23/05/07

ÓDIO: O VÉU QUE COBRE O AMOR, por Ming_a

Dizem que amor e ódio são opostos, que se atraem.
Se pedirmos a um tolo apaixonado para definir estas formas de expressão, temos respostas básicas, com recurso, aos opostos da natureza (frio e calor); da física (protões e neutrões); dos valores (bem e mal). A palavra amor (do latim amor) assume muitos sinónimos, entre os quais: atracção, paixão, conquista, satisfação, desejo. Na generalidade, o conceito amor retrata um vínculo emocional, com alguém ou algo que seja capaz de receber este comportamento, e alimente as necessidades sensoriais e físicas.
Podemos pintar o amor com as mais diversas cores: amor físico, amor platónico, amor materno, amor à vida, amor a Deus. Para além da intensidade, que vai dum gostar muito… a um amo-te muito, o amor assume sem hesitações o contorno que desejarmos. Dentro da mochila do amor encolhemos tudo o que lá está dentro, para que aquele seja supremo e inquestionável.
Mas quando falamos do odium, apontamos logo um sentimento de repulsa, de aversão, de antipatia contra uma pessoa ou algo. Uma expressão, ainda que censurável, é dotada de uma força tremenda, às vezes vinda do Além.
Ao contrário do Amor, o ódio não passa o dia a perguntar: “Odeias-me? Muito? Sê sincero!”
Com o amor às costas, precisamos de afirmação e confirmação constante, dos sentimentos. Somos uns inseguros tão estúpidos, que mete dó. Já quem odeia, odeia e pronto. Basta um olhar, para percebermos que alguém nos odeia. Não há cá sedução, nem obstáculos de timidez, nem raminhos de rosas vermelhas, com cartõezinhos, com palavrinhas acabadas em inhos… No ódio, basta uma palavra, dita uma única vez, e conhecemos a profundidade do sentimento daquela pessoa por nós: Odeio-te.
Até trememos… Ninguém treme com um amo-te, não nos dias de hoje. O ódio dispensa preliminares. É sagaz e objectivo. Não precisa de ser correspondido. Não precisa de empatia para se evidenciar. Acredito que só vivendo um grande ódio, viveremos um grande amor. A intensidade com que odiamos, define o quanto seremos capazes de amar.
Chagal, nos seus quadros, não contempla o amor sem o ódio. Amor e ódio, muito mais que simples opostos, andam de costas voltadas, marcando o mesmo passo, embalados pelo desejo de um frente-a-frente. A ansiedade do amor conforta-se com a segurança do ódio. A determinação do ódio brilha com a espontaneidade do amor.
Um não existe sem o outro.
Tapor, esta é para ti: “ és tão repugnante… que não resisto.”

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