07/08/07

Pedro Juan Gutiérrez, Puro Habano!, por Grunfo



Tenho os livros do Pedro Juan Gutiérrez há anos em casa e nunca li nenhum. Em resultado de algumas recensões elogiosas na crítica nacional, optei por ir comprando os seus livros à medida que neles tropeçava na feira da pulga cá do burgo. Mas nunca li. De alguma maneira e sabendo que o escritor continua a viver em Cuba e sem ser preso, concluí que devia ser mais um homem do aparelho e que aquilo deviam ser mais umas novelas delicodoces com algum sabor a caribe. Enfim um charuto manhoso.

Qual quê! Aquilo é um Montecristo Puro Habano. Alta qualidade e um autêntico murro no estômago. Ao fim de quatro ou cinco páginas do Trilogia Suja de Havana tive que parar e ir à net investigar como é que raio é que o Fidel permitia aquilo. Pedro Juan não lhas perdoa. Atira a matar e revela-nos um lado sórdido, miserável e facínora que jamais imaginaríamos no paraíso cubano supostamente modesto mas contentinho. Contentinho o caralho! Leiam Pedro Juan e ficarão com outra Cuba na cabeça.

O Regime diz que é um escritor exagerado e declara-o proscrito. Não lhe edita uma linha e o escriba permanece incógnito e inócuo em Cuba. Mas devido aos prémios, à projecção e às vendas internacionais também não se atreve a tocar-lhe. Pedro Juan permanece em Cuba na sua açoteia arruinada e continua a escrever. À mão, que o regime não lhe facilita sequer um computador.

Quando foi feita a primeira edição do Trilogia Suja de Havana em Espanha e em 1998, Pedro Juan foi demitido de jornalista da revista onde trabalhava e desde então foi-lhe negada a possibilidade de qualquer outro trabalho na escrita em Cuba. Consegue viver apenas dos direitos de autor das edições internacionais.

Na sua escrita notam-se traços autobiográficos muito fortes. O pensamento político está arredado, mas a realidade cubana de miséria humana e material torna-o incontornável na cabeça do leitor. Há sexo farto e escabroso, num registo tipo Buckovsky e muitas referências literárias. De livro para livro nota-se alguma repetição, mas apesar de tudo a leitura é agradável, uma vez que as personagens de Pedro Juan lutam, resistem e raramente perdem a alegria de viver. Alegria de viver e sentido de humor, única forma de sobreviver num regime idiota que teima em negar a escrita a um escritor poderoso.

O homem continua a escrever e continua a editar cá fora. Acredita que o regime não lhe tocará. Acho que se engana. No mesmo que ele acreditavam, desde 1999, os 76 subscritores do Projecto Varela que defendia a liberdade de expressão. Em 2003 Fidel achou que era tempo de acabar com os brincalhões e os “terroristas” gramaram com 20, 30 e 40 anos de prisão maior e restrita. Na sua maioria escritores e jornalistas, estes desgraçados não podem sequer conservar os lápis e blocos de apontamentos que a família lhes traz. Mesmo presos e controlados não podem escrever. O regime sabe que a escrita é uma arma perigosa.

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