10/03/04

O MEU PAI É UM GÉNIO, by The Godfather

- Ó mãe, ó mãe, o meu pai é um Génio! - gritava o puto para a mãe, afogueado e esbaforido, depois de entrar de rompante na cozinha. A mãe, que se atarefava de volta de uma tijelada tamanho-família de Estrelitas Super Power e Chocapic, e que conhecia bem o animal em questão, não ligou.
Mas o miúdo, transbordante dos seus quatro anos de entusiasmo, insistia e puxava pelos jeans da mãe:
- Um Génio, mãe, o meu pai é um Génio!
A Glória Ventura, que ao marido conhecia poucas glórias e já se escaldara com muitas desventuras, puxou pela cabeça e tentou encontrar a centelha do génio nos labirintos da memória. Nada. A imagem que lhe saltava aos olhos, era a do marido espojado no sofá a coçar a barriga com uma mão, a fazer piretes com a outra ao árbitro da Sport Tv, que lhe roubava mais um penalty lampião, enquanto imitava raivoso o grito do macaco para o negro de azul ás riscas, que derrubara a nova pantera negra.
- Nah, não é nada filho, é impressão tua, chama-o que o almoço está pronto.
- Não mãe, anda ver ao terraço, o que o pai fez, é um Génio o meu pai!
Curiosa, a Ana lá foi ao terraço ver o génio em acção. O génio, parado no meio do terraço, de braços cruzados ao peito, olhava estupefacto e indeciso, para uma enorme Ratazana morta, que balouçava pendurada pelo meio do corpo no fio da linha telefónica, que passava ao lado do terraço.
- Ó génio, tira-me já dali aquela porcaria nojenta!
- Ó pá, nem sei comé que fiz aquilo, o teu filho descobriu a ratazana morta e eu joguei-a fora e fui acertar na merda do fio e agora ali está aquilo a balouçar ao vento!
- Um Génio mãe, o meu pai é um Génio!

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