Domingo passado, quando estávamos na doideira habitual do torneio de mini-golf, à Ucal por fora, e no meio da discussão dos melhores tascos de Coimbra, o Maestro sai-se com a Sereia. Olá, temos aqui alguém a meter a cabecita de fora. É que aqui e em coisa de comer não basta “abanar a batuta”, há que explicar muito bem a sinfonia inteira.
Mas perante a barragem de perguntas, onde?, como? o quê? e a que preço? etc, tal e coiso, o Maestro não só se aguentou à bernarda, como reafirmou a cozinha da Sereia como a do melhor tempero de Coimbra. Ainda desconfiei de uma tal coisa de “meias sopas” e “mini-doses”, mas prontos, quem não sabe é como quem não vê, e desconhecendo eu a música da mulher do tritão, amochei.
Nesta semana encornei o Tritão e logo segunda, penetrei na Sereia. Passa-se uma sala de balcão quadrado de snack-bar (arrrghhh!) e abanca-se em sala pequena tipo bunker de sete mesas e 24 comensais. Aquilo é um tugúrio escondido e mal amanhado. Das três vezes que lá fui nunca encheu. Maestro, tás fodido. Ia para afiambrar, obviamente, e lá estavam as meias-sopas e as mini-doses. O empregado é daquelas pessoas de grande deferência com os doutores habituais, mas indiferente com a estranja. Boa. Isto promete. Vai haver tourada.
O pior foi quando veio a comida. Na segunda-feira, comecei com uma sopa alentejana e uns carapauzinhos fritos com arroz de couve, maila sobremesa em forma de crepe queimado. Tudo excelente. Sopa irrepreensível, carapauzinhos ilegais de frescura imaculada e fritura estaladiça e o crepe é simplesmente das melhores coisas que já comi em doçaria. Na terça, saltei para o caldo verde e umas ovas douradas em polme de ovo, com arroz malandrinho de tomate, terminando em grande, com uma tarte do caçador. Nem vale a pena elogiar mais. Simplesmente soberbo. Tudo. Pura coincidência e sorte na praça e no tempero, pensei eu. Só podia ser.
Hoje, fui à prova dos nove. E havia feijoada. Ora aqui está, vão-se espalhar. A feijoada parecendo coisa fácil, é dos pratos mais difíceis de conseguir. O feijão tem que cozer no ponto certo, obter aquela molhaca de ligação, e enrodilhar-se devidamente com a couve, o chispe e a orelheira cozida no ponto certo. Acolitar depois a coisa com enchidos que fujam ao industrial da Probar e da Isidoro não é fácil. Comecei assim por uma sopa de couve-flor com ovo – magnifica -, e fui-me à feijoada. Meus deus, há quanto tempo não ferrava o dente em morcela tão boa e em chouriço tão telúrico que até cheirava a campo. Coisas boas, de rebentar e chorar por não caber mais. E desisto da adjectivação para as azeitonas, a broa e a tarte de morangos.
Rendi-me ao encanto do peixuço. A coisa não é barata, uma mini-dose que dá para uma pessoa vai pelos 6/7 euros e com a ida a todos, facilmente se sai de lá com 13/14 euros pessoa e para a meia-dose e ida a todos com 15/16 euros por pessoa. Mas o Maestro tem razão. Aquilo ali é uma Sereia de Luxo e trata-se sem dúvida do melhor tempero e da melhor cozinha tradicional de Coimbra. Amanhã, Quinta-Feira, há Açorda de Sável. Infelizmente tou pró Porto e prá Adega do Olho. Perdão Maestro! Afinfe no Sável por mim, que no Domingo que vem pago eu a Ucal!
PS: Restaurante Sereia do Mondego, rua Dr António Henriques Seco, Coimbra, (ao fundo das escadas do José Falcão, ou ao cimo do Jardim da Sereia) telefone 239.824.342. Fecha ao Sábado ao Jantar, aos Domingos e aos Feriados. Se puderem não falhem amanhã ao Sável do Almoço.
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