Clint Eastwood, com uma simplicidade de processos absolutamente ímpar que assenta numa total ausência de enfeites técnicos, em diálogos inteligentes e silêncios reveladores, e na natural maturação de cada personagem, mantém-se fiel à história que quer contar. No trajecto não lhe escapa um duelo final, momento culminante do género do qual citarei três modelos clássicos dos quais foge deliberadamente - o ritual suspenso em intermináveis segundos no confronto um para um de Aconteceu no Oeste (Leone, 1969) – o auge da tensão entre a harmónica de Charles Bronson contra o grande plano do azul gélido no olhar de Henry Fonda; a sexualidade de Duelo ao Sol (King Vidor, 1964) com Gregory Peck e Jennifer Jones (Pearl Chaves foi o animal fêmea mais fatalmente lascivo e sexual de todas as história de cow-boys!) - encobertos pelos rochedos a céu aberto, proferindo promessas de amor e, ao mesmo tempo, descarregando chumbo na carne que os devorou, os amantes acabam nos braços da morte um do outro; a tensão e pólvora no duelo de Gunfight at Ok Corral (John Sturges, 1957) - os irmãos Earp e o tuberculoso Doc Hollyday ao nível câmara enterrada no pó contra os Clanton em alinhamento de fogo.
Em Imperdoável, o único duelo de registo não o chega a ser porque um ajuste de contas não espera costas cobertas chegada a hora, tal como o que não tem perdão também não se compadece com atenuantes: numa noite de silêncio e trovões, o corpo de Ned jaz em pé entre duas tochas que iluminam o Diabo que dança à chuva, pais e filhos escondidos nas miseráveis barracas, putas recolhidas às janelas da tempestade, a metamorfose de Munny recebe o Dançarino na alma e uma garrafa de uísque na garganta, pela qual o primeiro expressa, inquestionavelmente ao que vem: I've killed women and children. I've killed just about everything that walked or crawled at one time or another, and I'm here to kill you, Little Bill, for what you did to Ned. Dentro do saloon, a carabina em punho nunca vacilou, nunca duvidou, deu-lhes apenas tempo para acariciar as coronhas e, de consciência formada, executou o serviço à queima-roupa que tantas outras vezes tinha aprendido no passado.
Em Imperdoável, o único duelo de registo não o chega a ser porque um ajuste de contas não espera costas cobertas chegada a hora, tal como o que não tem perdão também não se compadece com atenuantes: numa noite de silêncio e trovões, o corpo de Ned jaz em pé entre duas tochas que iluminam o Diabo que dança à chuva, pais e filhos escondidos nas miseráveis barracas, putas recolhidas às janelas da tempestade, a metamorfose de Munny recebe o Dançarino na alma e uma garrafa de uísque na garganta, pela qual o primeiro expressa, inquestionavelmente ao que vem: I've killed women and children. I've killed just about everything that walked or crawled at one time or another, and I'm here to kill you, Little Bill, for what you did to Ned. Dentro do saloon, a carabina em punho nunca vacilou, nunca duvidou, deu-lhes apenas tempo para acariciar as coronhas e, de consciência formada, executou o serviço à queima-roupa que tantas outras vezes tinha aprendido no passado.
Final alucinatório, explosivo, crepuscular! Um misto de Táxi Driver (Scorcese, 1976), em punishment executado sem misericórdia, e Shane (George Stevens, 1953), a partida depois de reposta a ordem natural das coisas, o voltar de costas em abandono completo. Não aparece um miúdo a correr que grita " Shane! Shane! Come back!". Debaixo do aguaceiro, surgem apenas as putas silenciosas, o biógrafo Beauchamp e dois adjuntos do xerife incapazes de disparar contra o fantasma que regressa a casa.
As últimas palavras de Little Bill foram: I don't deserve this. To die like this. I was building a house.
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