17/09/07

O Caso Dalai Gama, por Dalai Mama

O Dalai Lama voltou a Portugal para embaraçar, pela segunda vez, a pequenez dos nossos medíocres governantes. Todos estamos recordados de como ele foi excomungado pelo católico Guterres aqui há uns anos atrás. Agora voltou para fazer corar de vergonha o intrépido, o corajoso, o frontal, o arrojado, o homem de convicções (tudo encómios com que já o ouvi brindar-se a si próprio) primeiro-ministro, josé pinto de sousa. O mesmo político que enche a boca, constantemente, a proclamar a sua firmeza, o seu rigor, o novo homem do leme que não se desvia um milímetro da rota traçada e que afronta, corajosamente, os interesses estabelecidos (quais? O Belmiro? O Berardo? O Amorim? A TV Cabo? A PT? A CGD? A Banca? As cimenteiras? O Parlamento?), fez agora anunciar que, por dificuldades de agenda, não vai poder receber o líder espiritual Tibetano.

Tendo em conta a nossa própria história recente com Timor é lamentável. É vergonhoso. Pinto de Sousa não teve qualquer problema em deslocar-se à China com uma abundante comitiva. Apoiou, na ocasião, o estrambólico discurso do ministro pinho da economia que nos foi apresentar aos chineses como «o país da mão de obra barata». Mas agora não há agenda para o representante do povo tibetano, humilhado, espezinhado e chacinado pelo gigante chinês. Esta é a coragem de pinto de sousa que só engana quem quer ser enganado. Pinto de Sousa não recebe oficialmente o dalai, como é seu dever e obrigação, porque, pura e simplesmente tem cagufa da China. Simples e óbvio!

Entretanto, sua excelência, arranjou tempo para andar pelo país fora, ele mai-los 20-vinte-20 ministros a oferecerem computadores, aproveitando um generoso (para quem?) protocolo com a IBM. É o pensamento Valentim-Loureiro-dos-frigoríficos no seu último desenvolvimento. Prevejo um futuro radioso – qualquer dia ainda vamos ver o governo inteirinho e ao vivo a oferecer torradeiras ou micro-ondas num qualquer mercado próximo de si… É a propaganda em todo o esplendor da sua mediocridade. É a escala de valores deste governo sem valores.

Entretanto, arranjou-se maneira de receber o Dalai Lama no Parlamento. Sempre é melhor – pensaram os génios da propaganda governamental – que recebê-lo num hotel, como da última vez. Faz as honras da casa um homus-pê-esse, um exemplar da nova gente que, enfim, toca tudo, piano, bombo ou concertina, como é próprio da espécie, assim sopre o vento, o presidente da assembleia da república, jaime gama. E é por isso que este caso é muito mais o Caso Dalai Gama que o caso Dalai Lama.

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