30/06/07

Hey Joe, por Cão

Eu, o senhor Berardo e a Arte Moderna parecemos ter uma evidentíssima coisa em comum: nenhum dos três percebe nada dos outros dois.

Isto é mesmo assim e não tem mal nenhum. Já com a vida acontece, a nós três e a toda a gente, a mesmíssima coisa: ela não percebe nada de nós e nós não percebemos nada da vida. Vem a morte e resolve tudo: a vida, a Arte Moderna, o senhor Berardo et moi.

Tenho um amigo que é artista moderno e me conhece, do que lhe resulta ser pobre, ao contrário do senhor Berardo.

Tenho uma vida que é uma riqueza, já que, como o senhor Berardo, sou conhecido por artistas (embora só dos modernos).

Já o senhor Berardo, entre milhentas outras coisas, há-de ter pela Arte Moderna o mesmo que tem pelo Rui Costa: algo a que se deve tirar o número, pôr à venda ou arrecadar.

Tudo isto, assim mal posto, deriva, naturalmente, da minha estupidez artística e da minha córnea desconfiança quanto a madeirenses que já tenham ido à África do Sul, agravando-se a desconfiança, por córnea, até a madeirenses que nunca lá foram mas fizeram da Madeira outra África do Sul.

Já o senhor Berardo (que, cada vez que tenta falar, demonstra ser um cidadão de todo o mundo menos daqui) nem deveria para aqui ser chamado. Quem, aliás, o chamou, deveria, no mínimo ser obrigado a comprar uma reprodução do quadro do menino-que-chora.

Termino com uma tripla seta que nem é seta mas é tripla: eu, o Benfica e o senhor Berardo. Dois de nós três gostamos muito um do outro. E nenhum dos dois é o senhor Berardo.

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