02/01/09

Ontem Fui à Baixa - parte III. O Santa, por Roger Moore

Ontem fui à Baixa. A meio do meu percurso entrei no velhinho Santa Cruz, como fazia dantes. O Santa sempre foi um ex-libris dos cafés da Baixa e é, ainda hoje, juntamente com o Nicola e a Briosa, que nunca apreciei, um dos raros resistentes ao extermínio decretado aos cafés pelas leis do consumismo e da (in)cultura dos novos tempos. Mas também o Santa está diferente.
É certo que o velho sr. X ainda lá trabalha, tão eterno como o próprio café. Mas a clientela, essa, mudou radicalmente. Nos guias turísticos o Santa Cruz aparece como um vestígio precioso da Coimbra ancestral, com os seus doutores, estudantes, artistas e intelectuais. Eu nunca conheci um tal Santa Cruz. O meu, onde há uns anos, antes de abrir o Ranhoso, eu tomava o café com o G. o D. e o P., era um sítio fumarento frequentado pelos empregados dos escritórios e dos bancos das proximidades, pelo pessoal da Câmara, por chulos e putas, expulsos do falido Internacional e por um gajo meio esquisito que lia revistas Gina enquanto tomava, placidamente, o seu cafezinho. Agora, engodados pelo Guias, os turistas vão ao Santa ao engano e não vêem nem estudantes, nem artistas, nem intelectuais, muito menos os chulos e as putas que os Guias, pudicamente, ignoraram.
Vêem, sim, outros turistas como eles, ingleses, franceses, espanhóis e japoneses que mandam vir Portos Rubys que não há em vez de cafés que há, mas vinte cêntimos mais caros do que quando eu frequentava o Santa. Os turistas entram no Santa para se verem a si próprios, nunca vi espelhos tão metaforicamente bem colocados num sítio como os das paredes do café Santa Cruz. Nós, os nativos, doutores, artistas, estudantes, empregados de escritório, da câmara e dos bancos, intelectuais, chulos e putas e leitores de Ginas públicas, há muito que saímos do Santa Cruz. Afinal, ali mesmo ao lado, é só passar a rua, há um óptimo indiano, onde antigamente era um restaurante conhecido, que tem o café vinte cêntimos mais barato. Tá cheio de portugueses, coimbrinhas de gema, topam-se à légua, o diabo do Indiano.

7 comentários:

Anónimo disse...

gramo estes posts. ser de uma cidade é isto, exactamente isto.

Anónimo disse...

boa posta. e nunca cheguei a perceber o raio da embirração com o gajo das ginas.

ass: rodox

Anónimo disse...

Domingo, 04 de Janeiro de 2008, o Tapor faz 5 anos.

ass: AlquimistaDaDor

Anónimo disse...

2008? E em 2009? Faz seis? De qualquer modo eferreá!

Anónimo disse...

biba o tapor, biba.

Anónimo disse...

Parabéns ao Tapornumporco!
Como diz o padre da minha freguesia na benzedura latinória dos chavascais: porcellum alens porcum habebit (quem cria um leitão, terá um porco).
Amen!

Anónimo disse...

lapsus porcinus: 5 anos hoje.

ass: Porco&Mundo