É certo que o velho sr. X ainda lá trabalha, tão eterno como o próprio café. Mas a clientela, essa, mudou radicalmente. Nos guias turísticos o Santa Cruz aparece como um vestígio precioso da Coimbra ancestral, com os seus doutores, estudantes, artistas e intelectuais. Eu nunca conheci um tal Santa Cruz. O meu, onde há uns anos, antes de abrir o Ranhoso, eu tomava o café com o G. o D. e o P., era um sítio fumarento frequentado pelos empregados dos escritórios e dos bancos das proximidades, pelo pessoal da Câmara, por chulos e putas, expulsos do falido Internacional e por um gajo meio esquisito que lia revistas Gina enquanto tomava, placidamente, o seu cafezinho. Agora, engodados pelo Guias, os turistas vão ao Santa ao engano e não vêem nem estudantes, nem artistas, nem intelectuais, muito menos os chulos e as putas que os Guias, pudicamente, ignoraram.
Vêem, sim, outros turistas como eles, ingleses, franceses, espanhóis e japoneses que mandam vir Portos Rubys que não há em vez de cafés que há, mas vinte cêntimos mais caros do que quando eu frequentava o Santa. Os turistas entram no Santa para se verem a si próprios, nunca vi espelhos tão metaforicamente bem colocados num sítio como os das paredes do café Santa Cruz. Nós, os nativos, doutores, artistas, estudantes, empregados de escritório, da câmara e dos bancos, intelectuais, chulos e putas e leitores de Ginas públicas, há muito que saímos do Santa Cruz. Afinal, ali mesmo ao lado, é só passar a rua, há um óptimo indiano, onde antigamente era um restaurante conhecido, que tem o café vinte cêntimos mais barato. Tá cheio de portugueses, coimbrinhas de gema, topam-se à légua, o diabo do Indiano.
7 comentários:
gramo estes posts. ser de uma cidade é isto, exactamente isto.
boa posta. e nunca cheguei a perceber o raio da embirração com o gajo das ginas.
ass: rodox
Domingo, 04 de Janeiro de 2008, o Tapor faz 5 anos.
ass: AlquimistaDaDor
2008? E em 2009? Faz seis? De qualquer modo eferreá!
biba o tapor, biba.
Parabéns ao Tapornumporco!
Como diz o padre da minha freguesia na benzedura latinória dos chavascais: porcellum alens porcum habebit (quem cria um leitão, terá um porco).
Amen!
lapsus porcinus: 5 anos hoje.
ass: Porco&Mundo
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