Pergunta-me um amigo se vi pela TV a entrevista do primeiro-ministro. Disse-lhe que não. Não vi por uma questão de higiene. Mental. Minha. Muito minha e muito mental. Não vi. Não quero saber. Não sou um jornalista ao serviço dele. Nem dele nem de ninguém.
À hora da dita entrevista, estava eu em casa muito sossegadinho a ler o meu dicionário da Porto Editora, escrito ainda sem a porcaria ortográfica pró-brasuca que aí vem. “Higiene mental: ramo da higiene destinado a manter a saúde mental e a assegurar a profilaxia das neuroses e das psicoses, combatendo os factores nocivos (excessos de tabaco, choques emocionais, intoxicações, alcoolismo, etc.)”. Tirando a parte do alcoolismo, percebi tudo.
Como não rimo “jornalista” com “acólito”, não assisti, nem de joelhos nem de cócoras, à tal entrevista. Tinham-me dado uma rica garrafa de tinto maduro, a mulher tinha trazido broa e bacalhau desfiado, num frasco de vidro grosso havia azeitonas perfumadas de alho e coentros em sal também grosso. Comemos e bebemos à saúde um da outra. Nem ela nem eu vimos a entrevista do senhor. Não vimos. Cheira-me que também não vamos ver a próxima.
A minha mulher também é muito higiénica. Por dentro e por fora. Foi uma riqueza que me aconteceu, a minha senhora. Às vezes, estamos na cama e rimo-nos muito. Eu digo o nome de um ministro (um qualquer) e ela desata-se a rir, contagiando-me irreversível e inelutavelmente. Depois, ela diz o nome de outro (outro qualquer) e eu desmancho-me, contagiando-a inelutável e irreversivelmente. De modo que somos felizes assim, felizes com a desgraça dos outros portugueses que já não se riem. Podia dar-nos para pior.
O amor é assim: nenhuma TV e um fio aromático de coentros cortando a espuma roxa de um tinto para esquecer.
Crónica nº 85 da série Rosário Breve
nO Ribatejo (www.oribatejo.pt) de 9/1/09
5 comentários:
Esses ministros são um pesadelo que só aguentamos se fizermos como o Cão. E o socras é o fredy krueger deles todos.
agora é a refinada sacadaputice dos 5 milhões de euros prás câmaras por ajuste directo com os patos-bravos. foda-se, que nem o krueger nos sonhos das meninas de ouro da covilhã.
Eu já há muito que não vejo conversa de ministros e sucedâneos, como o senhor Presidente do Banco de Portugal. Nessas horas vejo o Sponge Bob.
Patrick
o sócras não é para ver. nem para chupar. é só pra deitar fora.
Há um mérito indiscutível do Sócretino. O gajo é divertido, faz rir, aligeira a crise e dá circo ao pessoal. O Pão não é muito, mas o Circo é à fartazana. Para continuarmos a rir, aqui vão algumas anedotas sócretinas:
- e aquela da Maria de Lurdes Rodrigues pagar 250 mil euros ao Pedroso - suposto expert em Educação - que nada fez e que agora devolve 50% do dinheiro, recebido todo em adiantado.
- e a dos gajos da administração da Gebalis e dos seus cartões de crédito.
- e a do Mário Lino de pedir as datas das inaugurações de todas as obras de todas as empresas públicas.
- e relembrar as sucessivas tiradas do Pinho a dizer que a crise tinha acabado.
- e a OCDE que teima em dizer que o governo é um nojo em previsões económicas e que devíamos contratar esperts estrangeiros.
- e esta agora de o Sócras ainda meter as scuts a pagar ao governo, adiando os seus custos para depois das eleições que aí vêm e os próximos 75 anos.
enfim é melhor para por aqui que ainda rebento de tanto rir.
boa posta Cão.
ass: Porco&Mundo
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