PROTOCOLO
(Ou de como é difícil pedir qualquer coisa ao Imperador da China)
Por Joaquim Alberto
(Ou de como é difícil pedir qualquer coisa ao Imperador da China)
Por Joaquim Alberto
E um dia Sun Tzu chegou-se ao pé do Imperador Pu Hi, e assim começou: Saudações, ó querido imperador, que mil sóis te iluminem; que mil virgens te aqueçam os pés nas noites frias; tu que és a glória da terra, um formoso nenúfar que desabrocha em flor e cobre os oceanos; tu, que reinas sobre os homens, que és a fonte suprema da sabedoria, a quem os mais sábios deuses pedem conselhos; tu que comandas os astros; que com um olhar apagas o sol e iluminas a lua, óóóó que grandioso que és, ó imperador, como eu me sinto insignificante ao pé de ti, que se fossemos animais eu seria metade de um gafanhoto paralítico e cego e tu um dragão vermelho do tamanho do firmamento; óóóó imperador, és deveras o maior; que vivas mil anos, um milhão de anos, uma infinidade de séculos, ó imortal entre os imortais; eu, uma pequena formiga entre as mais pequenas formigas, que não sou digno de te dirigir a palavra, que não ouso sequer olhar os teus pés ou lamber a sola resplandescente das tuas sandálias, vinha aqui... vinha aqui... bom, eu vinha aqui ó querido imperador... eu queria dizer qualquer coisa importante, mas esqueci-me o que é... qualquer coisa muito séria, uma coisa que só a enormidade da vossa sabedoria poderia abarcar e resolver... eu peço infinitos perdões e apresso-me a voltar para a minha toca imunda onde vou espetar alfinetes nos olhos , se o amado imperador, grande fecundador do universo, pai dos povos e mãe também, me quiser dar esse prazer... E foi assim. Na verdade, nunca se soube o que queria o pobre do Sun Tzu pedir ao imperador da China. É preciso ver que uma pessoa naquela altura tinha imensas dificuldades em falar com o Imperador da China, por causa, precisamente, do complicado protocolo que tal tarefa implicava. Mesmo actualmente ainda não é fácil.
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