Roland Barthes no seu livro “Sade, Fourier, Loiola” e na parte dedicada ao Sade, levanta uma questão literária interessante. Passamos por ela “n” vezes e nunca nos apercebemos da mesma. Já repararam que é impossível descrever a Beleza? Passamos a vida a ler riquíssimas descrições do Belo e quando vamos a olhar com olhos de ver, o que se lê é adjectivação e descrição por comparação ou remição.
Como é que se descreve por exemplo, o belíssimo rosto do “pãozinho sem sal” aqui da foto ao lado, sem cair na adjectivação profunda ou na comparação remissiva: linhas simétricas? proporções matemáticas, lábios ovais, olhos verdes de traça oblíqua… Impossível. Daqui, desta pena miserável de escriba blogueiro, jamais sairá a descrição da beleza sem recorrer às trôpegas figuras de estilo habituais. Mas da pena dos grandes mestres, a Beleza também nunca saiu de forma objectiva e sem recurso à mais desvairada adjectivação.
Roland Barthes a propósito do Sade diz isso mesmo: “Sade, como qualquer pessoa, não consegue descrever a beleza; no máximo pode afirmar, por meio de referências culturais (“bem feita como Vénus”, “esbelta como Minerva”, “a frescura de Flora”). Sendo analítica, a linguagem só pode apoderar-se do corpo quando o fragmenta; o corpo total não está nos limites da linguagem, a escrita só se apodera de pedaços do corpo; para fazer ver um corpo é necessário deslocá-lo, refractá-lo na metonímia do seu vestuário, ou reduzi-lo a uma das suas partes; a descrição torna-se então visionária, volta a encontrar-se a felicidade da enunciação (talvez porque exista uma vocação feiticista da linguagem): o monge Severino encontra em Justine “uma decidida superioridade no desenho das nádegas, um calor indizível no ânus”.
Como é que se descreve por exemplo, o belíssimo rosto do “pãozinho sem sal” aqui da foto ao lado, sem cair na adjectivação profunda ou na comparação remissiva: linhas simétricas? proporções matemáticas, lábios ovais, olhos verdes de traça oblíqua… Impossível. Daqui, desta pena miserável de escriba blogueiro, jamais sairá a descrição da beleza sem recorrer às trôpegas figuras de estilo habituais. Mas da pena dos grandes mestres, a Beleza também nunca saiu de forma objectiva e sem recurso à mais desvairada adjectivação.
Roland Barthes a propósito do Sade diz isso mesmo: “Sade, como qualquer pessoa, não consegue descrever a beleza; no máximo pode afirmar, por meio de referências culturais (“bem feita como Vénus”, “esbelta como Minerva”, “a frescura de Flora”). Sendo analítica, a linguagem só pode apoderar-se do corpo quando o fragmenta; o corpo total não está nos limites da linguagem, a escrita só se apodera de pedaços do corpo; para fazer ver um corpo é necessário deslocá-lo, refractá-lo na metonímia do seu vestuário, ou reduzi-lo a uma das suas partes; a descrição torna-se então visionária, volta a encontrar-se a felicidade da enunciação (talvez porque exista uma vocação feiticista da linguagem): o monge Severino encontra em Justine “uma decidida superioridade no desenho das nádegas, um calor indizível no ânus”.
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