16/05/07

As Bananas, A United Fruit e Um Gajo Que Eu Conheço Que Lhes Tira O Caroço, por Plátano

Série Frutas – Parte 7 – As Bananas
(A Série Cães Seguirá Dentro De Momentos)

As Bananas quando chegaram à Europa vindas dos trópicos, constituíam à mesa dos europeus o máximo de requinte e exotismo, um símbolo absoluto de riqueza. E ao contrário do que muita gente pensa, a banana não é originária da América, mas sim da Ásia. Só que devido à grande facilidade de cultivo da planta herbácea que a dá, a coisa expandiu-se por mais de 130 países, sendo que a América é por natureza o expoente máximo da produção bananeira. Foram os portugueses que levaram a banana da Ásia para o Brasil, de onde se americanizou.

Aí na América Central e Caraíbas reinam os grandes impérios multinacionais americanos da Chiquita, Dole, Fyffes e da Del Monte que produzem e exportam o bananame em quantidade tal, que a coisa desde há décadas que se vende por aqui ao preço da uva mijona.

Gabriel Garcia Marquez revoltou-se com as bananas e berrou bem alto a miséria da exploração bananeira. O Cem Anos de Solidão bebe muito da escravidão amarela. E o Pablo Neruda nunca perdoou também aos impérios bananeiros. Embora não deixe de ser esquisito que ao ler o Canto Geral se tropece num poema intitulado United Fruits Corporation. Garcia-Marquez, Neruda, Angel Astúrias, Fuentes e outros deram-lhes com força tal, que algumas multinacionais tiveram vergonha na cara e foram obrigadas a mudar de nome. Assim onde lerem em Neruda ou Garcia-Marquez, a referência à ignóbil United Fruits, saibam que é a mesma das bananas Chiquita que vocês comem hoje.

A Banana, entre os muitos símbolos iconográficos de que se foi imbuindo ao longo dos anos, teve um que foi esquisito, que é o de estar associada à queda do muro de Berlim. Por incrível que possa parecer, a banana foi um dos factores dessa mesma queda. Os alemães de leste que à sorrelfa e com perigo de vida, viam a televisão da Alemanha Ocidental estranhavam a abundância de bananas na sociedade capitalista. Na RDA e no Leste em geral não havia bananas, a não ser à mesa do “aparelho”, da casta superior (há sempre uns porcos que são mais iguais que outros). Apesar de esclarecidos pela propaganda de leste que aquilo era pura propaganda do oeste, certo é que a malta perdia por completo o norte com a abundância de bananas vindas do sul.

Quando caiu o vergonhoso muro, a Alemanha Ocidental resolveu dar uma oferta de boas-vindas a todos os irmãos da RDA na forma de um pequeno valor em capital da ordem dos 100 a 150€ pessoa. E foi ver as gentes do leste a correrem às frutarias e supermercados e a afogarem-se em bananas. Para eles, era a ascensão ao Olimpo, ao néctar dos deuses que lhes estava a ser negado à décadas. Haja bananas, haja fartura.

E termino com uma coisa verdadeira. E digo verdadeira, porque de tão esquisita que é, vocês podem pensar que é galga. Não é. É verdade, verdadinha e quem não acreditar que diga, que eu vendo bilhetes. É que eu tenho um amigo que tira o caroço às bananas! Já era mau e vinham as empregadas todas ver, quando ele armado em cirurgião tirava as espinhas aos peixinhos do rio torrados, pior ainda quando insistia e insiste em descascar os morangos com faca e garfo, mas o cúmulo do requinte circense é com as bananas. Quando vem o caroço bananeiro para a mesa, o verdadeiro artista pega de faca e garfo e longitudinalmente corta o bicho em quatro partes, e em cruz, com o centro virado para cima. Depois segurando com o garfo o talo tenrinho, o cirurgião corta com a faca e retira para o lado a película de 2 ou três milímetros que a banana tem no centro. Aquela coisinha mais escura com grainhas microscópicas. É um espectáculo digno de reis. E eu tenho bilhetes.

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