06/08/07

5 Dias, 5 Campos, por Camarada Tiago

Concluí ontem à noite a minha maratona golfística. A ideia inicial era realizar uma peregrinação pedestre a Santiago de Compostela. No entanto, todas as ideias evoluem e no processo de adaptação à realidade têm que se ajustar às circunstâncias. Assim, a pouco e pouco, e à medida que a ideia foi ganhando corpo, fui introduzindo algumas alterações. Primeiro, decidi ir de carro. Depois, decidi levar o guia 2007 do «Boa Cama, Boa Mesa». É certo que comprei uma tenda e um saco-cama mas, já que levava o roteiro actualizado dos hotéis e restaurantes, achei contraditório usar a tenda e o saco-cama pelo que regressaram como partiram: intactos. Não se pode ter tudo, até as boas ideias têm que se adaptar à realidade.

Já que ia de carro, achei por bem levar os tacos e o restante material de golfe e, já que levava os tacos, o melhor era visitar o campo de Amarante. Nos últimos dias de Julho parti então para Amarante. Foi um prólogo, como na volta à França. O campo de Amarante é um campo curto. É um par 68, típico campo de montanha, com desníveis e declives muito íngremes. É muito exigente fisicamente, dificuldade que se agrava no Verão com o calor. Naquele dia estavam mais de 35 graus C. Eu fiz o campo a pé, pelo que a grande dificuldade foi física, pois que o handicap de campo é mais baixo que o handicap do jogador. Acho que não me portei mal. Recordo o buraco do tee 3, um par 3 com 156 metros no cimo da serra. Umas vistas espectaculares no tee de saída, com o green ao fundo aos nossos pés, 20 ou 30 metros abaixo, pelo que podemos observar o voo da bola de cima, vendo-a aterrar no green. Não é muito difícil, exige um shot preciso, com cuidado para não ir à esquerda, onde estão os limites do campo. Fiz 32 pontos, o que me satisfez. Regressei a casa com paragem em Gaia para tapear no bar de tapas do Corte Inglés.

No dia 2 iniciou-se então a maratona. Comecei pelo campo da Estela, que já conhecia, pois é um destino que começa a ser habitual. O campo é magnífico. Estava um dia excelente de praia, com algum vento, como é habitual naquelas paragens, mas não com as rajadas intensas que tínhamos experimentado quando lá estiveramos no dia 4 de Julho. Joguei com um sócio do clube local. A companhia foi muito agradável e a conversa animada. No final, bebemos uma cerveja na magnífica esplanada virada para o mar, gozando um fim de tarde esplendoroso.

Nesse dia, parti para Ponte de Lima, onde fui jantar ao restaurante A Tulha. A vila de Ponte de Lima está cada vez mais bonita e cuidada, tão limpa, tão limpa que nem parece portuguesa. Os jardins estão fantásticos, as margens do rio arranjadíssimas e as casas todas restauradas. Comi uns salmonetes grelhados, recomendação da casa, com legumes variados. Estava bom, sem deslumbrar. O vinho verde da adega local é que não me agradou muito. Deveria ter recusado a recomendação. Não se trata assim um peregrino. Não gostei da pinga.

No outro dia, manhã cedo, ainda não eram 9:00, lá estava eu no campo de golfe local, o Axis Golfe. Os primeiros 9 buracos são temíveis. Sempre a subir e a descer, com declives muito acentuados, com grande distância entre os greens e os tees de saída. O Sanita Dourada, um conhecedor do campo e da região, já me havia avisado. Mas é bonito, o campo, muito bonito. Quando cheguei à recepção, aconselharam-me um buggy, mas eu recusei, afinal era um peregrino de Santiago e andava em penitência. As penitências não se cumprem de buggy. Nunca vi um peregrino de buggy! Fui a pé, e portei-me como um homenzinho, aproveitando o fresquinho da manhã para fazer os 9 buracos mais difíceis. O ex-libris do campo é o fantástico buraco 3: um par 5 com mais de 600 metros! Nunca mais lá chegava. É preciso um drive comprido e madeiras de fairway, ou híbrido, sem errar, pois que a primeira metade é estreita e com pinhal de ambos os lados. Qualquer erro é fatal. Foi o que me aconteceu: furei o buraco.

Os segundos 9 buracos são mais suaves, jogados no vale em terreno pouco acidentado. A dificuldade agora era o calor. Joguei bem, joguei muito bem, e acabei o campo, um par 71, com 39 pontos, por volta das 15:00.

Quando pensava dirigir-me para Vigo, última paragem antes da etapa final até Santiago de Compostela, onde planeava experimentar o campo local, lanço um desafio que me obriga a regressar a Coimbra. Aqui cheguei ao fim da tarde. Jantei, dormi, mudei de cuecas e zarpei para o campo do Montado com o Mau. Santiago ficou para trás, pois tínhamos que aproveitar a promoção de Verão deste campo, nas proximidades de Palmela. As primeiras impressões foram negativas, pois os acessos são muito difíceis e, ao chegarmos ao campo, está tudo muito desleixado, com ar de abandono e obras inconcluídas. Mas o campo é fantástico e estava muito bem tratado. O Mau jogou de caralho, fez shots incríveis. Nunca o tinha visto jogar tão bem, ainda por cima num campo desconhecido e com um calor a rondar os 40 graus C. Fez 39 pontos com um handicap 11!

Nesse dia fomos jantar a Setúbal, ao famoso Grelhador das Docas. Entrámos com um queijinho de Azeitão, muito bom, logo seguido de umas ameijoas à Bulhão Pato, enquanto esperávamos por um pregado de 1,5 Kg! A carta de vinhos até era boa, só que não tinha os vinhos que a gente pedia. Acabámos a beber um branco da Fundação Eugénio de Almeida que, apesar de não surpreender, era bastante agradável e estava muito fresco. Paguei eu, pois tal foi a aposta: quem perdesse em Montado pagava o vinho. Claro que paguei eu, como pagaria no dia seguinte, em Tróia, quando insisti com a mesma aposta!

No dia seguinte, fizémos a travessia de ferry para Tróia e, às 9:00 já estávamos no campo. É um magnífico link, muito bem tratado, com um enquadramento paisagístico excelente que eu já conhecia do ano anterior. As condições eram as ideais: sol, sem vento, mas com uma brisa marítima que impedia os calores excessivos da véspera. O Mau jogou de caralho, mais uma vez, e fez 40 pontos! E, no fim, ainda estava insatisfeito porque houve dois shots que lhe sairam mal! Eu fui regular, sem rasgos, com muita asneira, mas sem comprometer. Fiz 31 pontos.

Regressámos a casa com paragem em Alcochete. A ideia era provar o sushi do restaurante japonês do Freeport, mas estava fechado. Acabámos a tapear.

Quando regressei a Coimbra tinha no papo 5 campos, 4 dos quais em 4 dias consecutivos, desde Ponte de Lima até Tróia. É certo que não fui a Santiago, não cumpri a promessa, mas o santo perdoa-me, de certeza, dada a dimensão da proeza.


Sem comentários: