03/07/08

A Arte do Cover: The Clash, London Calling, por Ted Tampinha

London Calling, o melhor disco da melhor banda Rock depois dos imortais The Rolling Stones, os igualmente imortais The Clash, não vale apenas (!) pela qualidade musical. Tá bem, eu sei que é o álbum de Brand New Cadillac, de The Guns of Brixton, de Spanish Bombs, de Train in Vain, de Death or Glory ou de Lovers Rock, entre tantos outros clássicos da banda. É que a capa do disco é uma peça de arte ao mesmo nível da música. Da autoria de Ray Lowry (design) e Pennie Smith (foto), o tema do cover é simplesmente uma foto a preto e branco do guitarrista, Paul Simonon, a destruir a guitarra num concerto da banda no Palladium de NY em 1979. Surgido nesse ano, portanto, em plena euforia Punk, a capa reflecte a energia, a força, até mesmo o carácter violento da banda, valores de referência da linguagem rock. É por isso que, ainda hoje, este é considerado um dos melhores covers da história (não acreditam pesquisem no google as listas dos indefectíveis).

Trata-se de um cover marcante também pelo contexto em que surge, logo a seguir à explosão dos Sex Pistols e do Punk, quando as super bandas da época ligadas ao rock sinfónico se afastavam perigosamente das raizes mais primitivas desta forma de expressão. The Clash eram, como se sabe, dos maiores defensores do back to basics Rockeiro e a capa procura reflectir, justamente, esse carácter avassalador que a linguagem Rock estaria a perder. Mas o que é interessante é que este cover se tenha tornado um clássico, isto é, que tenha transcendendido largamente o contexto da época para se tornar num ícone intemporal de rebeldia.

As referências ao passado, a toda uma cultura Rock são subtis, mas qualquer iniciado pode dar com elas. A mais óbvia é a própria foto do acto em si de estilhaçar a guitarra, citação em jeito de homenagem aos The Who e a Pete Townshend que acabava muitos dos concertos a dar cabo da própria guitarra. The Who são parte do filão remoto em que os próprios The Clash se integram. E depois há, ainda, a tipografia, outra citação-homenagem, desta vez à capa do álbum do King, Elvis Presley de 1956. Na forma e nas cores (rosa e verde), na própria similitude das fotos, a citação é clara. É só comparar:



A título de curiosidade final uma referência aos seguidores: a banda espanhola Siniestro Total editou em 1983 o single Sexo Chungo, cuja referência aos Clash, na altura talvez a banda mais importante no activo, fala por si:















E porque é sempre dificil falar dos covers sem as referir às músicas que lá estão dentro, ainda aqui deixo esta referência para o you tube: Brand New Cadillac de London Calling, The Clash no seu melhor: http://www.youtube.com/watch?v=Z2WXlaWv2u0

5 comentários:

Anónimo disse...

e pra quem gosta de covers, aí vai outra que um dia se descreveu aqui:
http://tapornumporco.blogspot.com/2005/08/
as-capas-dos-meus-discos-sticky.html

Anónimo disse...

Todo o design da capa, incluíndo o conceito, é uma maravilha. Mas a fotografia é uma obra prima. Se não fosse tão foleiro dizê-lo, diria que está aí a "essência do rock'n'roll" (arghh)
Excelente post, tampinha.

Lulu de Montparnasse

Anónimo disse...

Obrigado Lulu. Ainda me recordo da ansiedade que foi o lançamento do disco em Portugal. Não sei porquê, acho que na altura não era assim tão raro, London Calling só foi por cá editado uns meses depois de sair oficialmente. Ouvíamos as músicas religiosamente no Rock em Stock do Luís Flip Barros, a´te aí. Quando o álbum, finalmente, saiu, eu corri à Valentim de cvarvalho mais próxima para o comprar. E foi um estrondo quando me deparei com esta capa. Ficou-me gravada desde logo, até mesmo antes de meter o vinil a tocar e de descobri (outra surpresa do disco) que uma das melhores músicas nem sequer estava referenciada, era uma espécie de surpresa secreta: Train in Vain
(http://www.youtube.com/watch?
v=XYK7bEo1Z4M)
Ted

Anónimo disse...

Referências incontornáveis k remetem para a poderosa simbologia e iconografia do rock puro e duro. Naqueles tempos, do tamanho A4 do vinil, as capas eram o primeiro objecto de contemplação, a devoção vinha logo a seguir. Recordo-me de andar semanas a fio a "lamber" o Back in Black na montra antes de ter guito para comprar. O negro total na evoação do luto após o desaparecimento de Bon Scott, em registo oposto ao White Album dos Beatles onde o visual se anulava em favor da música e das canções - as melhores de sempre. Dos Beatles, a cover de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band também lá tinha uma bela multidão de rostos-símbolos. Outras covers de k gosto muito: o anzol com a nota e o puto atrás em Nevermind dos Nirvana, o anjo pecador a fumar Lucky Strike no 1984 dos Van Halen, o grafismo austero do velho cinema abandonado em fundo negro no duplo-live The Songs Remains the Same dos Zeppelin, o circo urbano de Strange Days dos Doors, o aperto de mão incendiado do Wish you Were Here dos Pink Floyd.

Anónimo disse...

Grande mangas, grande mangas. òptimas sugestões para voltarmos um dia destes numa rubrica que proponho aqui pó Porco e que pde chamar-se As Capas dos Meus LPês. Citas alguns dos melhores, sem dúvida. White Album de D. Hamilton, um colosso da Pop Art e o Back in Black que lhe segue a inspiração. Nevermind, vulgarmente considerado o melhor cover de sempre (não é a minha modesrta opinião). A saga Pink Floyd da melhor empresa de design de todos os tempos - em covers, claro - a inglesa HIPGNOSIS. Voltarei, mene, aguarda os próximos capítulos da saga e, já agora, faz qualquer coissinha sobre as tuas capas-mito...
TT