27/09/07

As Ditas Duras, por X-Méne

São situações como as da presente revolta popular pela democracia na antiga Birmânia que me fazem, mais uma vez, perguntar: O que fazer às ditaduras do mundo? É óbvio que é uma questão batida, crónica e tem dado muitas dores de cabeça à chamada “comunidade internacional”, mas torna a agudizar-se perante imagens como as da violenta repressão do regime militar da Myanmar.
De vez em quando, como desta vez, as populações oprimidas dão “um ar da sua graça” e tentam arremedos de revoluções, que regra geral falham. E é sobretudo nestas alturas que saem da toca os amantes da liberdade e os paladinos da democracia e os arautos da luta contra a tirania. Sobretudo o povo da esquerda, que é sobretudo muito amante das lutas anti-tirânicas. Sobretudo se a tirania não for de inspiração marxista ou não tiver um toque etno-socialista.
Bem, mas isto para dizer que estes arremedos de luta e indignação são apenas ocasionais. Por norma, as ditaduras passam bem nas suas excelentes vidinhas e, à excepção de uns quantos militantes profissionais dos direitos humanos ou da liberdade de expressão, de ONG’s a isso dedicadas, as “massas” ocidentais nem pensam muito no assunto. O que não significa, obviamente, que os povos oprimidos não continuem a ser oprimidos. São-no, mas sem dar nas vistas.
E isso leva-me, por exemplo, ao caso do Iraque de Saddam e ao que fazer, afinal, com esta gente simpática que brutaliza as suas gentes e desgoverna os seus países? Deixá-los cair de podre, como advogavam certos críticos da invasão iraquiana? Ou “ingerir”? Ou bloquear? Por norma, também, os bravos países ocidentais nem umas nem outras. Às vezes, nos casos mais evidentemente gritantes, como a teocracia iraniana ou a monarquia maoista norte-coreana, bloqueia-se, mas quando podem, ou quando não podem fazer mais nada, fazem negócio, como no caso da China, da Rússia, da generalidade dos fascismos islâmicos e das cleptocracias africanas. Assim como assim, há sempre a desculpa de que o mercado liberta. Mais cedo ou mais tarde. Eventualmente. Seja como for, mantém-se a patine diplomática da não-ingerência.
E quando se ingere, normalmente os cámones, que são quem mais tem a mania e o poder de ingerir, então, é um ái jasus nossa senhora! porque os porcos imperialistas a saldo do grande capital estão a ingerir outra vez e a meter o bedelho onde não foram chamados para ir chupar o petróleo aos indígenas e transformar os arrozais em campos de golfe, ái jasus!
Enfim, é um bico-de-obra com dois bicos. Mas a minha questão inicial mantém-se e lanço-a para debate: O que fazer com esta escumalha? É ético não-ingerir? É moral não interferir? A soberania nacional deve sobrepor-se à dignidade humana e à liberdade? Direitos humanos ou real politik? A força do direito ou o direito da força? Quid juris?

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