2."Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."
3."O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos já não ouvem os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."
4."Esta juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como a juventude de antigamente... A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura. "
- A primeira citação é de Sócrates (470-399 AC)
- A segunda é de Hesíodo (720 AC)
- A terceira é de um sacerdote do ano 2000 AC
- A quarta estava escrita num vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilónia e tem mais de 4000 anos.
- A segunda é de Hesíodo (720 AC)
- A terceira é de um sacerdote do ano 2000 AC
- A quarta estava escrita num vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilónia e tem mais de 4000 anos.
A história, mais concretamente o estudo (científico) da história, é um formidável repositório de sabedoria com aplicações muito práticas na nossa vida quotidiana. Entre muitas outras coisas, permite-nos encarar e perceber a vida e as dinâmicas da contemporaneidade com outro olhar, normalmente menos pessimista e negativo. Permite, em suma, colocar as coisas em perspectiva e relativizar um pouco os acontecimentos e o presente. As citações que abrem este poste e que dizem respeito sobretudo aos milenares conflitos de gerações, são apenas um exemplo disso mesmo.
Lembrei-me disto a propósito do discurso recorrente do “antigamente é que era bom” e é que havia respeito, valores, solidariedade e outras coisas magníficas de que o passado invariavelmente está cheio. Tal como o inferno de boas intenções. Hoje em dia está muito em voga em Portugal este discurso, penso eu que fruto da (relativa) crise conjuntural do país, que deu azo, por exemplo, a muitos considerarem que a ditadura salazarista era uma coisa fantástica e gloriosa.
A história é uma das minhas paixões, foi à história que me dediquei na faculdade e é à história que recorro sempre que posso. Ajuda a perceber muitas coisas do presente. E incomoda-me sobremaneira esta tónica fadista no idílico “antigamente”. É uma das idiossincracias da natureza humana, a nostalgia, mas no caso português é um exagero elevado ao ridículo. Regra geral os povos e os indivíduos têm a memória curta e selectiva (os psicólogos explicam que é uma espécie de mecanismo de protecção), mas no caso português abusamos desse traço. Até inventámos uma palavra, a saudade, para carregar no traço da nostalgia e adoramos masoquisticamente sofrer de saudades. Tanto é assim que por vezes dá a impressão que Portugal não tem presente nem futuro, só tem passado. E que esse passado é sempre radioso, ou, no mínimo, muito melhor.
O facto, cientifico e objectivo, é que não foi, nem de longe nem de perto. Apesar dos problemas actuais, não foi e, mais do que isso, nunca foi tão bom (refiro-me ao nosso país, mas poderia estender o raciocínio a todo o chamado hemisfério ocidental), mas é extraordinário como as pessoas abraçam estas convicções absurdas sem reflectir uns minutos no assunto.
Diz-se por exemplo que hoje toda a gente é muito individualista, só pensa na sua vidinha e que antigamente eram todos muito mais solidários e comunais. Não concordo. Nas aldeias e vilas tudo se passa mais ou menos como antes, a malta é toda muito solidária, sim senhor, mas hoje como ontem, até ao limite dos interesses individuais de cada um ou de cada núcleo familiar. Não é por acaso que os projectos sócio-políticos comunais ou colectivistas deram todos com os burros na água. É uma característica da natureza humana, o individualismo, e não é novo.
De resto, sempre existiram excluídos e pobres. E nas cidades também se passa hoje o mesmo de sempre, nem mais nem menos. Hoje como ontem há gente só e abandonada à sua sorte, hoje como ontem há gente que só pensa na sua vidinha e nem vai em conversas e gestos solidários com os mais necessitados. Aliás, tenho para mim que nunca se viram tanto como hoje em dia campanhas e associações de cidadãos mobilizados por causas solidárias, de Timor aos sem-abrigo, são inúmeros os actos de solidariedade, nas cidades e fora delas.
O passado dos povos e das nações (as dinâmicas individuais são diferentes e admito que muita gente terá tido infâncias mais felizes e despreocupadas) nunca foi um sítio idílico e mesmo as comunidades primitivas tinham as suas angústias, guerras e disfunções. O “bom selvagem” só era bom na cabecinha cândida do Rousseau, que nunca viveu certamente entre selvagens. Um neandertal que partisse uma perna, por exemplo, estava feito em bife. O mesmo para um camponês medieval que engripasse ou fosse arrebanhado para as batalhas privadas do seu senhor feudal, onde regra geral era chacinado à catanada.
Os exemplos são tantos que seria fastidioso enumerá-los. A realidade é que, por muitas razões que tenhamos para nos queixarmos do presente, acho simplesmente imbecil traçar comparações com um passado alegadamente melhor. Filhos da puta, políticos corruptos e medíocres, guerras, fomes e doenças, miséria, dívidas e falências, prepotências, barbaridades e crimes, são factores transversais à história da humanidade. O facto é que cada época tem os seus problemas, mas, pelo menos no Ocidente das democracias liberais, nunca a vida foi tão fácil e doce, essa é que é essa.
Lembrei-me disto a propósito do discurso recorrente do “antigamente é que era bom” e é que havia respeito, valores, solidariedade e outras coisas magníficas de que o passado invariavelmente está cheio. Tal como o inferno de boas intenções. Hoje em dia está muito em voga em Portugal este discurso, penso eu que fruto da (relativa) crise conjuntural do país, que deu azo, por exemplo, a muitos considerarem que a ditadura salazarista era uma coisa fantástica e gloriosa.
A história é uma das minhas paixões, foi à história que me dediquei na faculdade e é à história que recorro sempre que posso. Ajuda a perceber muitas coisas do presente. E incomoda-me sobremaneira esta tónica fadista no idílico “antigamente”. É uma das idiossincracias da natureza humana, a nostalgia, mas no caso português é um exagero elevado ao ridículo. Regra geral os povos e os indivíduos têm a memória curta e selectiva (os psicólogos explicam que é uma espécie de mecanismo de protecção), mas no caso português abusamos desse traço. Até inventámos uma palavra, a saudade, para carregar no traço da nostalgia e adoramos masoquisticamente sofrer de saudades. Tanto é assim que por vezes dá a impressão que Portugal não tem presente nem futuro, só tem passado. E que esse passado é sempre radioso, ou, no mínimo, muito melhor.
O facto, cientifico e objectivo, é que não foi, nem de longe nem de perto. Apesar dos problemas actuais, não foi e, mais do que isso, nunca foi tão bom (refiro-me ao nosso país, mas poderia estender o raciocínio a todo o chamado hemisfério ocidental), mas é extraordinário como as pessoas abraçam estas convicções absurdas sem reflectir uns minutos no assunto.
Diz-se por exemplo que hoje toda a gente é muito individualista, só pensa na sua vidinha e que antigamente eram todos muito mais solidários e comunais. Não concordo. Nas aldeias e vilas tudo se passa mais ou menos como antes, a malta é toda muito solidária, sim senhor, mas hoje como ontem, até ao limite dos interesses individuais de cada um ou de cada núcleo familiar. Não é por acaso que os projectos sócio-políticos comunais ou colectivistas deram todos com os burros na água. É uma característica da natureza humana, o individualismo, e não é novo.
De resto, sempre existiram excluídos e pobres. E nas cidades também se passa hoje o mesmo de sempre, nem mais nem menos. Hoje como ontem há gente só e abandonada à sua sorte, hoje como ontem há gente que só pensa na sua vidinha e nem vai em conversas e gestos solidários com os mais necessitados. Aliás, tenho para mim que nunca se viram tanto como hoje em dia campanhas e associações de cidadãos mobilizados por causas solidárias, de Timor aos sem-abrigo, são inúmeros os actos de solidariedade, nas cidades e fora delas.
O passado dos povos e das nações (as dinâmicas individuais são diferentes e admito que muita gente terá tido infâncias mais felizes e despreocupadas) nunca foi um sítio idílico e mesmo as comunidades primitivas tinham as suas angústias, guerras e disfunções. O “bom selvagem” só era bom na cabecinha cândida do Rousseau, que nunca viveu certamente entre selvagens. Um neandertal que partisse uma perna, por exemplo, estava feito em bife. O mesmo para um camponês medieval que engripasse ou fosse arrebanhado para as batalhas privadas do seu senhor feudal, onde regra geral era chacinado à catanada.
Os exemplos são tantos que seria fastidioso enumerá-los. A realidade é que, por muitas razões que tenhamos para nos queixarmos do presente, acho simplesmente imbecil traçar comparações com um passado alegadamente melhor. Filhos da puta, políticos corruptos e medíocres, guerras, fomes e doenças, miséria, dívidas e falências, prepotências, barbaridades e crimes, são factores transversais à história da humanidade. O facto é que cada época tem os seus problemas, mas, pelo menos no Ocidente das democracias liberais, nunca a vida foi tão fácil e doce, essa é que é essa.
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