Hoje ouvi nas notícias os gajos de Bragança a queixarem-se da falta de médicos. Os médicos não querem ir para Trás-os-Montes, os médicos são um bem escasso, escassíssimo neste país e o que vale aos Transmontanos e a outros portugueses isolados, são os médicos espanhóis. Dizem as entidades competentes bragantinas que, a médio prazo, não haverá médicos suficientes na região senão houver um apoio à fixação da classe na região (ou se os espanhóis não os vierem salvar, uma vez mais). Eu acho que não são precisos apoios especiais nenhuns. São precisos, isso sim, é mais médicos!
Esta situação que, aliás, não é um exclusivo da terra das alheiras, mas um mal geral da nação, é absolutamente escandalosa. Não há ninguém que não saiba porque é que há falta de médicos em Portugal. É simples: não há médicos por causa das pressões das organizações corporativas dos médicos que não querem «inundar» o mercado. Se de repente os médicos se tornassem um bem abundante até podiam acabar as consultas privadas a 70 e 100 euros… Não há médicos, ainda, por causa da demissão e do laxismo dos sucessivos governos do país que tinham a obrigação de actuar, mas que deixam andar, de modo a não incomodarem os verdadeiros lobbies poderosos.
Não há falta de matéria prima em Portugal. Todos os anos ficam às portas das faculdades de medicina milhares de alunos inteligentes, dedicados, capazes e com excelentes notas. O que é que lhes falta? Nada. Apenas não partilham da filosofia de vida dos seus colegas que chegaram ao patamar do 19 em vez de se ficarem pelo 18 ou pelo 17. Há muitos alunos do secundário – e eu acho que bem – que pura e simplesmente não querem fazer da sua vida uma estopada de marranço. Querem - e quanto a mim devem - viver e não apenas e só marrar, marrar, marrar… É essa a diferença entre muitos dezoitos e dezanoves: uma questão de filosofia de vida que não de vocação nem de capacidade (nem tão pouco de capacidade de trabalho porque um aluno com média de 18 não é propriamente um langão)… Não faz sentido desperdiçar esta excelente matéria prima para depois se ir recrutar médicos a Espanha ( e não tenho nada contra eles, muito pelo contrário, são bem vindos, a questão está tão só em aproveitarmos, também, os nossos jovens).
O argumento de que não há meios económicos para fazer mais faculdades de medicina (as que existem já estão cheias) é completamente poltrão num país que fez 10 estádios de futebol que, na sua maioria, estão às moscas. O país apresta-se para fazer a Ota, o TGV e é especialista em rotundas disparatadamente caras. Só de má fé se pode justificar que não há mais médicos porque não há dinheiro para fazer mais faculdades de medicina nem para pagar a professores… Não há mais médicos porque os lobies médicos não querem e os governos se demitem das suas obrigações.
E é por isso que eu acho que Bragança é uma lição e que o abandono do interior – valham-nos nuestros hermanos – é criminoso. Mas talvez ainda haja uma solução. O Ministro do Ensino Superior, o doutor Gago, não qualificou o percurso académico do primeiro ministro, Pinto de Sousa, como «exemplar»? Ora aí está uma solução: era dar-lhes cadeiras, aos jovens aspirantes a médicos, do mesmo modo que as deram ao Ingenheiro. Poupava-se uma pipa de massa em faculdades e ainda sobrava dinheiro para fazermos mais uns estádios. Em Bragança, sei lá…
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