfeitos sabendo que o último quartilho de maçã reineta que conseguiram meter no bucho, era rotulado, certificado e garantido. Morrem com outro tipo de satisfação. Com a barriga vazia, mas prenhes do dever cumprido. Um país não se constrói por menos.


Resta saber qual país. Com toda a probabilidade o quartilho de maçã, rotulado e certificado, era aquela merdunça de água que enche os nossos supermercados, inodora, incolor, sem sabor e made in china. Mas certificado e rotulado. Um dia destes ainda vamos ter orgulho da Grande China que estamos a ajudar a construir.


A ASEA fechou todas essas cantinas. Além das toneladas de comida doada que levianamente aceitaram, as cantinas sociais devem ter cometido o supremo mal de terem azeite sem galheteiro, bolas de Berlim com creme, colheres de pau na sopa e outras selvajarias de igual jaez. Fechadas e esvaziadas podem agora sentir a plenitude do dever cumprido e de terem contribuído para que mais meia dúzia de inspectores asados possam dormir descansados, na certeza de que as metas de criminosos e encerramentos que lhes foram fixados para este mês já estão satisfeitas.


Como dizia o enviado papal à exterminação dos Cátaros: “É matá-los a todos, Deus saberá reconhecer os seus!”


29/05/08

Elogio do Mau Gosto, por Automotora

Um dia, aluguei no meu clube de video um filme de um realizador finlandês. Qualquer coisa assim, não me lembro bem. A partir daí, fiquei lá conhecido como “o senhor que leva filmes alternativos”. Sou um alternativo, portanto. Aquela espécie que vai tirar filmes da Atalanta à ponta esquerda da estante do lado mais húmido e pouco frequentado dos clubes de video. A verdade é que raramente tenho vontade de ir para aqueles lados, mas o empregado, de cada vez que lá entro, insiste em conduzir-me para lá, enquanto vai esfregando as mãozinhas, numa solicitude comovente e irritante. Começa pelo ponto de não retorno: “quer uma sugestão para um filme alternativo?” seguindo-se o fatal “chegou agora este. Não sei se conhece”. Este “não sei se conhece”, remete sempre para “filmografias”. A “filmografia” não é filmes, como diria o julinho; é “filmografia”, cinema feito em países de neblinas eternas para além do Danúbio (esses países são antes de mais um estado de alma, como se sabe).
Mas então, como ia dizendo, acontece que me vejo de repente com o filme na mão. Olho então para o chão, e começo a desfiar uma ladainha ridícula e cobarde: “Olhe, eu hoje estou com um bocado de dor de cabeça, estou cansado, a vida corre-me mal, sofro de stress pós traumático, o iraque não se democratiza, a vida é dura e então quero levar um filme que não faça pensar muito. O amigo desculpe a desfeita, eu tenho muita pena, não é por mal, mas eu hoje vou levar o Mansão Assombrada III”. O empregado, pesaroso, lá sente obrigação de dizer “ah, sim, é um clássico, sim, sim…”. “Mas qual clássico, qual caralho? É só um filme, seu imbecil!”, penso eu, irritado. Mas lá vou dizendo, com humildade, “pois, desculpe… eu juro que para a próxima levo o Quintal das Cerejeiras em Flor, este grande clássico da filmografia da Letónia”.


Feito o negócio, saio porta fora, a sentir nas costas o olhar desiludido do empregado. Fico então paranóico e imagino-o a ligar para os amigos: “ele hoje levou o Mansão Assombrada III, passa palavra”. Coincidência ou não, no fim-de-semana seguinte vou comprar peixe à praça e a dona Alzira olha-me com o cenho carregado e engana-me no peso do pargo. É claro que como sou boa pessoa, (além de cobardolas) uma vez em cada dez dias levo um filme alternativo. Lá vejo. Mas acontece que na maior parte das vezes quero é levar filmes, não sei como diga isto, de “suspanse”, daqueles que aparecem no Expresso com o seguinte aviso desprezivo: “para quem gosta”. Nem bom, nem mau, mas “para quem gosta”, que os vermes não têm escala de valores.


Mas chegados aqui, atenção para o seguinte: Há os vermes que chegam aos clubes de video e perguntam: “chegou algum bom filme de suspanse?”, como se dissessem “tens hoje aí tintol do bom?”. E vai o empregado à pipa e tira um carrascão espumoso. E há os vermes, como eu, que não perguntam ao empregado porque já levam lista de compras, feita logo ali à porta da loja, com base nos cartazes grandes da montra. Mas não sou um verme todos os dias, é preciso que se note. Por exemplo, no outro dia, por acaso noutro clube de vídeo, vi um filme dos Monthy Python, mesmo junto ao balcão. Passei-me, claro. “Olha, tem aqui Monthy Python?!”. E então aconteceu o inesperado: o empregado revira os olhos e olha-me assim como se tivesse reconhecido um irmão da maçonaria. “Conhece? Você é o primeiro que aparece aqui a falar dos Monty Python! É fã?” Élá… pensei eu… se caio nesta, vou ser obrigado a levar também a trilogia do primo mais velho do Kusturica. Reajo então com grunhice marialva: “Eu? Eu ia precisamente perguntar que raio de título é este com dois ipsilons! Tem cá, cof cof, o Massacre no Texas?” Fiquei bem servido na mesma e no dia seguinte corri para a Worten, comprei os gloriosos malucos e fim da história. Um gajo para ter descanso, às vezes é melhor fazer-se de burro.

27/05/08

VISEU NÃO É NA GRÉCIA, por Cão

Peço-vos perdão, mas não ando especialmente entusiasmado com o estágio da Selecção em Viseu. Ainda se o guarda-redes fosse o Vítor Damas… Agora, com estes rapazes que perderam duas vezes contra si mesmos através dos gregos, não. Acho-lhes graça, claro, hoje em dia eles até já nem falam como os polícias de antigamente. Digo-o assim: não me sinto representado por eles. É caturrice minha, eu sei, mas não, não me sinto representado por eles. Nem em Viseu, agora, nem na Suíça/Áustria. Ainda se o centro-campista fosse o Coluna…
Preocupa-me mais a escolaridade do que a “scolaridade”. Peço-vos perdão por isso.
Peço-vos perdão porque vós, como eu, não fostes convocados para nada. Nem para paraísos de hotel, nem para gloríolas pseudopátrias, nem para saúde-educação-justiça gratuitas. Eu não fui. Vós também o não fostes. Ainda se, para a linha mais avançada, tivessem convocado o Jordão e o Eusébio…
Moro como vós em Viseu. Habito, vivo, respiro, trabalho por estas viriáticas fragas. Sei os nomes dos cafés. Sei os nomes das ruas. Dou e recebo os bons-dias nos sítios costumeiros da minha rotina. Falo (e escrevo) com toda a minha escolaridade. Sou talvez feliz, entre o Largo do Pintor Gata e o Largo do Major Teles. Mas não vou à bola com toda a bola que me queiram fazer engolir em vez de pão (olha o preço do pão), em vez de arroz (olha o preço do arroz), em vez de gasóleo (olha o preço do gasóleo).
Sou, sim, apenas um dos tristes que não aceitam que lhes/nos chamem nem parvos nem alegres. Ainda se me chamassem Carlos Lopes, que nunca jogou à bola mas foi o maior desportista português de sempre e até é de Vildemoinhos…
Agora, ver-me grego é que não.
Não.
Nunca.

O Menino Do Rio anda a comer A Garota de Ipanema, por Mangas


Image hosted by Photobucket.com

Era bem visível o estado de cansaço de Menino do Rio. Depois de vinte e seis anos às voltas nas rádios, sobrava-lhe pouco da letra repetida e gasta. Trazia no peito as palavras, “menino vazio” quando conheceu a Garota de Ipanema num bar de praia onde ela costumava entrar e ficar à espera. Esperava que Tom Jobim e Vinicius se sentassem uma última vez na mesa do canto, com um violão debaixo do braço e uma melodia de improviso saltitando nos dedos para cobrir de bossa-nova a saudade.

Garota era uma saudosista. Menino ardia de ciúme cada vez que Caetano cantava Você é Linda. Nessa tarde foi tudo muito mais do que um flirt. E nas noites que se seguiram, Menino e Garota conheceram de novo o caminho do mar num quarto apertado de hotel barato e onde não coube mais a ausência dos seus criadores.

Menino do Rio ia sempre na frente. Garota de Ipanema vinha ao seu encontro. O balanço das coxas em forma de ondas do Hawai, um sorriso tatuado nos lábios, flutuando descalça pela calçada. Encontrava o quarto pela porta onde, longe dos fãs e das grafonolas das rádios, Menino pendurava sempre um letreiro que dizia: menino vadio.

22/05/08

A Minha Sugestão Musical de Hoje às 22. 55, por Volátil

Hoje aproveito as páginas do Tapor para deixar uma listinha singela de sugestões musicais. São algumas das que gosto mais na vida... neste momento (amanhã já serão outras). Podem ir ao you tube ouvi-las e vê-las, mas melhor ainda é sacá-las do Rapid Share e depois apagá-las, claro, porque o RS é um programa para nos ajudar a conhecer as músicas e prontos… As minhas sugestões têm a ver com o tipo de música que eu gosto de ouvir durante as diferentes horas do dia. Acho que é muito claro que a música tem as suas horas, como as pessoas. Há músicas que eu nunca ouviria de manhã e que à tarde ou à noite podem cair muito bem... Então cá vai:

Músicas para ouvir da parte da manhã:
Beatles - Good Day Sunshine; Dick Farney - Teresa da Praia; Toquinho e Vinícius - Tarde em Itapuã; Supertramp - Hyde in your Shell; Haircut 100 - Love plus one; Manu Chao - Me gustas tu; Beck- Tropicalia; Jack Johnson - Bubble Toes.

Pra depois do almoço - Depeche Mode - On your Room; Stones - Once i started; John Cale - Aleluia; Riuchy Sakamoto - Diabaram; Rufus Wainwright -Cigarettes and Chocolate Milk; Massive Attack - Karma Koma; Iggy pop - in the death car; Lou Reed - Walk on the wild side.

Prá tarde - J. Geils Band - Centerforld; Xutos e Pontapés - Ai se ele cai; Pearl Jam - Even flow;
Luciano Pavarotti & Jovanotti - Serenata Rap (Live 1995); U2 E Green Day - The saints are coming;

Prá tardinha - Charles Trenet - La mer; Frankie Vallie - Can`t take my eyes off of you; Elvis Costello - She; Air - All i need; Portishead- glory box; Nick Cave & The Bad Seeds - Into My Arms.

Prá noite:
Jestofunk - Can we Live; Chico Science e Nação Zumbi - Maracatu Atômico; Amy Winehouse - Rehab; The Pretenders - Brass in Pocket; The Strokes - Last Nite; White Stripes - Seven nation army; Stones - Star, Star; Smashing Pumpkins - Everlasting Gaze;

Noite Dentro - Herbie Hanckock - Cantaloupe; Bill Evans - You must believe in spring; Keith Jarreth - Qualquer uma dos Koln Concerts; Delibes - Lakmé; New York Jazz Quartet - Placitude; Glen Gould - qualquer uma das English Suites de Bach; Antony And The Johnsons - Hope Theres Someone; Frank Sinatra - My Way;

Já noite, muito, muito dentro - Amália Rodrigues - De Quem Eu Gosto; Henry Mancini - Moon River (na versão do miúdo que está no You Tube e que faz parte da banda sonora do Mala Educatión do Pedro Almodóvar (busca em moon river mala educatión); Marylin Monroe - Diamonds are the girls best friends; U2 e Pavarotti - Miss Sarajevo; Tom Waits - The Piano has been drinking; Roy Orbison- in Dreams; Irmãos Catita - Drogado

Noite ainda mais dentro - Bee Gees - Night Fever; Tom Jones - it`s not unusual; David Bowie e Mick Jagger- Dancin in Street; Village People - YMCA; Ricky Martin - La Vida Loca; Ça Plane Pour Moi (embora seja um original da banda punk francesa Plastic Bertrand, prefiro a versão dos Pigloo dos desenhos animados); Mika- Lollipop; Mory Kanté- Yeke Yeke;

Noite mesmo boé da dentro -
Ramones - Sheena is a punk Rocker; The Clash - I Fought the Law; Red Hot Chilli Peppers - Give it away; The Velvet Underground - Sweet Jane.

Acabo com a minha sugestão de world music, música de todo o mundo, boa em qualquer hora do dia ou da noite - o Marroquino Cheb Khaleb - Moule el Ma , o Paquistanês Nusrat Fateh Ali Kahn - Sano Ik Pal Chain, o monhé Nitin Sawhaney - Broken Skin e o cigano Bósnio Goran Bregovic - Ederlezi.

20/05/08

Morte aos bons da fita!, por Ferrabrás

É verdade que sempre me irritaram os chatos dos bons-da-fita! Sempre me conheci assim: os bonzinhos sempre me chatearam, no mundo dos filmes, como na vida real, que hei-de fazer…

Lembro-me, era miúdo, de ver os cartoons do Beep Beep e de torcer pelo Coyote. De nada lhe valeu a minha simpatia, o desgraçado do Coyote passou todo o tempo que durou a minha infância a ser gozado, humilhado, baleado, esmagado e explodido pelo infalível Beep Beep…Apesar da série ter uma violência íntrinseca – hoje politicamente incorrecta - que não me desagradava de todo, o Beep Beep, sempre vitorioso e risonho, irritava-me ao ponto de me obrigar a desligar a TV. E quem diz o Beep Beep diz esse outro bonzinho nojento, o Piu Piu, um queixinhas abjecto que passou toda a santa vida a massacrar o pobre do Silvestre. E o Speedy Gonzalez, o rato que assassinou mil vezes o Duffy Duck… E muitos, muitos outros…

Nos Westerns eu simpatizava com os índios que eram invariavelmente apresentados como os selvagens de serviço – ainda não suspeitava que a história viria a dar-lhes razão, invadidos e expulsos que foram da sua própria terra por hordas de Europeus que não tinham lugar na Europa. Tantas vezes vi o Bonanza à espera que um índio fosse aos cornos ao Hoss e ao seu angelical irmão, o eunuco Litlle Joe... Mas não, o Hoss e o Joe venciam sempre e os índios acabavam invariavelmente lixados, atirados para a Reserva, sem um escalpezinho de recordação para contar aos netos...

Não era só no cinema, na vida real eu também detestava os Pompeus das minhas e de todas as turmas, impavidamente cumpridores, disciplinados e estudiosos, ainda petizes e já exemplares cidadãos. Os Pompeus eram os correspondentes na vida a sério dos Beep Beeps e dos Piu Pius. Na minha turma do Liceu havia um tipo que encarnava todos os Pompeus deste mundo - o jovem-velho Batenabó que, aos 16 anos já tinha o ar amarelecido que ainda deve ter hoje, eternamente previdente com o seu inseparável guarda-chuva-all seasons que o acompanhava quer chovesse quer fizesse sol. Irritava-me o Batenabó, certinho como um Piu Piu, erecto como um Beep Beep, angélico como um Joe de um Bonanza qualquer…

É pois inteiramente verdade, confesso, eu nunca fui um grande admirador dos bons-da-fita, muito pelo contrário, e sempre sonhei, secretamente, com um mundo em que, finalmente, os maus se erguessem das cinzas e se vingassem de anos e anos a apanharem dos bons. Como eu sonhava com touradas na TV em que o touro saltasse a barreira e danasse tudo à marrada, tudo, capinhas, forcados, cavaleiros e cavalos, aficcionados e corneteiros… Qual Manolete, eu torcia mesmo era pelo Miúra!

19/05/08

Shine a Light, Os Rolling Stones Como Nunca se (Ou)Viram, por Dandelion

Shine a Light é um filme sobre os Rolling Stones. Mas é sobretudo um filme de Martin Scorsese. É uma peça para guardar do ponto de vista do estudioso do cinema: Scorsese ensina-nos como é possível controlar absolutamente um ambiente produzido ao pormenor do ponto vista visual e sonoro. Aconselho o seu visionamento a todos os alunos de cinema e em particular ao meu amigo cineasta, M.C.S. (hello mene, um grande saravá para ti no caso, improvável, de algum dia leres isto). A maior dificuldade de Scorsese parece que foram os próprios Stones que não foram capazes de lhe fornecer, sequer, o alinhamento das músicas que iriam tocar a não ser uns segundos antes da entrada em palco da banda com JJ Flash.

Os Rolling Stones já foram filmados por grandes realizadores – Godard deixou um documentário histórico das gravações de Beggars Banquet e apanhou os primeiros acordes do, à data, inédito Simpathy for the Devil.
Al Ashby filmou a mítica digressão de 1981 num célebre concerto em Filadélfia. Depois há uma série de grandes concertos que, embora sem assinatura de grandes nomes do cinema, ficaram na história do Rock n`Roll filmado. Os Stones em Hyde Park, o concerto que homenageia o recém falecido Brian Jones em 69 e que conta com a participação do novo guitarrista da banda Mick Taylor é, obviamente, um marco. Um pouco mais tardio, mas igualmente histórico, é o filme sobre o festival de Altamont, um documento sobre o caos que degenerou em tragédia ( a morte de um indivíduo pelos Hells angels enquanto a banda interpretava Simpathy for the Devil).
A produção cinéfila inflacionou nos últimos anos – só os 3 compact-dvd sobre a Licks Tour (essa mesma que passou em Coimbra) consta de cerca de 15 horas de música! E há mais uma série de coisas menores das digressões anteriores… E já que estou a fazer o registo das filmagens acerca da banda não posso deixar de assinalar o mítico Cock Sucker Blues, filmado pelo grande fotógrafo Robert Franck e proibido pela banda ou o fabuloso Rolling Stones at the Abbatoirs, em Paris, para mim, o melhor filme-concerto da banda. Agora é a vez de Martin Scorsese com Shine a Light.

Scorsese sempre foi um indefectível stoniano e os seus filmes estão cheios de referências musicais do grupo (assim de memória lembro-me de ouvir Tell Me num dos primeiros, Jumpin Jack Flash e Gimme Shelter no último, entre outras). A ideia de fazer um filme sobre a banda foi, obviamente, bem acolhida, dado o estatuto galáctico do realizador. Mick Jagger pretendia que o filme documentasse o mega-show que a banda deu em Copacabana para cerca de um milhão de pessoas. Mas Scorsese preferiu um ambiente mais intimista, que podia controlar melhor do ponto de vista cinematográfico. A escolha recaiu sobre o Beacon Theatre de Nova Yoork, uma pequena sala com lotação de 2000 lugares. O filme é uma selecção feita a partir dos dois concertos dados no Beacon.

Em relação a toda a anterior filmografia da banda, Shine a Light é uma inovação absoluta. Basta compararmos o início do concerto filmado por Scorsese com outros inícios de outros filmes. Al Ashby, por exemplo, filma o concerto de 1981 em Filadélfia de modo a captar a grandiosidade de um estádio com lotação para 150 000 pessoas completamente à pinha. Os Stones parecem formigas no palco e o realizador intensifica este efeito de esmagamento recorrendo à filmagem aérea do estádio e da cidade. Podem apreciar aqui: http://www.youtube.com/watch?v=D_Bxgiof7So.

Agora comparem com a entrada da banda, JJ Flash, em Shine a Light – http://www.youtube.com/watch?v=276YvPgwGQA

Notaram a diferença? Pois é: Shine a Light é um filme de grandes planos, Scorsese não procura disfarçar mas enfatizar as rugas dos membros da banda. O olhar de Scorsese é diferente, ele vê o mito tal como é, sem disfarces nem maquilhagens, e fica ao critério de cada um saber se isso é apologético ou, simplesmente, cruel. O grande plano é de facto uma das marcas do filme, um olhar microscópico até ao exagero (nem vou entrar nos pormenores orgânicos como a transpiração e afins captados pelas câmaras de scorsese).

Ou seja, enquanto Ashby e, já agora, a generalidade da filmografia feita até hoje, reforçava o mito e a sua grandiosidade, acentuando a distância entre as individualidades da banda e a multidão, Scorsese faz, precisamente, o contrário: colocando-nos no centro do palco, praticamente na pele dos músicos, acaba por «des-mitificar». Shine a Light é um filme de dedos, de pele, de olhares de cumplicidade entre os músicos, de expressões - de gozo, de diversão, de cansaço, assim como indecisões e até de ternura. É um filme profundamente visceral.

Daqui resulta o oposto do filme de Ashby: a humanização da banda, brilhantemente conseguida pelo olhar terno de Scorsese, um apaixonado pela banda. Salvaguardadas as distâncias entre Jesus Cristo e os Rolling Stones (não consta que Cristo tenha feito uma só música ao nível de Start Me Up), deste ponto de vista, Shine a Light faz lembrar um outro filme de Scorsese: A Última Paixão de Cristo. Também aqui, baseado nos Evangelhos Apócrifos, o realizador leva a cabo o retrato de um Jesus de rosto humano. No fundo é ainda a mesma tentativa de dessacralização, agora da banda, que vemos em Shine a Light.

Na primeira parte do filme, Scorsese está tão preocupado com os detalhes do que se passa em palco que quase não vemos o público. As câmaras quase que estão de costas para a plateia, estamos mesmo em cima do palco. Na segunda parte, marcada pelo reportório clássico da banda (Start me up, simpathy for the devil, brown sugar, satisfaction), tudo muda – até luz - e Scorsese filma a euforia da assistência, usando as câmaras por detrás dos músicos e de frente para o público (gostava de saber a quantidade de câmaras usadas, tal é a sua profusão, entre os músicos, atrás dos músicos, à frente, no meio do público, no alto, em baixo, há câmaras por todo o lado apanhando as reacções das pessoas e a magnífica arquitectura do Beacon Theatre . É uma lição no domínio do ambiente e não admira porque há aqui dois mestres à solta: Mick Jagger, o animal de palco, e Scorsese o herói do olhar.

No entanto há uma nota de artificialidade que não passa despercebida. Reparem no público das primeiras filas… Pois… Tudo belos e jovens exemplares, principalmente, gajas e todas de tops Armani ou coisa que as valha… Ninguém me convence que é por acaso: obviamente aqui houve selecção, eventualmente, agência de modelos contratada para mobilar as primeiras filas que vão aparecer no filme. Creio que aqui Scoresese não resistiu e criou uma nota dissonante na tendência geral de des-mitificação própria do filme. Perde-se alguma coerência, até porque é visível que muitas daquelas garinas não são suficientemente fanáticas nem versadas no reportório da banda. Não é que não sejam mais agradáveis à vista, mas por imperativo de coerência, pessoalmente, teria gostado mais de ver ali fãs genuínos.

Deixo ainda uma nota para um equívoco que passa na publicidade ao filme: Shine a Light não é um documentário. É o filme de um concerto ou melhor de dois concertos realizados pelo grupo no Beacon Theatre. É verdade que há uns filmes antigos pelo meio com entrevistas aos membros da banda e apanhados de Have you Seeen Your Mother Baby…, de 1968, para ilustrar a histeria das fãs. O denominador comum dessas entrevistas parece-me ser, mais uma vez, a tentativa de humanização da banda. Jagger aparece muito novinho a dizer que está muito admirado com os dois anos da banda e que acha que se vão aguentar mais um; noutro clip diz que se vê perfeitamente a tocar aos 60 anos. Quem vai para ver um documentário, desiluda-se: o filme não é sobre a história dos Rolling Stones. Não há referências a Brian Jones, nem a Mick Taylor, nem a Bill Wyman, nem a Ian Stewart. Não é esse o objectivo do filme. Trata-se simplesmente de um concerto, entrecortado com filmes antigos da banda que, ainda assim, podiam ser mais.

Uma nota final ainda para um dos melhores aspectos do filme: a qualidade absolutamente extra do som. De facto, é como estar num concerto mas em certos aspectos ainda é melhor porque a qualidade do som é fantástica. Scorsese chega a pormenores em que amplia guitarra de Richards ou de Woods para corroborar uma expressão, por exemplo. Aquilo resulta em cheio. Um dos momentos mais altos nesse aspecto é o excelente diálogo entre as guitarras de Richards e de Buddy Guy em Champagne and Reafer. Sinceramente já vi um concerto da banda – o último de Alvalade – em que o som estava bem pior do que no filme. E paguei bem mais... Portanto, para quem nunca viu os Stones ao vivo, eu aconselho vivamente este filme e num écran de cinema, nunca no miserável vídeo lá de casa. E para quem já os viu, aconselho na mesma: é a oportunidade de (ou)ver os Stones como nunca se (ou)viram.

12/05/08

Foda-se!, por Basbake

Esta ninguém me contou: ouvi eu da boca do próprio, ao vivo e em directo num programa da TSF, o sr. dr. Almeida Santos, figura próspera do pós 25 de Abril, a responder assim à pergunta do jornalista, «se era um homem rico» (as palavras são minhas mas reproduzo fielmente o que ouvi):

- Não sou rico, blá, blá, blá.. . Sim, porque eu sou um político e os políticos ganham muito mal, como sabe. Eu sei que há pessoas que não concordam, mas tenho-me batido ao longo dos anos para que aumentem os políticos que ganham muito mal. Eu, por exemplo, sabe quanto ganho? Ganho uma reforma de 700 contos por mês. Ridículo!!
... aqui fui eu que pensei que tinha ouvido mal, talvez ele tivesse dito 700 escudos ou euros, sei lá, fiquei na dúvida... Mas eis que, de novo, repete o Dr. para desfazer a minha incredulidade:

- 700 contos por mês. É r-í-d-i-c-u-lo!!! Se não tivesse juntado um pé de meia ao longo do tempo, não sei como é que me aguentava à tona...
E prontos. Eu juro que ouvi mesmo isto, dito por este senhor, ninguém me contou. E não sei em que mundo vive este indivíduo, se isto é demonstração da mais completa alienação da realidade, se de falta de pudor. Porque isto ofende. Nem sou capaz de criticar. Só me ocorre uma palavra à cabeça repetida mil e mil vezes: foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se...

pic de Elliot Erwitt e eu sou o cãozito espantado e chamo-me Basbake...

08/05/08

Agora Deu-me Pá História, por Infante Santos

Foi uma espécie de nostalgia dos tempos em que tive os melhores professores da minha vida: os, coincidentemente, mestres de História, profes Monteiro e Beatriz, dois verdadeiros mitos, dois ícones que ainda hoje são venerados por todos nós, os dinossauros do Tapor. Nem faço ideia se os professores Monteiro e Beatriz ainda se lembram de nós. Mesmo que se lembrem certamente não sonham que ainda falamos deles com o respeito e a admiração que nos merecem aqueles que nos marcam para sempre. Eram os velhos tempos do Dona Maria, eram os tempos em que conversávamos sobre História nos feriados e nos intervalos das aulas.

Mas a História perdeu-se. No país dos ingenheiros com cursos tirados ao Domingo que chegam a primeiro-ministros, a História passou a ser considerada uma disciplina mais ou menos obsoleta. A disciplina perdeu o espaço nobre que tinha nas escolas e nos programas de ensino. Perdeu espaço na Televisão, nos jornais, nos Media em geral. O espaço nobre é agora ocupado por eminências pardas saídas das faculdades de eduquês, de pedagogês e de economês. Falam os Valteres de carapinhas e gravatas garridas... Já não se fala de História, muito menos se discute História. Até o Cavaco (pasme-se!!!) vem refilar porque as novas gerações já não têm memória (surprise!).

É inconcebível que um país com cerca de nove séculos, como o nosso, tenha assassinado desta maneira uma disciplina tão fundamental. Os putos do secundário ignoram profundamente quem foram os nosso reis, os nossos feitos e os nosso defeitos. E lamentam-se, a culpa não é deles que já não dão História de Portugal, uma coisa obscura e pequenina perdida no emaranhado de programas que a reduzem a um capítulo da História Europeia.
Compare-se com os Americanos: os EUA são uma invenção recente. Têm um património histórico incipiente ao pé do nosso, são praticamente bebés... O património histórico americano não passa dos 400 anos, uma parte dos quais entretida a matar índios e a empurrar os nativos para o extermínio. E, contudo, ao contrário de nós, os Americanos conseguiram que todo o mundo falasse da sua história e dos seus heróis. Desde logo fizeram de Colombo, um sanguinário que chacinou sem dó nem piedade os índios da América (não lhe retiro os méritos, mas é o que ele foi, entre outras coisas) um vulto misterioso e grandioso. Criaram uma mitologia à volta da data de 1492, tiveram grandes personagens que não esquecem e chegaram mesmo ao ponto de fazer do deserto um cenário épico. Trasnformaram a sua política de genocídio metódico numa saga gloriosa, fazendo dos bons (os índios que lutaram pela sua terra) os maus e dos maus (os cowboys que invadiram nações alheias) os bons. O cinema - de Ford, de Hawks, dos clásicos - foi peça chave na construção do mito.

Em contrapartida que fizemos nós da nossa fabulosa história - dos tempos da reconquista, de heróis como Gonçalo Mendes da Maia, da luta pela independência face a castela, do Mestre de Avis e de Nuno Álvares Pereira, do extrordinário percurso da Ínclita Geração, do carácter pioneiro e visionário do rei D. João II, o Príncipe Perfeito? Tirando um breve apontamento de Manuel de Oliveira no cinema, não conheço nada de relevante que, nesta área se tenha feito sobre o teenager, Sebastião... Ignoramos completamente o papel de D. António , Prior do Crato um notável resistente ao jugo de Filipe II; pouco sabemos sobre a corte castiça que fugiu de Napoleão para o Brasil... Em suma, excluindo os profissionais do ramo, bem se pode dizer que desprezámos e continuamos a desprezar o nosso riquíssimo património histórico. Tivessem os americanos material deste à sua disposição e estaria o mundo inteiro a ver filmes sobre Bartolomeu Dias e Diogo Cão, sobre D. Afonso Henriques, sobre o Infante D. Pedro. Já um Ford se teria levantado para filmar a história da batalha de Alfarrobeira, de Aljubarrota, do Toro, sei lá que mais.

É, pois, curioso que numa das minhas incursões sobre o século XV - uma das épocas da minha predilecção - me tenha vindo parar às mãos um livro sobre os notáveis acontecimentos que se passam na segunda metade deste século na Península Ibérica. Acontecimentos tão decisivos como o lançamento da Segunda Inquisição em espanha, a expulsão dos Judeus e dos Mouros da Penínsual, o ínicio dos Descobrimentos portugueses na costa Africana e a descoberta da América. Esta é uma época fabulosa em que coe-existem personagens tão fascinasntes como os reis católicos de espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, D. Afonso V de Portugal e seu filho D. João II, o mouro trágico Boabdil, último rei de Granada, o inquisidor-mor Juan de Torquemada, o Judeu Abravanel, o papa Alexandre VI, um dos tristemente célebres Bórgias também ele espanhol de nascimento e, claro, Cristóvão Colombo. O livro que fala de tudo isto numa linguagem acessível para nós, os leigos, chama-se Os Cães de Deus (ed. Bertrand) e, curioso, é da autoria de James Reston Jr, um historiador... Americano!

É o tipo de livro que relança em nós o bichinho da História. É certo que lhe apanhei algumas falhas, algumas iaprecições injustas e despropositadas, alguns comentários falaciosos. Mas não importa. Tem qualidades nas quais devíamos meditar porque se trata de um americano a escrever sobre nós de uma forma que considero aliciante e motivadora. Num país que é um deserto nesta matéria, em que as obras que se publicam têm um insuportável aparato académico, o livro de Reston não pode deixar de ser saudado e meditado. Que no cinema eles, os americanos, nos dêm lições, não é nada de invulgar, mas que até no ramo da história tenha que ser um americano a vir dizer-nos o quanto a nossa história é interessante, dá que pensar.

P.S. Considero que há, porém, uma excepção no panorama da nossa literatura historiográfica: o grande escritor, português de gema, Fernando Campos, autor de, entre outras, obras primas como A Casa do Pó ou A Esmeralda Partida. Campos é excepcional e merece um post pra um dia destes.

07/05/08

A Diferença Entre os Perfumes e os Leitões à Bairrada, por Pepe Le Phew (reprise)

Os perfumes são um dos produtos mais estranhos da indústria da vaidade. O olfacto é um dos sentidos mais esquecidos no ser humano. Não é que os cheiros não sejam importantes (são-no e muito), mas, por razões que não importa agora adiantar, não temos uma cultura do olfacto e não o educamos, como fazemos, por exemplo, com a visão, o paladar ou a audição.

Uma vez, o Zebu aqui do Tapor, humilhou-nos a todos quando nos fez um teste aparentemente banal que era o de identificar, entre várias amostras, os correspondentes aromas vínicos de baunilha, banana, cacau, compota, couro e mais uns quantos. Tirando o Mister, um verdadeiro nariz de excepção nas provas de vinhos, nenhum de nós acertou em mais que dois perfumes. Sentimo-nos desolados, perdidos para sempre para a nobre prova dos vinhos… Mas no fundo percebemos que a nossa inaptidão é a norma e não a excepção.

É por isso que eu acho que os perfumes são, em grande medida, produtos de marketing, isto é, que os escolhemos muito mais em função da força e da imagem das marcas que estão por detrás deles do que por uma inclinação natural e subjectiva do nosso olfacto. Quando se trata de escolher entre um leitão e um queijo da serra, aí sim, podemos dizer que é o nosso gosto o elemento determinante. Mas quando se trata de um perfume – embora admitindo uma base natural, claro – creio que o que nos leva a decidir é muito mais a imagem associada ao produto, a força da marca, o logo, do que a nossa apetência natural para o aroma citrino em vez do floral.

Movido por esta convicção, comecei a pensar qual a imagem que as diferentes marcas de perfumes procuram associar aos seus produtos. O exercício é interessante. Cheguei à conclusão de que há estratégias muito diferentes. Há de tudo: marcas mais convencionais como a Burberry que vai ao ponto de ter um perfume com a designação de Baby Touch! Límpidas e vitalistas como a Armani com a utilização de um símbolo tão positivo como a água (Acqua), também utilizada pela queque Lacoste (Eau); marcas higienistas como a Bitoherm com os seus Anti Pollution ou Anti Desséchement; nacionalistas como a E. Zegna (o protótipo italiano) e, sobretudo, Tommy Hilfiger, símbolo do espírito americano, a piscar um olho à juventude (a própria designação de Tommy em vez de Tom, só por si, já remete para esses valores).

Mas depois notei que embora a maior parte dos perfumes se afirmem pelas suas imagens específicas vocacionadas para segmentos de mercado bem definidos, há uma espécie de valor transversal que a maior parte procura atingir. De um modo geral, pareceu-me, a associação entre o perfume e a sensualidade ou mesmo a sexualidade, a transgressão, o desvio, são comuns à maior parte das marcas e nalguns casos,constituem mesmo a sua imagem principal. Repare-se na lista:

A Calvin Klein é a que mais assume esta vertente transgressora e sexista. Deixando de lado as fotos (Kate Moss, Kate Moss) e os slogans da marca, basta repararmos apenas nas designações dos produtos CK: Contradiction, Obsession Escape, Euphoria.

Mesmo as marcas mais clássicas com a Yves-Saint Laurent (Ópium, Champagne, os estados alterados, a embriaguez) ou a intemporal Chanel não fogem à regra. O caso da Chanel é interessante: por um lado a marca cultivou, historicamente, designações mais ou menos neutras como nº 5, nº19, Cristalle ou, simplesmente, Coco, o nome da grande mentora da firma. Mas ao mesmo tempo foi obrigada a ultrapassar esta aparente neutralidade. Por isso associou o célebre nº 5 a Marylin Monroe e mais tarde a Catherine Deneuve, simultaneamente bombas sexuais e mulheres sofisticadas. Hoje o 5 ainda é um dos maiores sucessos da Chanel, mas o número já perdeu a sua neutralidade. Foi transfigurado pela sua associação a Marylin, principalmente a ela. A Chanel tentou transformar o 5 num símbolo do erotismo. Há quem diga que conseguiu, principalmente, aqueles gajos que não podem ver o nº 5 sem ficarem excitados ;-)

A lista de perfumes que associaram a sua imagem aos valores do erotismo e da transgressão é imensa e eu não parava mais: Dior - POISON , Eau Sauvage; Hugo Boss - BOSS WOMAN DEEP RED, DARK BLUE; Gaultier – Le Male (jogo fónico, o mal e o macho (Male); Lempicka - LOLITA LEMPICKA ; Escada – Magnetismo; etc, etc, etc.

De facto, a indústria da perfumes é um compêndio do erotismo humano. Resume todas as transgressões, fetiches, pulsões e obsessões da natureza erótica do homem. Apesar do seu carácter etéreo o mundo da indústria dos cheiros é muito mais pensado do que se possa imaginar à primeira. Nenhuma indústria age ao acaso. Muito menos uma tão importante como a indústria da vaidade.

04/05/08

Elogio do Golfe, por Boby Peru



Há quem diga que o golfe é um desporto para velhos mas não é verdade. A elasticidade que é requerida para fazer movimentos tão complexos como o swing ou simplesmente para colocar a bola como deve ser no tee (como se vê na foto) não estão ao alcance de qualquer cota. E já repararam bem na quantidade e na variedade de tacos existentes? Acham que é um velhote qualquer que sabe escolher o taco indicado para bater o shot certo (atente-se no saco e nos tacos da segunda foto)? Por aqui se vê que o golfe vale a pena e quenão é nada um desporto pa velhadas. Ah, é verdade, a jovem da foto é a Anna Rawson, a nova coqueluche do golfe australiano. Até me esquecia...

01/05/08

Que Pena Que Eu Tenho De Não ser o Pedro Almodovar, por Pepe Pintelho

Que pena que eu tenho de não ser o Pedro Almodovar para poder filmar, como só ele sabe, a história que me contaram hoje e que reza assim, dois pontos:
passou-se na mítica povoação de Balhulhos de Baixo, freguesia de Cedofeita, com os seis irmãos Bacalhauzadas. Os Bacaulhauzadas são conhecidos em toda a aldeia por serem exímios matadores de porcos. Mas não andavam satisfeitos com a sua arte porque os desgraçados dos porcos esperneavam, grunhiam e resistiam, levando muito tempo a morrer, num cenário atroz. Até que o Manel Bacalhauzada, rapaz sempre atento a estas coisas do progresso, soube que nos matadouros modernos os bácoros são mortos através do disparo de uma agulha mortal e infalível a qual, uma vez disparada de uma pistola que lhes é encostada à cabeça, atinge o animal no sítio preciso. Parece que o bicho nem chega a saber o que lhe acontece e cai morto instantaneamente sem soltar um ai, sem esbracejar, sem sangrar e sem grunhir que nem um desalmado. E o Manel Bacalhauzada pôs-se a cismar...

Pensou o bom do Manel que, não tendo tal pistola star treck, podia, talvez, uma cavilha e uma marreta fazerem o mesmo efeito. E, como quem não tem cão caça com gato, à boa maneira portuguesa, assim resolveu improvisar. Num certo Domingo, pela manhã os seis irmão Bacalhauzadas foram-se a um porco e, enquanto cinco deles agarravam o infeliz, o Manel encostou a cavilha à cabeça do animal e zás, deu-lhe uma marretada na nuca. A expectativa era que o animal caísse de imediato, redondo e limpinho que nem uma pinha madura, como acontece aos do matadouro. Mas a coisa correu pró torto. O desgraçado bácoro não só não morreu, como grunhiu, esperneou e foi preciso mandar-lhe mais umas marretadas nuca abaixo. Foi então que o infeliz do porco se conseguiu soltar e largou a correr, Balhulhos fora, com uma cavilha espetada na nuca com a extremidade da mesma a sair-lhe pelo queixo. Uma espécie de rinoceronte, mas com o corno ao contrário, a sair-lhe por baixo e não por cima.

O animal terá feito um estrago desgraçado na vila: terá entrado missa adentro e dado umas cornadas nalguns incautos, até ser finalmente apanhado na Ribeira Milagrosa que com mais razão ficou para assim ser chamada pois que lá se achavam animais extraordinários como este infeliz porco-rinoceronte que o Pedro Almodovar, tenho a certeza, gostaria tanto de ter filmado. Se soubesse...