30/03/09

A Tragédia do Mar de Aral, por Sumo Sacerdote da Igreja da Geografia


O post anterior que vem relembrar a doideira da Guerra Fria, fez-me lembrar um dos maiores desastres naturais da nossa época. Falo obviamente do Mar de Aral, que pura e simplesmente deixou de o ser. Era o Mar de Aral, hoje é um ridículo charco infecto de que toda a gente foge e do qual ninguém sabe o que fazer.

O Mar de Aral fica na conjugação de fronteiras do Casaquistão e do Uzbequistão da mítica Samarkanda, a cidade das cúpulas azuis. Estes dois países nascidos dos escombros da União Soviética dividem entre si o Aral, ou pelo menos o que resta dele.

O Aral era o maior lago de água salgada do mundo e o quarto maior lago em geral e daí o chamar-se de Mar. Era alimentado por dois rios gigantes que descem das montanhas do Hindu Kush no Afeganistão, o Amudarya e o Syrdaria. Alimentado continuamente por estes dois gigantes líquidos, o Aral contava em 1960 com 68.000 km2. Para terem uma ideia do colosso, basta comparar com o tamanho de Portugal que conta com 92.000 km2, incluindo Açores e Madeira.

A partir de 1960, a idiotia dos planos de irrigação mastodônticos da ex-União Soviética, levou a que aqueles iluminados barragassem os dois rios e fizessem zonas imensas de regadio para algodão de exportação. Cresceu o algodão, diminuiu o Aral. Hoje o Aral tem menos de 15.000km2 e continua a diminuir. Para terem termo de comparação basta ver que o nosso Distrito de Beja tem 10.225 km2.

As dezenas de aldeias piscatórias e portos de mar do Aral viram-no a fugir das suas margens a uma velocidade estonteante, sem que ninguém pusesse cobro à doideira. Para tentarem manter os barcos na água, as gentes do Aral foram escavando os canais de acesso à água que se vêm na foto anexa, mas esta fugia a uma velocidade tal, que não havia máquinas ou braços que acompanhassem a fuga. Há portos e cidades que em pouco mais de 25 anos viram o mar recuar mais de 100 km!

Para maior desgraceira, a diminuição da área de água salgada fez aumentar exponencialmente a concentração de sal, o que matou toda a fauna piscícola e vegetal do Aral. Tudo o que era peixusso e crustáceo do Aral ficou extinto. Pior ainda, no auge da guerra fria, o exército soviético fez do Aral local de testes e depósito de armas químicas e biológicas. Com a secagem do leito, toda essa estrumeira ficou a céu aberto, o que aliado aos fortes ventos leva à formação nuvens tóxicas, que devastam e matam o pouco que resta da vida à volta do Aral. Patético.

Em 2015 prevê-se que seque o pouco que resta do Aral. Um mar riquíssimo em peixe, incluindo o Esturjão do Aral, de caviar único, foi simplesmente morto. A peixaria abundante que alimentava uma frota pesqueira de arrasto e inclusivamente uma florescente indústria conserveira, está hoje a ver passar camelos. Além da extinção da pesca e da indústria conserveira, foram à vida 24 espécies de peixe, (incluindo o Esturjão do Aral) 70 espécies de mamíferos (incluindo antílopes e javalis) e 73 espécies de passarada (incluindo patos e perus). É muita comida junta, gourmet ainda por cima, a troco de umas toneladas de algodão. Malditos.

8 comentários:

Anónimo disse...

Antes de mais nada o meu protesto: o autor do post tem partilhado a minha mesa de café. Mas nunca falou nesta ideia do mar aral para um post. porquê? Será que receia que a ideia lhe seja roubada? Tá mal...

Gstei do post que podia inaugurar uma sérei aqui no Porco, precisamente em temas caros à veneranda Igreja da Gegrafia. Não basta dizer que se é Sumo Sacerdote da dita cuja. É preciso demonstrá-lo por palavras e obras. Um post como este mostra que afinal o seu autor vai muito para lá do conhecimanto de capitais. è com obras como esta que a Igreja da geografia pode aumentar o número de fiéis. Por mim gostei. Venham mais...
Arséne Lupin

Anónimo disse...

hoje em dia com a gatunagem que para aí vai todo o cuidado é pouco.

psp

Anónimo disse...

hum, não sei se será assim...

Bispo

Anónimo disse...

Bispo, com essa esperteza toda ainda chegas a Cardeal..

Cerejeira

Anónimo disse...

e já agora a expressão correcta do mítico Moralito El Estático é:

Num sei se é..., isso diz você!

ass: Não Vá Por Aí Doutor

Anónimo disse...

e já agora a expressão correcta do mítico Moralito El Estático é:

Num sei se é..., isso diz você!

ass: Não Vá Por Aí Doutor

Anónimo disse...

hum, não vou por aí, mas não sei se é... tenho dúvidas

bispo II

Anónimo disse...

e ainda querem a volta do comunismo... imbecis.

excelente post, parabéns.