16/08/07

Um Dia De Trabalho E O Gajo Que Já Viu Comer Faisão, por Capitão Nemo

Ontem foi dia de trabalho. Como tal impunha-se por o corpo a mexer produtivamente, razão que nos levou a rumar ao interior, nomeadamente ao verde serrano. Chegados ao terreno, verificou-se que chovia bem. Mas a malta de trabalho não desiste à primeira. E pôs-se a mão à labuta. Um balde de bolas batidas e a chuva não amainava. Em Montebelo chovia demais para o nosso gosto. Autêntica cheia. Assim, não há trabalhador nem boa vontade que resistam. Após discussão violenta (o Nini não largava o ferro quatro), foi decidido largar o campo de Montebelo e rumar ao campo do Martelo. O Nini borregava e não queria. Teve que ser arrastado pelas orelhas, com um chinfrim do catano.

O novo campo, prometia com fair way largo e alto. As mãos já aqueciam e mal tivemos tempo para olhar o “green fee” quando a recepcionista nos disse que o campo estava em más “condições de higiene”. O Nini continuava a grunhir e marrar com tudo e todos.

Falhada esta tentativa seguimos para o campo da Póvoa do Dão, a contra gosto do Nini, que tudo disse de mal para evitar tal campo, desde o mau sabor do relvado ao preço do green fee, passando mesmo por criticar ferozmente as canelas da funcionária, que tinha avistado quando lá tinha ido há um século.

Enfim, foi difícil para mim e para o Mau suportar tanta maldizência, e pior mesmo só o Astérix a reclamar da falta de Romanos na floresta. Ultrapassada a teimosia do Nini entrámos mesmo no campo da Póvoa do Dão.

Olhámos para o green fee e escolhemos entrada de requeijão com doce de abóbora, carapauzinhos fritos com arroz de tomate, bacalhau com broa e lagarada de lombinhos, para sobremesa gelado de frutos silvestres da casa e, claro, mousse para o pica miolos.

Terminado o jogo e com os braços doridos apreciámos a lagarada de lombinhos com bom azeite, farto de alho e com boa batata a murro, e os carapauzinhos fritos, estes com falta de sal, e reprovámos o bacalhau. A entrada satisfez e o gelado notava-se não ser da Olá, tinha bom sabor a leite e estava ainda bem coberto de frutos silvestres em compota madura. Acompanhou-se a refrega com um Quinta do Cerrado, Encruzado, 2006. O fee ficou-se pelos dezanove euros a cada jogador. Cabe aqui realçar a beleza rústica do campo com paredes de granito espessas e bem decorado, salvo as cadeiras da Moviflor a destoar. O serviço foi bom tendo em conta que chegámos às 16h 15m.

Depois do jogo o Nini atirou comentário seco e positivo sobre a generalidade da prova e do campo. Estranhando a mudança de humor o Mau perguntou-lhe o que tinha comido da “outra vez”, ao que o animal de carga respondeu que tinha lá ido mas não tinha comido, foi só para ver e mal tinha entrado. Ainda agarrei na travessa vazia para lha enfiar na cornadura mas como isso iria aumentar o preço do fee evitei o acto ficando-me por um rol de impropérios ao solípede de serviço.

No fim fiquei a pensar naquela história do menino pobre que diz à professora que faisão é um bom petisco, e esta admirada com a diferença entre a miséria do puto e o preço do faisão lhe pergunta quando comeu o prato, aí este responde que nunca comeu, mas já viu comer.

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