02/01/10

A Star is Born, por Sr. Alfredo

Ana Moura não é apenas uma cantora de fado, uma excelente cantora de fado. Ela tem algo mais, tem presença, tem aura... Faz lembrar uma sibila, tem uma aura antiga e pagã e o facto de ser cantora de fado não é alheio a esta evocação. Com certeza, se fosse cantora de um outro género musical que não o fado, não despertaria esse sentimento. Mas, sendo como é uma espantosa fadista, não posso deixar de a ver como a continuadora de uma longa tradição que vem de Amália, de Teresa de Noronha, de Marceneiro... Ela não é só ela: é ela e esta grandiosa tradição. Ana está, umbilicamente, ligada ao nosso passado mais profundo.

Mas, simultaneamente, Ana Moura tem uma inequívoca dimensão de super star que é imediatamente perceptível, mesmo sem a ouvirmos cantar. Quem já a viu/ouviu em corriqueiras entrevistas televisivas sabe do que falo. Ela tem uma presença absorvente, não é uma simples mulher bonita. Enche o écran, como deve encher o palco (ainda não a vi ao vivo). Sabe exprimir-se e, ainda que não seja verdade (não sei se é nem se não), dá-nos a impressão de uma grande autenticidade. Ela é, pois, do passado e do futuro, é tradicional e moderna ao mesmo tempo,é xaile negro e glamour, é sibila e super-star...


Tim Ries, saxofonista de longa data dos Rolling Stones reconheceu-lhe o carisma quando a convidou para o projecto Stones World. Ries reuniu músicos de diferentes géneros musicais para gravar novas versões dos clássicos da banda. A Ana coube No Expectations e Brown Sugar. Mais tarde haveria de ser convidada por Jagger e por Richards para cantar com a banda, em pleno estádio «Alvalixo», No Expectations (diga-se de passagem que não correu nada bem, embora por motivos alheios à fadista: o som estava péssimo!). E, mais recentemente, foi Prince quem se apaixonou pela sua música (só?). O Artista veio a Portugal, Ana tem ido a Detroit e estamos à espera de um disco do duo...

O seu penúltimo disco, Para Além da Saudade, é o que mais passa no meu leitor de CDs. Tenho uma sensação que deve ser parecida com a dos meus pais quando apareceu a Amália. Até ouvir este disco eu pensava que o fado era um género musical prisioneiro dos velhos cds da Amália. Mas agora vejo que não. A Ana Moura não é a Amália e nunca virá a sê-lo. Mas é sem dúvida um imenso sopro de vida num género musical que precisava desesperadamente de uma estrela a sério e não só de simples estrelas locais. Ana Moura, que é antiga e moderna, por mais paradoxal que isto possa parecer, é essa super-star.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os búzios:

http://www.youtube.com/watch?v=zreA3NgiPYE

Sr. Alfredo

Anónimo disse...

Ou então, No expectations, de Stones World:

http://www.youtube.com/watch?v=ZEgejkgkRGo&feature=related