Este ano ficaram sem colocação cerca de 49 000 professores, na sua maioria jovens recém-licenciados que, ou não conseguiram entrar na carreira ou entraram e perpetuaram a sua situação de precariedade até ao despedimento sumário que acabou de ocorrer.
Os números são impressionantes: é o maior despedimento colectivo de que há memória na história de Portugal. Se pensarmos que o Ministério da Educação Francês anunciou, recentemente, com todo o cuidado, que no próximo ano vai ser obrigado a despedir 12 000 profs, ficamos com uma ideia da violência dos números portugueses, repito, cerca de 49 000! A França tem cerca de 60 milhões de habitantes e nós não chegamos a 10 milhões. Eles despedem 12 000 no próximo ano, nós 49 000, imediatamente! Mas obviamente os franceses são uns míseros pigmeus ao lado dos ideólogos do nosso ministério, gente sagaz, do pensamento, gente culta e erudita como o valter lemos e um pedreira que aparece às vezes na TV.
Mas ok, vamos admitir a leitura primária da ministra da educação que acha que os portugueses não procriam, que não há crianças e, portanto, que não precisamos de profs. Ainda assim, nada justifica as declarações que escutei à senhora na TV. Segundo Maria de lurdes, cito de memória, mas com todo o rigor:
- Esse não é um problema dela nem do seu ministério (deve ser do ministério do ambiente ou da agricultura) . É do país (como dá jeito esta entidade abstracta, o país…) e dos próprios jovens que ela aconselha a dedicarem-se a outra coisa (à pesca? Ao fado? Não explicam, ninguém explica...).
A crueldade e o cinismo destas afirmações são inqualificáveis e, pela milésima vez, num país civilizado que não no nosso, justificariam a demissão imediata da senhora. Estes ditos são ofensivos e irresponsáveis. Chocam! Estas afirmações são uma falta de respeito por milhares e milhares de pessoas que chegam ao fim de anos de trabalho para ouvirem esta seráfica ministra a dizer-lhes, primeiro para adiarem o futuro que já não há lugar para eles; e depois para se dedicarem à pesca ou à apanha de caracóis… que o problema não é meu, ó larila...
Isto é de uma crueldade e de uma insensibilidade social grotescas. E ainda que tivesse toda a razão do mundo – que não tem, já que é o ministério da educação quem promove, certifica e operacionaliza os cursos a que se dedicam estas multidões de jovens incautos - nada justificaria palavras tão azedas. Mais que a gravidade do facto em si (lançar mais 49 000 pessoas no desemprego) o que choca é a profunda insensibilidade de uma pessoa que devia ter outro estofo e um mínimo de empatia para poder exercer um cargo tão importante. É uma questão de comunicação – ou de coração – e não é pequena. Como se fosse preciso, é só mais um episódio revelador da imensa teia de insensibilidade social que este governo se diverte a tecer.
Pic - Nicolaes Maes
Sem comentários:
Enviar um comentário